Capítulo 1 - A Tragédia

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Logo Camille completaria 16 anos. Seria dali a uma semana! O que ela faria para comemorar? Definitivamente a mesma não estava em nenhum clima para festas, e ela duvidava muito que sua “Vódrasta” quisesse fazer alguma, porque Berenice não gostava nem um pouco da sua neta “postiça”. Como ela sentia falta do seu Avô, Anísio, que ela amava muito, quando era vivo sempre fazia uma coisinha especial para ela, mesmo que não tivesse festa. Se lembrou então do seu aniversário de 10 anos, uns dos muitos aniversários que sua mãe Amélia não a visitou em Vale- Dourado. A pequena Camille se escondeu embaixo da cama e começou a chorar sem parar. Tendo visto que sua neta não descia do quarto, Anísio foi atrás dela no quarto, carregando um bolo com uma bela decoração, andorinhas penduradas em pequenos palitos e duas velas com 10 anos em destaque na cor azul, que era sua favorita, pois era da cor do céu, onde as andorinhas voavam e ela um dia, jurou que pintaria seu cabelo dourado todo de azul, para quem sabe as andorinhas pousassem em sua cabeça.

- Parabéns para você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida! Mille? Onde está você, minha querida?

Ele olhou ao redor do quarto e viu os pés da menina debaixo da cama, onde também ouvia um choro.

- Você entrou na caverna minha pequena aventureira? - Se abaixou para olhar em seus olhos escondidos pelos seus braços.-  Não tem medo dos dragões que possam se esconder aí? – Falou brincalhão para distraí-la.

- Não Vovô, não tenho medo. – Respondeu calmamente ainda chorando.

- Venha cá minha pequena.- ela saiu e se sentou ao seu lado no chão.

- Está assim triste porque sua Mãe não pode vir?

- Sim! Ela não me ama mais Vovô! Quase não vem me ver! Não passa mais as férias com a gente e nunca mais veio em nenhum aniversário meu desde que a Vovó faleceu.

Anísio se lembrou de sua primeira esposa, Amália, a amou como nenhuma outra mulher em sua vida, tinha se casado com Berenice sim, gostava dela inclusive, mas o amor que sentia por Amália, esse ninguém iria alcançar. Ela morreu devido uma forte pneumonia que pegou, morreu quando Camille tinha 5 anos. Desde de então sua mãe Amélia se desleixou da relação entre as duas, deixando-a de visitar muitas vezes com a desculpa de trabalho. Obvio que Anísio não aprovava isso, mas ele não tinha tanto pulso firme quanto sua amada Amália para pressionar a filha a assumir seu papel de mãe.

Percebendo que seu avô ficou triste com a menção de sua Avó, Mille falou.

- Me desculpa Vovô, não queria que você ficasse triste.- falou limpando uma lágrima que escapara do rosto dele.

-Tudo bem minha pequena, venha cá me dê um abraço.- abraçou sua neta que para ele era a coisa mais preciosa no mundo, ele a amava profundamente igual a uma filha.- Em vez de ficarmos aqui chorando, que tal comermos um pedaço desse bolo com a Berenice e depois irmos passear pela cidade? Eu posso te levar aonde você quiser!

- Vamos ao zoológico! E depois no parque Vovô!

Depois de comerem, visitar o zoológico, eles foram brincar no parque, onde Mille brincou em todos os brinquedos.

- Vovô vamos brincar de pega-pega!

- Certo, mas você vai perder logo, você sabe que sou um ótimo corredor! – Saiu correndo atrás da neta, parou aos poucos quando sentiu uma imensa dor no peito. Mille vendo seu avô cair no chão foi correndo até ele, com lagrimas nos olhos gritava desesperada para seu Avô acordar, várias pessoas ao redor tentavam ajudar, chamaram uma ambulância, mas já era tarde, seu avô tinha morrido. Sua mãe acabou vindo então para cidade e o funeral do seu Pai. Como não havia conseguido dormir de tanto chorar, ela foi a cozinha beber um pouco de agua, chegando lá ouviu uma conversa.

- Eu ainda não posso ficar com ela Berenice, por favor entenda!

- O que eu entendo é que você está jogando a sua responsabilidade de Mãe para cima de mim, assim como você fazia com seus pais! Anísio está morto! – Falou com uma tristeza que a sufocava. – ele cuidava dela, não eu, eu nunca tive afeto por ela, para mim sempre foi um peso, e eu perdi meu marido por culpa dela! Ela o matou! – Chorou descontroladamente - então leve esta pestinha com você!

- Eu entendo que você esteja exaltada porque meu pai acabou de falecer, vamos conversar melhor amanhã. – Camille se escondeu e viu sua mãe subir as escadas. Pouco tempo depois Berenice também subiu. Ela chorou mais ainda agora se sentindo totalmente sozinha no mundo, Berenice a odiava, culpava ela pela morte do seu avô, e sua mãe a desprezava. Ela perdeu as pessoas que mais amava no mundo. Ela também amava sua ãe, mas sua mãe não parecia gostar dela. E seu pai? Bom, sua mãe nunca falou dele não sabe nem se está vivo. Para ela seu Pai sempre seria seu amado avozinho.

No dia seguinte, Berenice foi procurar Amélia no quarto, mas ela já havia indo embora, onde deixava um bilhete e uma carta.

O bilhete dizia “leia a carta que meu pai escreveu, eu lamento que ainda não possa ficar com Camille, eu ainda não tenho tudo pronto para um futuro para nós duas. ” Terminando o bilhete leu a carta, onde foi escrita com a letra de seu Amado quando ainda estava vivo. “Por favor Berenice, caso algum dia eu venha a falecer de repente (descobrir que tenho um aneurisma que a qualquer hora pode romper) lhe peço, que cuide e Camille até que Amélia possa ficar com ela, por favor, faça isso por mim, pelo o amor que você tem por mim. ”
Berenice chorou, ele tocou no seu ponto fraco, o amor que sentia por ele. Ela cuidaria de Camille, mas isso não queria dizer que daria carinho a ela, ainda a odiava por pensar que ela provocou a morte dele. Ela foi então para cozinhar preparar o café.
Camille desceu e logo que entrou na cozinha perguntou:
- Berenice você viu a mamãe?
Berenice falou rudemente.
- O pai dela mal foi enterrado e ela foi embora para o maldito trabalho, acho que ela fez um esforço enorme para poder vir aqui dar adeus para ele.
- Ela nem se despediu de mim.- Camille se sentou e suspirou triste, sabia que sua mãe não amava, mas não poderia sequer gostar nem que seja só um pouco dela?
- Escute Camille, já que sua mãe não quer cumprir com a obrigação dela de cuidar de você, eu terei que fazer isso, mas não pense que faço por gosto, faço apenas porque Anísio me pediu isso até que sua mãe estivesse com "tudo pronto" para vocês morarem juntas, pra mim ela só está enrolando. Então te digo como vai ser daqui pra frente: você cuidará dos serviços da casa, pois não sou sua empregada, e nem temos dinheiro para uma, vai ter que merecer se quiser ganhar um prato de comida, e nem pense que eu vou tratar você como seu avô tratava, sempre achei que ele te mimou demais, então isso acaba agora. Cuidarei de você até que sua mãe a leve, ou, até quando você fizer 18 anos, porque duvido que sua mãe cumpra a palavra dela, e quando você tiver 18 anos não será mais um problema meu, vai sair dessa casa. Não faça essa cara, vamos, me ajude com o café!
Camille ouvindo essas palavras que cortaram seu coração chorou imensamente e saiu correndo, ela pode ouvir os gritos que Berenice dava para que ela voltasse. A mesma ficou o dia todo escondida na árvore que ela costumava observar as andorinhas fazerem seu ninho. Anoiteceu e ela cansada foi para a casa que um dia fora seu lar. Berenice sem nenhum pingo de paciência a castigou por sumir, a fez ficar de joelhos no milho. Ali onde foi que o inferno na sua vida começou.
Voltando para o presente, Camille limpou suas lágrimas e levantou para o dia que se seguirá. Ela definitivamente não passaria mais um aniversário decadente com sua vodrasta, onde a mesma nem fazia questão de lhe dar os parabéns, na verdade ela ficava com mais mau o humor que o de costume. A garota palenjou a semana toda o que faria nesse dia, escaparia  para algum lugar, disso ela tinha certeza.

História de um sonho azulOnde histórias criam vida. Descubra agora