Giovanna
Distrair-se é sempre uma boa opção para não ficar pensando em certas coisas. Ou em certo alguém, no meu caso.
A piscina está fechada, como eu supus, e a população jovem do hotel está reunida nas salas de jogos ou de tevê, os adultos jogam golfe ou críquete e os idosos se divertem em volta das mesas de carteado.
Eu não tenho nada para fazer.
Não sei quantas vezes eu impeço meus pés de me levarem até o bloco de apartamentos ao lado e de subirem até o apartamento bem conhecido de Miguel.
Eu não estou realmente interessada em Procurando Nemo, então, quando as criancinhas começam a pular empolgação, eu vou me sentar na ultima cadeira do cinema improvisado.
Olha onde eu vou parar: com as criancinhas. Fala sério.
Eu sou idiota. Demais, absurdamente demais. Ou eu não sou? Quer dizer, não tinha como eu saber que Miguel iria acabar se mostrando um louco psicótico com repúdio a não poder ir à piscina. Como ele sobrevive no resto do ano, se mora numa cidade onde sol é uma raridade? E que tipo de pessoa não consegue viver sem piscina, pelo amor de Deus?!
Só me meto com gente estranha. Eu devia ter aprendido depois do Vitor. Na boa, eu tive de mudar de cidade por culpa de seus ciúmes sem precedentes e ameaças de morte quando eu terminei com ele. Parecia até que eu tinha o traído e não o contrario. Depois dele eu havia prometido a mim mesma, de verdade, que não me envolveria mais tão fácil. Principalmente se eu não conhecesse direito a pessoa.
E olhe só a minha situação agora! Risos, Giovanna. Você é patética.
"Eu conheço você?" - a peixinha diz no filme e eu entendo que foi para mim.
É Dori, eu também quero saber. Eu conheço Miguel? Quem é o cara com quem eu tenho dividido a cama esses dias? Quem é o cara que fica falando coisas bonitas no meu ouvido e me observando pegar sol? Eu não conheço Miguel, é essa a verdade.
E eu também nunca conheci nenhum dos caras que eu dia eu já tive um relacionamento, essa é outra verdade. É tudo lindo, cheio de flores, poemas e amor pra cá, amor pra lá, mas a verdade é que atrás daquela fachada idealizada e romântica tudo que eu sei sobre o cara é... Nada.
Deve ser por isso que eu sempre me ferro.
Miguel parecia tão diferente. Toda vez que ele aparece com aquele sorriso de canto de boca, eu fico certa de que ele faz de propósito só para me deixar com as pernas pouco firmes. E, às vezes, ele parece esquecer a parte do blábláblá romântico, que ultimamente só me deixa enjoada e partir para parte da pegada da história de um jeito tão, meu deus, irresistível. E, sinceramente, eu acho isso ótimo. Autêntico.
O que é isso saindo dos meus olhos?
Ah, meu Deus, NÃO! Lágrimas não...
"Desculpa... Você está bem?"
Não Dori, essas coisas molhadas escorrendo pelo meu rosto ratificam que eu não estou.
--
Miguel
Passar o dia todo numa banheira é uma coisa chata. Tudo bem, vou admitir que a primeira vez que eu precisei fazer isso eu até achei interessante... Ficar sem fazer nada, o dia todo mergulhado na água dormindo, lendo ou vendo tevê. A verdade é que chega uma hora que você não aguenta mais fazer nada disso e quer sair de dentro daquela aguaceira toda.
Hoje eu mal consigo parar de me mexer. Saber que Giovanna está em algum lugar desse hotel se perguntando que droga eu tenho na cabeça me deixa nervoso. Só por isso os segundos parecem ter se tornado milênios.
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25 de Dezembro: sonho de uma noite de verão
ContoGiovanna "Who loves the sun? Who cares that it makes plants grow? Who cares what it does? Since you broke my heart..." Who loves the sun - Velvet Underground Miguel "One last chance to reverse this curse, You stole my heart but I had it first. And...