Capítulo 2 - Planos

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CAPÍTULO 2
Chegando o grande dia ela se preparou com cuidado. Era sexta feira um dia perfeito para se comemorar um aniversário pensou. Desceu cedo e fez o café, não queria se encontrar com Berenice, isso acabaria com seu humor. Tendo feito um café e torradas comeu e logo pegou sua mochila e saiu. Na sua bicicleta saiu em disparada a cidade. Foi no centro se aventurar em lojas de roupas, dificilmente comprava alguma pois o dinheiro escasso que sua mãe mandava mal dava para cobrir suas despesas, dizendo Berenice. Depois de pagar suas coisas, dava uma mínima parte para garota que sempre reclamava que era pouco, mas Berenice dizia que é culpa de Amélia que cada vez manda menos dinheiro. Ela só não tirava essa história a limpo porque odiava conversar com sua "mãe". Fazia de tudo para não falar com ela. Durante 3 anos foi atrás, pedia para vê-la, queria seu amor seu carinho. Mas depois de pouquíssimas visitas e demonstrações mínimas de afeto para com sua filha, a mesma desistiu e se revoltou. "Só estou perdendo tempo, ela não me ama" pensava sempre. Afinal o que ela mais poderia pensar de uma mãe assim?
No centro, com o dinheiro que juntou, foi atrás de uma roupa de festa, pois naquele dia Bruno daria uma festa (o cara que ela ficava) seus pais saíram da cidade e ele aproveitou para fazer uma baderna. Ela não queria dizer que era seu aniversário, só queria mesmo curtir de um jeito diferente. Escolheu um vestido preto curto e meia calça quadriculada preta com uma bota preta. Usaria com seu casacão e uns acessórios que tinha em casa. Depois de compras feitas não tinha a mínima vontade de ir à escola, ela admitia que não era das melhores alunas, mas também não era das piores. Ela resolveu ir ao cemitério onde estão enterrados seus avós. Olhando as lápides deles, junto ao outro chorou tudo o que podia chorar, chorou por saudade deles e porque sua vida era um caos. Berenice a odiava porque a culpava pela morte de seu avô, e mesmo ela negando para Berenice todas as vezes em que discutiam, dizendo que a culpa não era sua, dentro de si ela sentia que era. Ela devia ter dito que o amava mais, ela se culpa, mesmo sabendo que não tinha mais nada a fazer. Ela tinha raiva de sua mãe por tê-la praticamente abandonado. Bem e seu pai? Ela não o conhecia, sua mãe nunca revelou quem era ele para ninguém. Mas ouviu Berenice dizendo ao um pastor há 2 anos atrás, quando foi visita-la, que o fato é que ao que parece ao saber da gravidez de sua mãe, deu dinheiro a ela para realizar um aborto, pois ele se casaria com outra, seus avós, Amália e Anísio ao saberem disso, não concordaram com o aborto, porque já estava com muitas semanas e porque eles não permitiriam tamanho pecado. Então com dinheiro que era para ter sido do aborto compraram coisas para a sua chegada, mas sua mãe ao ter a filha, depois de um tempo recuperada do parto, fugiu, e só retornou depois de 2 anos, nisso, seus avós obrigaram ela a visitar sempre a filha. Camille nunca perguntou para sua mãe se isso era verdade, mas ela preferiria mil vezes que o aborto tivesse sido feito e ela nunca tivesse nascido, pois a dor de não ser amada por sua mãe é amarga e rasga a alma.
Passou- se o tempo e já estava na hora de retornar a sua casa, como se ela voltasse da escola. Entrando em casa, escondendo as compras na mochila, subiu para seu quarto e se trancou lá. Berenice sabia que data era hoje e não suportava ficar na presença de Camille, então ela passava a maior parte do dia fora. Escondeu sua roupa nova (que com certeza Berenice não aprovaria, por ser muito curta) e foi para a cozinha preparar o jantar, para manter a rotina e não levantar suspeitas. Feito um arroz misturado com feijão e frango assado ao forno, fez uma salada simples com tomate e pepino e começou a limpar a bagunça feita na cozinha. Ouviu a porta se abrir, mas não olhou para vê-la. Ela subiu para o quarto. Dado 19:00 horas Camille começou a jantar. Berenice desceu toda arrumada.
-Camille, hoje irei para a igreja, teremos um culto especial e la vamos comer algo abençoado por Deus. Acho que você devia vir comigo, para ver se Deus perdoa seus pecados.
Camille acostumada com as provocações de Berenice respondeu.
- Acho que não é uma boa ideia, quando eu pisar na igreja, vai começar a pegar fogo, de tão endemoniada que estou, talvez precise chamar os bombeiros para apagar meu fogo.
- Claro, o que mais eu poderia esperar de uma delinquente que nem você? Igualzinha a sua mãe!
- Não me compare com aquela mulher!
- Não há como negar “querida”, vocês têm o mesmo sangue, você herdou todo o pecado dela e irá pagar em vida por ele!
Berenice saiu apressada antes que se exaltasse mais. A pobre garota começou a chorar sem parar. Maldita seja! Deixou a louça suja mesmo e subiu para o quarto para se arrumar. Tendo tomado um banho quente, foi para frente do espelho. Não sabia o que faria com seu cabelo rebelde, então usou o babyliss para dar mais formas aos seus cachos dourados com mechas azuis. Passou uma maquiagem pesada, sombra preta, lápis de olho e rímel. Colocou um belo batom vermelho. Colocou o vestido, calçou as meias e as botas, colocou uns acessórios para terminar tudo. E um pouco de perfume. Deu uma olhada, estava bem bonita, tirando seus olhos tristes. Mas hoje ela encheria a cara até cansar, para se esquecer de tudo. Colocou seu sobretudo e chamou um uber. A casa do seu pegue-te não ficava muito longe dali, mas ela não queria ir de pé e correr o risco de ser assaltada. Chegando lá a festa já estava bombando, olhou no celular que marcava 22:00 horas, pagou o uber e saiu do carro. “Hoje vou extravasar” pensou ela animada.
Mal sabia ela o que aconteceria naquela noite.

História de um sonho azulOnde histórias criam vida. Descubra agora