— Comissário Kelly, com todo o respeito, não vejo porque enviar mais forças policiais para monitorar os protestos — Capitão Holt falou, com sua voz impassível habitual, mas com uma raiva fervente por dentro.
— Sim, entendo. Está bem — disse, a contragosto, em resposta a algo que o comissário retrucou.
Jake espiava o capitão falando ao telefone por entre a persiana de seu escritório, enquanto se esforçava para ouvi-lo. O detetive, em seguida, virou-se para seus colegas, que o encaravam com expectativa. Peralta olhou uma última vez para Holt antes de voltar-se definitivamente para o resto da delegacia, e com um suspiro, anunciou:
— Não parece estar indo bem.
Sons de frustração percorreram o local. Jake pôde visualizar Terry agarrando-se fortemente à mesa (e a entortando um pouco no processo, porque, caramba, o tenente era forte). Rosa tirou uma... Aquilo era uma estrela ninja? Jesus. Bem, Rosa tirou sua aparentemente estrela ninja de dentro de sua jaqueta de couro e com um olhar mais ameaçador que o de costume, declarou:
— Se esse idiota continuar atrapalhando o nosso trabalho por motivos ridículos, não vou me arrepender de usar uma dessas nele.
Eles estavam todos muito irritados, pois mais da metade dos policiais de baixo escalão estavam sendo enviados para monitorar os protestos, deixando uma quantidade ridícula à disposição para intervenção em seus casos de investigação criminal, os quais precisavam trabalhar para realmente ajudar a população. Isso tudo porque seus superiores viam os manifestantes mais como uma ameaça do que como pessoas que estavam apenas exigindo os direitos que mereciam e criticando um sistema injusto.
Mas é claro que alguém retrógrado no topo desse sistema veria isso como uma ameaça. E John Kelly era, infelizmente, um verdadeiro dinossauro da polícia de Nova York... Uma polícia que parecia ser formada por fósseis, no geral. Cada vez mais a DP 99 se via isolada em sua missão de apoiar os manifestantes.
A delegacia andava estressado há meses, com o trabalho em meio à pandemia. Scully, com todos os problemas de saúde que tinha e a idade, era parte do grupo de risco e não resistiu quando contraiu Covid-19, deixando Hitchcook inconsolável com sua morte (ultimamente ele nem mesmo fazia mais seus comentários nojentos e se animava com comida. Era perturbador). E então, veio o caso de George Floyd, que justificadamente causara uma onda de protestos em todo o país.
Holt se esforçara muito ao longo dos anos para que a população local tivesse uma visão positiva da polícia. Ele abertamente fez uma campanha pedindo sugestões de melhorias (graças à Gina, que tinha que admitir, era genuinamente brilhante). Sua delegacia recebeu um respeito da população por ser justa, lidando de forma exemplar com casos de assédio sexual e violências raciais e LGBTfóbicas. Era conhecida pela diversidade de funcionários. Provavelmente a única delegacia em que minorias de Nova York conseguiam confiar. E agora, todo esse respeito e confiança estavam prestes a ir água abaixo por usar sua força policial para conter os protestos, ao invés de apoiar a causa.
Jake viu a porta do elevador se abrindo, revelando Amy junto com três de seus subordinados. Ele não pôde deixar de notar que a esposa também parecia muito tensa por debaixo de sua máscara (todos da 99 tentavam manter o local o mais seguro possível durante a pandemia, especialmente depois de Scully).
— Holt me mandou uma mensagem — ela explicou, ao notar os olhares questionadores em sua direção. — Ele quer a minha equipe aqui para dar um anúncio para eles juntamente com a de detetives.
Jake e Amy trocaram um olhar que traduzia todos os sentimentos negativos que os consumiam diante da situação. Ela silenciosamente se aproximou do marido, mas eles não demonstraram afeto em respeito ao local de trabalho.
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Good cops?
FanficEm que os oficiais da DP 99 tentam fazer de tudo para provar que são bons policiais durante os protestos antirracistas. O que acabam percebendo, porém, é que muitas vezes a única maneira de ser um bom policial é se rebelando contra a polícia.