03 - Caramelo

627 55 14
                                    

Point of View's Hana Morris Baek

    Nunca entendi direito a pergunta do Chapeleiro Maluco a Alice: Qual a semelhança entre um corvo em uma escrivaninha?
    Era realmente uma coisa que só um louco indagaria. Um pássaro e um móvel com algo parecido...? Jamais tive vontade de pesquisar porque acreditava que algum dia conseguiria descobrir por meio do meu intelecto. Só que agora esse pensamento está conseguindo me deixar com dor de cabeça.
    Minhas pálpebras pareciam pesar dez toneladas e a claridade na minha cara não ajudava - ao contrário, na verdade.
    Pisquei pelo menos umas cinco vezes antes de me deparar com o possível/provável médico mais lindo que vi e que ainda verei em toda a minha vida. Tudo bem, deve ter idade pra ser meu pai, mas isso não impede de eu elogiá-lo, afinal, só estou falando uma verdade.

    Era loiro, a pele branca como a porcelana da minha mãe, os traços perfeitos, sem nenhuma ruguinha, uma marca de expressão e os olhos... amarelos.
    Minha intuição quase berrou em meus ouvidos dizendo que havia algo por trás dessa coloração. A não ser que ele seja um parente da minha mãe porém essa possibilidade não era uma coisa a que eu dava crédito. Tinha que ter algo que causasse aquilo, nunca vi um ser humano ter um tom de ouro líquido em suas íris.
    A simples ideia de ser algo maior que a minha compreensão secou a minha garganta.

- Se sente bem? - o médico perguntou com uma voz suave e só então o cheiro frio de hospital me atingiu como um soco na boca do estômago. - Lembra do seu nome?

    Vi a roupa branca em mim e quase bati a palma contra a testa. Não é possível.

- Só tô um pouco cansada. - murmurei, tentando me sentar. Não interferiu e nem ajudou; podia estar avaliando se tinha capacidade pra ficar de pé - Meu nome é Hana.

- O cansaço é por causa da anestesia, Hana. - deu um sorriso de lado. - Tive que operar o seu pulso.

    Franzi a testa e vi a minha mão direita engessada. Travei o maxilar e voltei os olhos pra ele novamente.

- Como foi que...?! - balancei a cabeça em negativa e levei os dedos da mão boa a cabeça. Minha mãe ia me matar, com certeza. O pior é que não tinha ideia de como tinha feito aquilo. Obrigada, seja quem for que estiver aí em cima. - Como foi que eu fiz isso?!

- Não se lembra?

- Não. - confessei.

    Enquanto a indignação criava raízes no meu interior, o doutor examinou os meus olhos com aquela lanterninha - sei lá o nome daquilo - e indagou-me coisas como onde eu morava, se tinha me alimentado direito. Tentou me distrair do fato de eu estar encrencada quando um certo alguém perguntasse como eu era tão desastrada a esse ponto.

- Você tem sintomas de anemia. - olhou uma prancheta e virou uma folha. - Faz uso de medicamentos pra tratar?

- Sim. Uso também remédios pra ansiedade.

- Tem que parar de abusar dos doces. - soou paternalista demais e tentei não pensar no pai que não cheguei a conhecer. - Se não vai ter que fazer uma reeducação alimentar e nada deles.

- Tudo bem.

- Seu pulso precisa ficar engessado por pelo menos um mês. Volte aqui depois desse tempo e vamos fazer um raio-X pra ver se está calcificando direito, sim? Ah e o seu machucado na boca já deve estar fechado; passei uma pomadinha sem gosto pra ajudar.

    Assenti com a cabeça passando a língua no local, só a título de curiosidade mesmo.

- Se precisar de qualquer coisa, pode me procurar aqui ou pedir pra um dos meus filhos passar o seu pedido. Meu nome é Carlisle Cullen.

Lua Crescente - twilight ◐Onde histórias criam vida. Descubra agora