Festa do outro lado

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- Sarah, você não tá falando sério. - apoio minhas costas no Jeep prata e olho pra minha amiga loira com a chave do carro nas mãos e um sorrisinho no rosto.

- Eu nunca falo nada sério, Kie, mas é verdade. - ela olha pra mim e abaixa os óculos escuros.

- Então tá. Vá em frente e se divirta-se com os Pogues. - digo balançando a cabeça e desencostando do carro para que ela entrasse no banco do motorista.

Quando se tratava de Sarah eu não insistia. Ela colocava uma ideia na cabeça e não tirava até que estivesse satisfeita, era assim desde que nós nos conhecemos e não seria diferente agora.
Eu fiquei um pouco preocupada quando ela disse que iria pro outro lado da ilha se meter em uma festa de Pogues, mas era Sarah Cameron, ela sabia se virar até mesmo nas situações mais complicadas e eu já tinha tido vivido muitas delas pra saber. A loira conseguia qualquer coisa com um sorriso e a determinação ferrenha e eu ajudava de vez em quando com um pouquinho de persuasão. Nunca falhava.

- Onde você tá indo? - Sarah chamou dentro do carro enquanto eu caminhava em direção ao meu bairro.

- Pra casa. Não se meta com os meninos grandes, Cameron! - apontei pra ela e virei de volta rindo.

- Espera, Kie! - Sarah saiu do carro e veio correndo em minha direção. - Vamos nos meter com os meninos grandes juntas! - ela me puxou em direção ao carro enquanto relutava.

- Sem chance!!! Já me meti em problema demais desse lado! - disse lembrando da vez em que Rafe, irmão da Sarah, passou a mão na minha bunda e eu dei um chute no saco dele tão forte que ele quase desmaiou, depois disse que a culpa não era dele se eu andava por Outer Banks com "shorts tentadoramente curtos", então ele acabou com um olho roxo. O imbecil ainda teve coragem de correr pro papai e falar que eu havia agredido ele injustamente. Tudo isso terminou no meu pai me dando sermão e um mês sem poder surfar.

Fui arrastada até a porta do passageiro e parei antes que Sarah me empurrasse para dentro. Ela olhou pra mim e fez beicinho.

- Vaaaamos, Kie! Não vai me dizer que o seu lado Pogue não chama você pra viver intensamente do outro lado da ilha?

Você nem imagina, quis responder. Eu pertencia a vida Pogue tanto quanto Topper Thornton pertencia aos Kooks. Ele amava aquele estilo de vida luxuoso e sem responsabilidade. Comigo era um pouco diferente, nem sempre fui uma Kook, na verdade, eu nunca quis ser, porém os negócios do meu pai foram muito bem e logo nós migramos pra Figure 8 e ele mergulhou nesse mundo de clubes chiques e iates caros, minha mãe ficou deslumbrada com tudo aquilo e para ela, obviamente, foi fácil demais se adaptar à nova vida.

Não foi nada fácil pra mim, no começo eu fugia da escola de riquinhos e ia pra praia olhar as pessoas surfando, quando fiquei mais velha fugia pra surfar, até meu pai me pegar pulando a janela com lágrimas nos olhos e combinarmos que eu poderia ir se eu prometesse contar antes. Acho que ele viu o quando eu sentia falta da velha vida.

Então eu conheci Sarah e eu evitava ela o quanto podia no início. Quando olhava pra aquela menina com a mechas loiras brilhantes e o sorriso branco, tão satisfeita com a vida boa que levava, eu vi a personificação de tudo o que eu queria longe.
Mais tarde eu descobri que Sarah odiava aquela vida tanto quanto eu, ela era muito livre, muito apaixonada e me dizia que todas aquelas pessoas esnobes só pensavam em dinheiro e status, Sarah queria mais e nem todo o dinheiro do mundo poderia pagar pelo o que ela queria.
Aos poucos nos tornamos muito amigas e eu esqueci um pouco do Cut e meu passado...

Mas não o suficiente.

Sarah ainda olha pra mim esperando uma resposta.

- Eu amo aquele lugar, não é só por diversão. - senti que precisa falar aquilo.

Outer Banks - Do outro lado da ilha Onde histórias criam vida. Descubra agora