04: chunbun

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Nós
por Lee Ji Hyun


"Você é primavera e eu sou as flores.

É por isso que eu não consigo nem ver as flores de cerejeira.
Eu sou primavera e você é as flores.

É por isso que você é tudo que eu posso ver.

Nós somos os campos de flores e somos primavera."

★⋆.ೃ࿔*

QUANDO SE APAIXONOU, Minho era primavera, e alimentou com flores as borboletas famintas em seu estômago ─ causas intangíveis por seus sintomas gastrointestinais serem tão recorrentes quanto o bom humor matinal. A brisa era suave e dançava conforme o movimento ritmado das madeixas flavescentes de Jisung tomavam a estação fatídica para si num abraço caloroso, e encoberto de sentimentos tão palpáveis e numerosos quanto as inflorescências do miolo de uma margarida singela.

No disco arranhado do carro enferrujado, juras de amor poderiam ser ouvidas em todos os cantos do mundo, levando para longe o declarar de suas poesias. A estação predominante era sustentada por sorrisos genuínos e carícias que uma hora se tornaram muito mais que um acariciar macio de mãos trêmulas; tornou-se um verdadeiro acariciar de almas inquietas, que se confessaram tão apaixonadas quanto o coração pulsante, bombeando no mesmo ritmo que as pupilas dilatavam, seguindo uma sonoridade particular, só deles.

Com o tempo, Jisung percebeu a existência de mais três estações e aprendeu a lidar com elas tanto quanto lidava com a primavera; com o maior amor do mundo. Afinal, ele era a definição perfeita de um amor-perfeito, sobrevivendo a cada equinócio caloroso e solstício rigoroso. Minho era uma junção quase perfeita de todas as estações, e desde que o amava, amava todas elas também, sem exceção.

O campo de flores de cerejeira, que acomodou seus pés descalços e cocegou suas peles mornas desde cedo, dançou conforme o ritmo da brisa primaveril. Era a primavera cumprimentando com cordialidade todos os amantes de sua formosura e das pessoas que comparavam com ela. Minho e Jisung eram a primavera e as flores de cerejeira um do outro, e desde que tinham um ao outro, não enxergaram nada além de si mesmos.

─ Dizem que são cinco centímetros por segundo, a velocidade com que uma pétala da flor de cerejeira cai. ─ Minho comentou, extasiado pela sensação que tomou seu coração ao retomar na memória a primavera que lhe apresentou Jisung. ─ Se você é mesmo a minha flor, eu não quero ficar nem um centímetro longe de você.

O cair das flores era belíssimo e formava um tapete perfumado no chão escaldante. Mas, de alguma forma, o cenário lhe lembrava a neve; e ela, a estação que mais odiava. Ele tinha medo de ser primavera hoje e não haver mais outono ou verão para ser amanhã. Se tinha um medo, era este: virar um inverno eterno, que nem seu amor-perfeito pudesse suportar.

─ E se a primavera findar e o inverno voltar de novo? ─ perguntou temeroso, sentindo nas mãos as pétalas macias mantendo seu calor.

─ Eu estarei com você novamente, até que ela volte.

Quando seu namorado sibilou meia dúzia de palavras bonitas e contemplou o sol poente sem desgarrar de suas mãos trêmulas, Jisung sorriu, aliviado; contente pelo conhecimento de que, apesar de Minho ser uma junção quase perfeita de todas as estações, seu íntimo revelava apenas uma. Porque, no fundo, ele era primavera, mas às vezes precisava ser inverno para saber se enfrentar.

★⋆.ೃ࿔*

No fundo, acredito que todos nós somos uma junção de todas as estações. Ninguém é cem por cento caloroso como o verão, muito menos cem por cento rigoroso como o inverno. Às vezes, chove forte no primeiro e faz mais calor que de costume no segundo. Você não precisa ser primavera todos os dias para se identificar como ela. Até as estações tem suas exceções, por que não podemos ter as nossas?

O verão seria aquele dia que acordamos alegres, sem ao menos sabermos por que, mas que vai embora tão rápido quanto chega. O outono, a transição da felicidade para a tristeza, carregado de questionamentos que não fazemos normalmente. O inverno representava a tristeza, o vazio da alma, tanto que, mesmo que o Jisung estivesse por perto, o Minho sentia como se estivesse sozinho. As estações dele são apenas um reflexo da sua inconstância, e a primavera, sua verdadeira essência.

Não se culpem por passar mais tempo numa estação que em outra. Assim como falei acima, às vezes precisamos passar por situações e vivenciar certos sentimentos para saber nos enfrentar, para nos conhecermos melhor e saber quem somos de verdade. Tenham sempre em mente que depois que o inverno se findar uma linda primavera tratará de se fornar. Nem tudo na vida é um verão caloroso, assim como nem tudo é um inverno rigoroso. As exceções existem, e nós somos um retrato perfeito delas.

Eu, como uma estação ambulante e outono boa sorte do tempo, posso garantir que tudo ficará bem e que ninguém está sozinho com seus sentimentos. Assim como o Minho, todos temos um amor-perfeito que resiste a todas as estações e está conosco em cada troca delas. Ela pode ser um amor estacional, mas também pode ser um amigo, alguém da sua família, dentre outros. O amor é abrangente demais para resumi-lo a apenas uma forma de amar.

seasonal love ★ minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora