03: ipdong

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Dor e tristeza também podem se tornar um caminho
por Lee Chul Hwan

"Percebi isso depois de muito tempo de dor.
Essa dor também pode se tornar um caminho.
Não há vida onde não sopra vento.
O vento deve soprar, para que a árvore se enraíze profundamente dentro da terra,
para que não caia.
É por isso que o vento sacode as árvores.
É por isso que o vento sacode a todos nós.
A dor também pode se tornar um caminho.
A tristeza também pode se tornar um caminho."

★⋆.ೃ࿔*

A SONORIDADE do bater das mãos apressadas contra a madeira alcançou os ouvidos, entrou e saiu tão rapidamente quanto a troca de uma estação a outra. O clima lá fora era ameno, mas o apartamento parecia congelar sem qualquer explicação, como se a porta da geladeira houvesse passado o dia escancarada e ventilasse por todos os cômodos, sem exceção. Minho era como um cômodo vazio, congelado constantemente pela frieza diária do mundo e aquecido pelos resquícios restantes de um verão que uma vez habitou em seu coração exultante. Embora o inverno fosse predominante e evidenciasse suas influências em cada cair de folhas dolorosas, ele ainda era um equinócio ambulante. 

A chuva era recorrente e mostrava-se tão cortante quanto a gelidez da corrente em seu peito. O desaguar de águas era comum na estação, mas a cada inverno soava mais dolorosa, necessitando de uma força descomunal para deixar cair uma única gota, ainda que a nuvem responsável pelo fenômeno estivesse escura, carregada de sentimentos pesarosos o suficiente para fazê-la estourar; mas as gotinhas caíam pouco a pouco, no conta-gotas dos olhos sangrando, e logo tratava de inundar o coração, na tentativa inútil de descongelar o pedaço de gelo que se formou ao redor e que custaria para lapidar depois. 

As vozes desesperadas podiam ser ouvidas mas eram firmemente ignoradas. Minho não queria ver ninguém, quanto mais ser o motivo de alguém. Estava exausto de todo aquele clima desconcertante, da amenidade que não passava e dos pensamentos tão frios quanto o clima em questão. Ele estava cansado do inverno, consequentemente, estava cansado dele próprio, e esse sentimento também cansava, tanto quanto a força descomunal que utilizava para descansar os olhos escaldantes, mergulhados constantemente na bacia de água morna que encheu inconsciente; ela derreteu suas lentes de contato e comprometeu sua visão de mundo. 

Ele não soube como chegou àquele estado; como endureceu tão rápido quanto a água na garrafa meio cheia posta no congelador. Queria que o tempo pudesse congelar também, assim como a sua mente. Ela sequer obedecia aos seus comandos, nem tampouco voltava a amenidade. Pouco a pouco, ele se entregava a sua montanha russa de emoções. E, no momento, seu carrinho estava parado no topo do brinquedo, proporcionando uma vista aterrorizante para alguém que odiava descidas e subidas muito rápidas. Minho tinha medo de altura. 

Sua ação mais sóbria daquela manhã foi impulsionada pelos resquícios restantes de uma estação que parecia ter sido guardada no fundo de um porão obscuro. A porta do apartamento estava aberta. Fazia calor lá fora, mas ele não se sentiu acolhido, nem tampouco acalentado pelo corpo celeste poente. A ilusão interior criada por seu subconsciente sobressaía até mesmo à realidade vivida, como num passe de mágica errado e com consequências drásticas. 

─ Minho... ─ A voz de Jisung se cortou tanto quanta a temperatura cortava o verbo em questão. Estava sem forças, sem timbre; a frequência, baixíssima. Mas o coração era o mais prejudicado do processo, costurado recentemente; e os remendos doíam. 

─ Vai embora, por favor. Eu quero ficar sozinho. 

─ Você quer ficar sozinho mesmo ou só não sabe lidar com companhia nesses momentos? ─ Minho não respondeu. ─ Escuta, vai ficar tudo bem. 

Jisung secou suas lágrimas, uma por uma. Os mesmos dedos que acariciavam suas mãos no verão roçavam em suas bochechas gélidas no inverno. Minho sentia o seu calor mais forte do que nunca, tanto quanto na primeira situação. 

─ Me diz: o que você está sentindo? ─ perguntou com doçura nos olhos. Como alguém poderia manter um olhar tão compreensivo? Ou melhor, como alguém poderia se preocupar tanto com ele? Desta vez, Minho não pensou demais, apenas o suficiente para saber que sua mente ainda trabalhava, ao contrário do que pensou por minutos conseguintes. 

─ Eu não consigo mais. Acho que já cheguei ao meu limite a muito tempo, mas hoje eu sinto... ─ Minho se perdeu nas palavras quando buscou novamente pelo olhar compreensivo de Jisung. Sua testa estava franzida e evidenciava a pequena cicatriz triangular situada ali. 

─ Desde que nos conhecemos você teve três invernos e sobreviveu a todos eles. Não é o fim, vai passar, e enquanto não acontecer, eu vou ficar com você. 

─ Você não vai me arrastar para longe na primeira oportunidade, vai? 

─ Não, amor. Eu definitivamente vou ficar aqui com você. 

Minho agarrou os braços de Jisung como se sua vida dependesse disso – e realmente dependia. Seu toque caloroso e acolhedor era o suficiente para sentir que tudo valia a pena novamente. Desde que tivessem a companhia um do outro, nada estava perdido.  

Assim que se permitiu abrir os olhos marejados, flutuantes num oceano vasto e de ondas sigilosas, ele não viu ninguém além do seu reflexo distorcido no espelho, que retratava o quadro que ele mais queria esquecer: a solidão iminente, coberta por rabiscos amadores de um abraço caloroso; um consolo que almejava ter em cada lágrima derramada. 

Ele estava sozinho com o próprio inverno. 

seasonal love ★ minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora