•° 𝙏𝙤𝙤 𝙂𝙤𝙤𝙙 𝙩𝙤 𝘽𝙚 𝙏𝙧𝙪𝙚 - Kimimaro & Juugo•°

•°too good to be true•°

     Hoje irei contar como o destino me deu o mundo, e logo depois o roubou de mim.

     Desde os primórdios de minha vida sempre fui rejeitado, isolado, perturbado. Tinha como companhia apenas o cantarolar dos pássaros. Foi assim que vivi todos os meus anos, exceto um. Desde criança costumavam me julgar como uma máquina de destruição em massa, o "Bipolar" Juugo, uma aberração da natureza. Eu não podia suportar tudo aquilo. Não existia hora, lugar ou situação: simplesmente não tinha controle sobre minhas emoções e me tornava um ser abominável e impiedoso, capaz de aniquilar qualquer forma de vida que aparecesse em minha frente. Não existia uma alma viva no mundo ninja que não me conhecia pelo livro bingo.

"Você já ouviu falar de um monstro que extinguiu uma vila inteira?"

     A culpa por ter matado todas aquelas pessoas inconscientemente me dominava como pesos em meu pescoço. Meu dom era minha maldição: uma força interior que vinha a tona sem meu consentimento, capaz de proteger meus aliados e condenar meus inimigos. Mas eu simplesmente saía de mim, sem poder distinguir os dois. O fracasso por ser incapaz de controlar meus poderes foi o motivo do qual eu decidi me deixar a mercê de Orochimaru. Foi o único jeito de me sentir controlado ou talvez fosse uma mera desculpa para me tornar útil, afinal, como ele mesmo me nomeou, eu era sua cobaia favorita. Mas aquilo já me desgastava demais dia após dia, e foi este o pretexto para voltar a morar na escuridão das cavernas.

     Tudo começou em mais um dia lindo de verão do qual eu não podia desfrutar. Naquela manhã vazia como todas as outras, uma nuvem de pensamentos escuros me invadiu. A tristeza de minha existência era tão profunda que me fez perder o controle de todos os sentidos.

     "Vou acabar com isso de uma vez e vai ser agora" - Pensei. Eu estava prestes a me entregar ao meu demônio interior, entregar minha própria vida nas mãos do monstro que eu mais temia: à mim mesmo.

     Mas de repente ouço uma voz vinda da entrada da caverna. Quem seria o tolo de tamanha coragem a vir de encontro a mim?

     - Ei? Onde está você? Já desistiu de ser a cobaia perfeita? - Escutei uma voz na entrada da caverna. Familiar.

     Com receio, respondi com certa firmeza na voz:

     - O que está fazendo aqui? Por acaso perdeu o amor à sua vida? Vá embora antes que as coisas saiam do controle. - exclamei como resposta ainda sem olhar lá fora.

     - Eu não tenho medo de você.

     Meu sangue ferveu e eu estava sentindo a raiva me consumir. De novo não. Corri por impulso para a entrada da caverna já parcialmente transformado e espumando ira, foi quando avistei aquele ser de olhos verdes e pinturas vermelhas em sua face. Ele me olhava com ternura, algo que me surpreendeu. Nunca vira este olhar para mim antes, ele não parecia ter medo, apenas compreensão. Me aproximei para atacar e ele me segurou pelo braço e me olhou nos olhos.

     - Shhhh... Não se preocupe, eu não te abomino. - Essas foram suas palavras antes de me dar um abraço e acariciar meus cabelos.

      Seu ato foi inesperado e me deixou totalmente confuso. Continuei em estado de choque sem saber o que fazer, nem me dei conta de que já havia voltado ao estado normal. Ele havia me contido com um simples toque e olhar. Era uma nova sensação.

     "carinho?"

     - Qual é o seu nome? - Lhe perguntei me afastando.

     - Kimimaro.

     - E... O que te trouxe até aqui? O que quer comigo? - Como ele pode não me abominar? Muitas perguntas rondavam em minha cabeça, mas eu tinha tempo o suficiente para ouvir a resposta de cada uma delas.