|| 03 || Estratégias, sarcamo e destruição

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Era de manhã.

O sol escorria pelas grandes janelas do quarto como uma visita inconveniente que insiste em entrar sem ser chamada - aquela visita que você claramente não quer receber, mas que faz questão de entrar e beber seu café. S/n, que dormia profundamente em sua cama (onde tinha sido cuidadosamente depositada pelo ruivo na noite anterior), foi brutalmente arrancada do sono pelo som irritante de um despertador.

Um despertador que, vale ressaltar, nem era dela. Não, S/n nunca teria um instrumento de tortura tão diabólico por perto. Acordar já era uma batalha, então por que ela se voluntariaria a sofrer todos os dias?

Com um salto que provavelmente teria garantido a medalha de ouro nas Olimpíadas do Desespero Matinal, ela desligou o infernal aparelho da única maneira que fazia sentido: transformando-o em um picolé. Porque sim, S/n era assim - uma mistura de drama, sono, e superpoderes espontâneos.

Às vezes, ela realmente se perguntava como conseguia cumprir suas missões com tanta precisão, considerando a confusão que era sua personalidade. Talvez fosse um talento nato para a interpretação, um presente concedido pelos deuses. Ou talvez ela estivesse simplesmente gastando toda a sua sorte nas missões, deixando o resto de sua vida entregue ao abandono divino. Havia um ditado popular que parecia se encaixar perfeitamente nessa situação, mas a névoa sonolenta em sua mente dificultava lembrar as palavras exatas. Algo como: "Os deuses dão com uma mão enquanto tiram com a outra."

Mas ela não queria pensar nisso agora. Era cedo demais, e muita informação para os menos de dois minutos que havia passado no mundo dos despertos. Ela precisava de café, não de filosofia divina.

O silêncio abençoado que se seguiu foi rapidamente interrompido por sua percepção: tinha um bilhete no criado-mudo.

Ainda processando sua existência naquele horário ingrato, S/n pegou o bilhete, os olhos semicerrados de sono. Reconheceu a caligrafia de imediato. Era de Chuuya, claro. E, como esperado, era carregado de sarcasmo:

"Bom dia, senhora realeza.


Tomei a liberdade de te dar um despertador - que, a essa altura, imagino que seja um picolé - para garantir que você acordasse no horário e não se atrasasse para a nossa missão. Como nas outras vezes.
Estarei esperando na frente do QG às 8h30. Por favor, tente não fazer o impossível e se atrasar.

Ass: Chuuya."

Ela leu o bilhete com um sorriso bobo que se recusava a sair do rosto. "Senhora realeza." Ele sabia exatamente como provocá-la e, claro, como cutucar o ego ferido dela. Ele também sabia o quão péssima ela era em acordar no horário e, mesmo assim, continuava aturando suas desculpas criativas - e às vezes completamente absurdas. S/n deu uma risadinha nervosa.

Mas, como a alegria na vida de S/n era sempre curta, seu cérebro decidiu lembrá-la de algo importante: "Vocês nem são tão íntimos assim. Ele só tem paciência com você porque é teimoso, igual a uma rocha."

E como ela sabia disso? Simples: ele ainda não tinha corrido gritando por socorro depois de conhecer o furacão de desorganização que era sua vida. E o fato de que ela tinha um crush tão gigante nele que podia facilmente ser confundido com uma paixão adolescente? Bem, isso era só a cereja no bolo de sua comédia de erros pessoais.

Perdida em pensamentos - que iam de casamentos imaginários a cenas em que Chuuya dramaticamente a salvava de uma explosão -, S/n não percebeu o tempo passar. Foi só quando seus olhos captaram o relógio na parede que a realidade a atingiu como um soco.

8h25.

- Merda, ele vai me transformar em purê! - exclamou, a voz uma mistura de pânico e resignação.

Entre o Caos e o Controle [Imagine Nakahara Chuuya | BSD]Onde histórias criam vida. Descubra agora