breathin

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Noah on

Três semanas bem exaustivas se passaram. Não sei quantos exames eu fiz nesse tempo, mas no mínimo uns vinte.

Três semanas em que as únicas pessoas que eu via os meus irmãos, meu pai, os três mosqueteiros (como eu descobri que se chamavam), em Yonta e James, em um enfermeiro.

No começo foi bem exigido. Agora, meu pai estava terminando de assinar um dos papéis para liberar aquele lugar e assim que acabou de sair para o carro.

Paralisei e fiquei encarando o carro. Pequenas cenas do dia do acidente voltaram. Eu estou entrando no carro, minha mãe me dando uma bronca e eu avisando na minha mãe que vamos bater.

Minha garganta começou a fechar e não tinha se entrado nos meus pulmões. Fui me afastando do carro e colocando a mão no meu coração.

Noah? - Ouvi uma voz da Sabina de longe - Aí meu deus, Noah!

Senti sua mão no meu ombro enquanto eu enviava um banco na frente do hospital. Começou a formar um tumulto na minha volta, ou seja, o que é pior.

Vejo a doutora Taiwo tentando passar entre as pessoas para chegar em mim. Ela chegou e ficou abaixo até ficar na minha altura.

Noah? - ela disse segurando a minha mão - Noah, ouça a minha voz, tá bom? Primeiro eu preciso que você controle sua respiração. Então, só tente comigo.

Ela começou a respirar fundo. Inspira e expira. Tentei acompanhar ela, mas parecia que eu estava mais rápido que ela. O meu corpo estava doendo e não consegui mais controlar a minha respiração.

- Vamos, Noah - Yonta falou - Você consegue. Faz comigo. Inspira. Expirar. Vai contando até dez na sua cabeça.

Hum. Inspira. Dois. Expira. Três. Isso não está dando certo. Quatro. Inspira. Cinco. Expira. Seis. Por que tem tanta gente ainda? Sete. Inspira. Oito. Não era expira? Nove. Inspira. Dez. Expira.

Não sei quanto passou, mas foi no mínimo uns cinco minutos quando eu comecei a fazer a respiração com a doutora Taiwo.

Com uma última expiração, eu me senti voltando ao normal. Apoiei minha cabeça no vidro atrás de mim.

Noah? - a doutora me chamou.

- Eu to bem - falei ofegante e fechei meus olhos.

- O que aconteceu, doutora? - Meu pai perguntou.

- Bom, Marco, Noah teve um ataque de pânico - ela disse - Isso pode ser normal para pessoas que passaram por um trauma ou estavam em coma depois de um acidente. E por isso já recebi um remédio para ansiedade, e como sessões de terapia, que vão ajudar muito, Noah.

- Tá bom - eu falei - Tem como não irmos de carro?

- Não sei, Noah - meu pai falou.

- Tem um metro aqui perto - Sabina falou - Posso ir com ele.

- Eu também - Linsey e Nicolas falaram.

-Não sei, crianças - ele disse.

-Eu não vou conseguir entrar no carro - Eu falei - Se você tiver outra ideia estamos ouvindo.

- Tudo bem - ele concordou - Mas tomem cuidado, e vocês três fiquem de olho nele.

Meu pai foi com a gente até a estação do metro e esperou entrarmos para ir embora. Eu não sabia para onde olhar. Eu parecia um criança numa loja de doces. Eu estava reaprendendo, mas não a ler e a escrever, e sim, reaprendendo a viver.

- Noah, você está bem? - Sabina perguntou segurando na minha mão.

-Sim, é só um pouco overwhelming - eu disse e apertei sua mão levemente - Tem tanta gente, e tantas coisas.

- Eu sei, mas vai dar tudo certo - ela disse e voltamos para o silêncio entre nós.

Os dois mais velhos discutiam algo sobre a faculdade, e ás vezes Sabina comentava alguma coisa. Ficaram assim até chegarmos na parada que tínhamos que descer. Andamos por uns dez minutos até começarmos a ver casas e não prédios.

- Eu não sabia o quão longe ficava a nossa casa do metro - meu irmão disse quando chegamos em casa já se jogando no sofá.

- Ah, vocês chegaram finalmente - meu pai falou acompanhado de uma mulher.

- Tia Rebecca - Sabina disse indo abraçar a mulher - Como você está?

- Preocupada com o menino ali - disse apontando para mim.

- AH, verdade - Linsey falou - Noah, você não deve lembrar, mas essa é a tia Rebecca, irmã do papai.

- Eu acho que me lembro sim - eu falei me sentando- Você é a tia que deu uma melancia para mim de natal, não foi?

- Isso mesmo, pequeno - ela falou e sorriu - Vejo que você se lembra de mim.

- Não é isso, Rebecca - meu pai falou - Noah teve alguns episódios no hospital, uns flashes. E ele só se lembra de detalhes muito específicos, porque foram diferentes para ele.

- Isso - eu concordei com meu pai - Eu só me lembro disso sobre você, tia Re. Tudo bem eu te chamar assim?

- Tudo, meu amor - ela falou sorrindo - Você me chamava assim quando era pequeno. E posso ver que você vai voltar com essa mania.

Eu dei um leve sorriso constrangedor. Essa era a pior parte. Não me lembrar das pessoas. Não me lembrar de quem eu amava, e ver como essa pessoa ainda me ama e eu não posso dizer que sinto isso.

- Posso ir para o meu quarto? - eu perguntei.

- Sim, Noah - meu pai disse.

- Me desculpa, mas onde fica o meu quarto? - eu perguntei meio envergonhado.

- Ah, verdade - meu pai falou - Sabina, você poderia levar seu irmão para o quarto e o ajudar a se ajustar no quarto?

- Sim, sim - ela disse se levantando e eu fiz o mesmo - Vamos, Nono. O seu quarto fica no final do corredor.

GOOD IN GOODBYE - noshOnde histórias criam vida. Descubra agora