Capítulo 1

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Um zumbi invadiu o quarto e caminhou pela escuridão. O protagonista tentava conter a respiração para não ser flagrado.

— Eu adoraria que o mundo acabasse com zumbis. — Joe refletiu, enquanto a cena continuava na TV.

Juliana estava com a cabeça desabada em seu peito, totalmente confortável, enquanto os dedos do rapaz roçavam entre os fios de seu cabelo.

— Eles são lentos e moles. Seria divertido como brincar de pega-pega no recreio do primário.

— São lentos, mas são muitos. — Juliana se remexeu sem sair de onde estava.

Por um momento, Joe desviou os olhos da Tv e fitou o corpo dela. Suas pernas eram lisas, seu cabelo cheirava a creme e seu pijama de um pano fino. Ele sabia como fazê-la desistir de sua série favorita por um orgasmo.

Mas acordou.

Seus olhos se abriram mais rápidos do que a aceitação em seu coração de que aquele sonho fora só uma lembrança de meses atrás. Estava no mesmo lugar, inclusive, com a diferença que sua paixão de verão não estava mais ali, nem a claridade que vinha da janela. Somente uma vela no armário, fazendo a sombra de um boneco de borracha dançar de forma assustadora na parede à sua frente.

Juliana fora para Joe a mão que o puxou de um afogamento no mar.

Se conheceram um ano antes. Na plataforma da antiga estação de trem. Era uma tarde não tão fria como nos dias atuais, mas o suficiente para que o sobretudo que usava fosse bem visto.

Encostava-se numa coluna de concreto, observando a pouca movimentação embaixo de um sol que não vencia o inverno. Não era fumante, mas fumava. Se dera o direito naquele dia, e somente naquele dia. É o que pessoas solitárias fazem de vez em quando.

Um pombo havia pousado nos trilhos, a procura de alimento. Joe sentia que sua visão havia adquirido um tom preto e branco há algum tempo e perdera até mesmo o prazer em comer ou estar em locais agradáveis. Tudo isso lhe causava a mesma sensação de estar deitado na cama, observando pela luz da janela mais um dia que chegava e partia.

Temia intimamente que esses dias sem cor alcançassem os fins de semana que passava com os filhos.

Esse pássaro sou eu, convenceu-se. Não se importa mais com os cuidados de estar vivo. Não vive, sequer sobrevive, apenas existe. Com um vazio no peito do tamanho de Deus.

Arremessou seu cigarro na direção do pássaro. Ele se assustou e bateu asas para metros adiante, pousando na plataforma oposta e olhando para trás como quem diz: Deixe-me morrer.

O cigarro levantava uma linha de fumaça entre as pedras debaixo da madeira que atravessava de um ferro a outro dos trilhos quando Joe deu um sorriso sem vontade para o pombo e tomou seu caminho, esbarrando em Juliana. O café que ela segurava respingou no cachecol e no blazer.

— Ah, me desculpe.

Joe não sabia o que fazer. Juliana somente se arcava para que o café não escorresse pelo resto da roupa. Mas não o xingava, sequer perdeu a paciência. Sorria de forma simpática como se seu cérebro fosse programado para ser sempre doce.

— Posso te pagar outro café?

— Não precisa — ela lhe observou nos olhos, doce, presente, iluminada. Joe não viu nela nada de Vívian como sempre via em outras mulheres. — Tome, — lhe estendeu o lenço o qual se secara. — caiu café em seu sobretudo.

Joe pegou e se secou e, por um segundo, desejou que aquilo não se acabasse. Quando devolveu para ela, sentiu que um sorriso sincero pretendia riscar seu rosto.

O Dia em que Jesus VoltouOnde histórias criam vida. Descubra agora