"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que o homem que amo seja pra sempre amado
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade
Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a uma mulher inundada de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo
Que essa minha brusca partida
Se transforme na calma e na paz que você merece
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Que o espelho reflita em seu rosto um doce sorriso
Porque metade de mim é a lembrança de ti
Mas a outra metade, não sei.
Que você um dia com boa vontade me perdoe. Escrevi essa carta para falar o que seus ouvidos não poderão escutar de minha boca. Agora que você está seguro, eu posso partir. Mas, mesmo que me vá, ainda sobra um pouco de mim. Nas suas lembranças. No cheiro de café. No banco do parque. Em poemas que você recitará para nós. Lembrará de mim quando a chama do fogão estiver vermelho vibrante. Que essas lembranças não sejam com dor. Agora descanso nos braços da morte. Mas mesmo deitada aqui, ainda é você o meu único amado. Perdão. Entenda que eu jamais poderia existir se fosse para te ferir.
Independente de tudo que você escutará.
Mesmo que no começo não tenha sido amor.
No fim era a única coisa que existia.
Eu amo você."Maison paralisado agiu no automático, desceu correndo as escadas. E o resto do seu dia foi motivado em encontrá-la. Nada. O endereço de sua casa, estava errado. A escola que ela disse estudar, nunca se matriculou. Caçou nos lugares conhecidos. E quando não sabia mais onde procurar retornou ao seu lugar. Aquele banco velho. Voltou para casa já no fim da tarde, pretendia ligar para a polícia ao chegar, mas foi surpreendido. Sua mãe em prantos o recebeu com um abraço. Seu pai que não era tão afetuoso, tentava medir as palavras. Ele sentiu o frio. Era notícia em todos os jornais, o corpo mutilado de uma jovem encontrado boiando na praia. Nos rochedos diversas marcas de sangue. A garota que se jogou nas pedras. Instantaneamente seus olhos se acinzentaram. Morto também. Os meses que vieram passaram por sua janela, e ele nunca olhou para ver lá fora. A investigações concluíram a que a causa da morte foi suicídio. Não fazia sentido. Não para ele. E 2 anos depois a polícia que já investigava a alguns anos um grupo responsável por colecionar uma pilha de vítimas, chegou até aquele fato.
Nas notícias: Um grupo atraia vítimas jovens para sacrifícios. Usavam outros de suas idades, eles escolhiam e estudavam o alvo. Preparando tudo.
Catarina não conheceu Maison ao acaso. Ela foi sua sombra durante as semanas anteriores ao encontro, aprendeu sobre o que os locais que ele gostava de ir, sobre o que gostava de ler. Mas, algo deu errado.
Era para ser só mais um entre os vários, e para ela não deveria haver dificuldade. Desde seu nascimento já era usada como isca. Foram tantas presas fáceis. Tudo nela foi esculpido para encantar e depois trair. Esse era o seu mundo. Talvez aquele jovem tivesse escalado o seu muro, foi o primeiro a não reclamar do frio.
Os membros que foram presos relataram que a jovem implorou que ele fosse poupado, e como uma troca ela daria sua vida. E assim foi feito. Acreditam eles que agora ela caminha no paraíso. Qual paraíso? Eu não sei.
Maison, agora era mais um cadáver do que homem, envelheceu um pouco. O suficiente para não aguentar mais. Cortou os pulsos aos 60 anos na banheira do seu quarto. Sem esposa, sem filhos, sua única família era a irmã mais nova que sempre voltava para visitá-lo na casa antiga. As vozes da cidade falam que todos os dias ele ainda esperava sentado no mesmo banco, independente do clima. Sempre esperando por ela.
Poderia o leão se apaixonar verdadeiramente pelo cordeiro, poupa-lo e ser devorado em seu lugar?
Maison nunca superou Catarina.
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Dor de verão.
Короткий рассказNo final sempre restará uma dúvida: Catarina fez por amor ou planejou feri-lo de uma forma muito mais dolorosa?