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Sexta-feira, Montreal, Canadá

Josh Beauchamp

Chego na empresa com uma puta dor de cabeça, resultado da noite de ontem. Apesar de ter ficado na casa da Any por uma hora, eu percebi o quão cansada ela estava, e, sabendo que ela é educada demais para me mandar embora, eu inventei que tinha que ir, só que acabei parando no velho bar de sempre. Eu só queria estar em qualquer lugar que não fosse minha casa, eu não queria ouvir dizeres e mais dizeres bonitos e preocupados enquanto minha mente se enche de paranóias e receios. Eu to cansado de ouvir sempre a mesma coisa, cansado dos abraços e dos meus pais me tratando como uma criança mais frágil que porcelana.
Eu não gosto de beber em dia de semana, assim como não gosta de fazer várias coisas que só faço porque sou um jovem revoltado, como Dylan me lembra todas as oportunidades que tem. Estou pouco me fodendo para o que pareço ser agora, muito menos me importando para sermões que não mudarão as coisas. Não importa o que eu faça, que caminho eu escolha seguir, as coisas vão continuar as mesmas, não vão mudar.

Passo pela recepção do meu andar sendo fitado por quase toda a empresa, provavelmente por usar óculos escuros às oito da manhã em um lugar onde o sol mal entra.

— O que você tá fazendo aqui? – pergunto puto ao Dylan, que está na minha sala, sentado na poltrona em frente à minha mesa.

— Ressaca de álcool ou tá tentando esconder o olho vermelho da maconha? – ele pergunto ao me ver usando os óculos.

— Não te interessa – caminho até minha mesa, colocando meu celular e carteira sobre ela. — O que você tá fazendo aqui, Dylan?

— Vim falar sobre a feira – ele me olha com desdém ao tirar os olhos — Temos uma reunião com a equipe de marketing às dez, vê se não se atrasa dessa vez.

Os toques na porta me impedem de mandar meu primo ir se foder. Eu ordeno que quem bate entre.
Any aparece com um sorriso no rosto, que é logo desfeito quando ela vê Dylan.

— Vim te entregar isso – ela parece envergonhada com o olhar do meu primo sobre ela. A garota me entrega o pingente do meu cordão, que eu deixei cair ontem no seu apartamento, e não conseguimos achar na hora.

— Obrigado, senhorita Soares – pisco para ela.

Não posso fingir que não gostei de passar horas com ela ontem, não só discutindo sobre o projeto para a feira, mas, também, nosso jantar na sua casa. Any é mais divertida do que aparenta ser, ela só se esconde atrás de um escudo que acredito ter surgido depois de algo que viveu no passado, pela forma como ela retrai as sobrancelhas e reprime os lábios sempre que fala do Brasil. Sim, consigo ser observador.
Foi bom conhecer ela um pouco mais do que eu conhecia.

— Oi Any, passei na sua mesa quando cheguei, você ainda não estava lá – Dylan levanta para cumprimentar a garota.

— Desculpa por desmarcar ontem, eu tive que resolver umas coisas – Any olha para mim ao dizer a última palavra.

— Tudo bem, trabalho em primeiro lugar – Dylan tenta usar do seu charme com ela, que não parece ligar muito.

— Vocês podem resolver isso lá fora? Estou tentando trabalhar – abro meu sorriso debochado.

— Desculpa – Any se desculpa, como faz o tempo todo.

— Não se atrase, Josh – é a última coisa que Dylan diz antes de sair com a garota da sala. Olho eles indo embora pelo vidro da minha sala.

Abro meu computador, procurando pela avaliação que meu pai me mandou pelo e-mail. Pela hora que eu cheguei ontem e o horário que acordei hoje, nós acabamos não nos esbarrando em casa, como eu queria.

LAST CHANCE {beauany}Onde histórias criam vida. Descubra agora