O N E

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Assim que os talheres atingiram o assoalho da cozinha Perrie lançou um olhar furioso à filha. A loira prometera mais cedo naquela manhã sentar-se com a garota para tomarem a primeira refeição do dia, mas, uma ligação vinda do patrão da mulher atrapalhara seus planos. O que supostamente seria um telefonema rápido tornou-se em uma pré-reunião deixando a pequena e travessa Aubrey, ociosa.

— Mark, me dê um segundo, sim? — Suspirou a mais velha antes de por o celular contra a o colo e virar-se em duração da filha — Quantas vezes pedi pra que você parasse de rodopiar esses malditos garfos?

— Algumas? — Respondeu-lhe enquanto pegava-os do chão

— Muitas vezes.

— Desculpe, mamãe — Lançou à mais velha um olhar piedoso enquanto enfiava um dos garfos recém colhidos do chão na torta de limão a sua frente.

— Aubrey! — esbravejou Edwards — O garfo acabou de cair no chão, você não deve colocá-lo na comida!

—  Relaxa! Aposto que fui mais rápida que os germes — Revirou os olhos azuis com a boca coberta de chantilly como se estivesse constatando o óbvio.

Perrie pôs as duas mãos sobre  a bancada da pia esticando a cabeça para trás e suspirando fundo.

— Vá pegar sua mochila.

— Mas ainda não deu a hora — Deu de ombros

— Será que é muito difícil me obedecer, Aubrey?

A menina ficou em silêncio e foi escorregando devagar da cadeira até alcançar o chão, bateu as mãos sujas na saia prensada do uniforme e correu escada a cima.

— Não co... — Tentou alertar enquanto levava o telefone de volta ao ouvido e enfiava uma torrada na boca. Murmurou um palavrão que acabou sendo ouvindo pelo patrão — Oh, desculpe senhor Bureau, não estava lhe xingando é só que, minha filha é uma tremenda desordeira. É, eu sei. Quanto ao projeto, discutimos aí quando chegar ok? Obrigada. Até breve.

Desligou a ligação e jogou o aparelho sobre a mesa, havia sido uma semana estressante. O prazo final da entrega do projeto para o shopping local estava cada dia mais próximo e quanto mais perto chegava mais problemas apareciam, além de que a mãe não parava de importuna-la sobre o casamento com Alex e para ajudar Aubrey havia arranjado confusão com uma garotinha de sua classe, resultando em uma advertência, um grupo de mães revoltadas e fios de cabelos pretos espalhados pela blusa do colégio. Ela sequer teve tempo de advertir a filha ou ao menos perguntar o que havia acontecido, apenas trocou algumas palavras dentro do carro e reforçou que violência nunca resolvia nada.

Não era como se não se sentisse culpada por tudo aquilo, pelo pouco tempo concedido a filha ou a família, mas era ela quem os mantinha de pé através do trabalho árduo. Fora mãe aos 19 anos, o pai de Bree a enchera de promessas, mas, deu o fora assim que a pequena completou três meses de vida. Ele ainda cumpria com as visitas e pensão, que não passava de um valor simbólico, porém nunca movera um dedo para ajudar Edwards na criação da menina. Para ela, ele era apenas o pai da criança e o primeiro e último homem a partir seu coração. A loira levou tão a sério essa promessa que fora somente 4 anos depois do ocorrido que abrira-se novamente para outras experiências, conhecendo assim Alex, o recém noivo, a quem amava muito mas que muitas vezes a fazia sentir-se obrigada a assumir um compromisso maior do que poderia aceitar. Mas afinal, quem mais iria amá-la se não ele? ninguém gostaria de comprometer-se a uma mãe solteira. Pelo menos era isso que pensava Perrie.

Não demorou até que a campainha tocasse e a loira afastasse seus pensamentos.

— Graças a Deus, Leigh Anne — Disse enquanto abria a porta e abraçava forte a melhor amiga — Pensei que não viria mais, já estava à beira de um ataque de nervos.

— Podemos pular essa parte,  já sei que sou não só o seu braço esquerdo como direito e que sou extremamente maravilhosa por ter concordado em abdicar do meu lindo dia de beleza pra levar sua filha no passeio da escola que você deveria estar levando.

— Já disse que te amo hoje?

Ela ignorou a resposta, sentou-se no sofá e folheou uma das revistas em cima da escrivaninha.

— E cadê a Bree? — Perguntou.

— Já deveria estar aqui. — Perrie olhou impacientemente para o relógio enquanto sentava-se e bebericava da xícara de café, chacoalhando a perna esquerda.

— Babe?

— Sim?

— Você vai acabar morrendo de um ataque cardíaco prematuro — Pôs a mão sob a perna da amiga que movia-se em ritmo frequente — Larga essa xícara de café, e por Deus, durma.

Perrie pensou em retrucar, mas assim que abriu a boca para dizer algo, a filha passou em disparada pela sala de estar fazendo o maior barulho com as rodinhas da mochila.

— Tia Leigh! — Jogou-se no colo da mais velha dando-lhe um abraço apertado

— Minha pirralha favorita! — A encheu de beijos e cócegas.

— O que você faz aqui tão cedo? — A pequena recuperava o fôlego e arrumava os fios de cabelo enquanto falava — Achei que só viesse pra festa da mamãe e do namorado — revirou os olhos, arrancando risadas e um olhar de repreensão de Leigh Anne. — O que foi? ela nem viu — cochichou

E não havia visto mesmo.

— Noivo, Bree — A corrigiu — Ele agora é meu noivo.

— Tanto faz.

— Pera aí, não gostei nada desse tom, mocinha — A loira agora fazia questão de fita-la. Leigh fez o mesmo.

— Desculpe, mamãe. — Disse mordendo os lábios.

— Tudo bem. — Abraçou-a ainda no colo de Leigh — Agora, você tem que ir se não vai chegar atrasada para o passeio. Não se esqueça de obedecer a tia Leigh. — Tomou mais um gole de café.

— Mas não era você que ia me levar? — Bree levantou a cabeça, olhando para mãe.

O tom de voz usado por ela era de quem acabara de ser pega de surpresa, Perrie havia quebrado sua segunda promessa naquela manhã, era um novo record.

— Meu docinho, a mamãe...

— Você está ocupada. Eu entendo.

— Mesmo?

— Uhum. — Chacoalhou a cabeça positivamente — Vamos, tia Leigh — ergueu-se e pegou a mochila, saindo do colo da mãe e indo diretamente para a porta.

Leigh Anne fez o mesmo enquanto encarava a amiga, desapontada por não ter avisado a pequena antes.

— Não vai nem se despedir? — Perguntou Perrie à filha.

— A gente se vê mais tarde — Respondeu dando-lhe as costas — Tenha um bom dia no serviço, mamãe.

— Divirta-se no passeio, meu amor. — Acenou de longe

— Você ainda vai perder essa garota, Perrie — Cochichou Leigh Anne, antes de sair porta a fora.

Por mais decepcionada que estivesse com a mãe, Aubrey Elizabeth Edwards-Malik, sentiu em seu coração que algo bom aquele dia ainda tinha a lhe oferecer.

THE LIBRARIANWhere stories live. Discover now