LSD

Conto 01.

- Mike?
- Droga, esqueci que meu colega de quarto iria se mudar hoje.
Estou feliz por ele ter conseguido um lugar melhor, mas estou deprimido. Vou voltar a me sentir sozinho(a maior parte do tempo eu me sinto só, mas sem o Mike vai ser bem pior) lembro-me de quando me mudei pra cá, essa cidade, essa... Casa. Eu não conhecia ninguém exceto Mike haha, na verdade, eu conheci Mike quando me mudei para esse apartamento.

Eu tinha sérios problemas com meus pais quando morava com eles, então decidi que precisava me mudar, precisava MUDAR!
Não lembro a última vez que abreçei minha mãe, mas lembro da última vez que ela me fez chorar (Na verdade, lembro da maioria das vezes). Então quando fiz 19 anos, me mudei para outra cidade, consegui um trabalho, não paga muito mas dá pra manter a casa e comprar alguma comida. Droga, eu tô perdido sem o Mike, ele sempre me matinha com os pés firmes no chão quando as crises vinha, lembro-me dele dizendo; "calma, eu tô aqui, vai dá tudo certo!" Sempre me acalmava aos poucos saber que tinha alguém. A gente ainda vai se ver na faculdade, mas enfim...
Não seremos mais colegas de quarto!

Nunca gostei de drogas, já usei maconha, mas não me agrada fazer isso. Hoje um cara me deu um doce, eu conversei com ele do lado de fora do escritório do meu psicólogo, ele disse que seria legal eu fugir um pouco da realidade. Mas estou com medo, será que devo usar isso?

Ele me falou que da pra ver até unicórnio, fadas, dragões...
Eu me animei com a ideia, parecia muito bom conhecer um dragão (eu ri).
Ele deve ter ficado com pena, eu tava chorando e tremendo muito, as crises só pioram a cada ano!

Vou marcar no meu caderno, resolvi que quero usar esse troço, quero ver um dragão. dia 27 desse mês, está tudo certo.
Nunca tive medo de morrer, aliás, o que eu tenho a perder? (Pensei nos meus remédios, eles custam caro, para eu perde eles hahaha)
Se é que isso vai me matar, mas seria uma viagem muito louca! E talvez uma última viagem.

Eu tinha alguns amigos, poucos, mas eles se preocupavam comigo. Eu contei para uma amiga meus planos para dia 27 daquele mês.
Ela não gostou nada da ideia.

- Por que vai fazer isso? Sabe que não gosto de drogas, Nicolas! - Eu sei mas eu não tô bem, eu preciso escapar um pouco.
Contei a ela sobre semana passada, sobre minha última crise, sobre como eu tive que passar três dias na upa internado, e totalmente dopado de diazepam! Eu não conseguia respirar, eu não conseguia parar de chorar, e só pensava em como eu queria que aquilo parasse...

- Eu não tenho mais ninguém, eu não quero mais ninguém, as pessoas ao meu redor só vão se machucar com os meus atos, Elane, eu só queria falar sobre isso, não pra te preocupar, mas porquê eu queria que você entendesse, não é sobre se matar, é sobre ter o poder de dar uma pausa!
- Tudo bem, Nicolas, tudo bem. Eu te entendo, mas prometa que vai ter cuidado!
- Eu prometo!

- Eita, esse negócio tá fazendo minha língua pinicar, será que funciona mesmo? ( Eu estava nervoso, e ri muito por isso).

30 minutos se passaram, eu estava suando muito, meu coração tava acelerado, e eu não conseguia ficar deitado, havia um frio intenso na minha barriga. Eu vomitei, droga...

Ele disse pra eu usar só metade, mas eu usei todo, acho que estou tendo complicações. - Eu fui até a varando do meu AP, deitei na rede, e comecei a me sentir muito leve haha, estranho, e com medo, quando fechei meus olhos, senti uma luz em cima de mim, e sempre que abria os olhos não tinha nada. Eu estava tendo muitas alucinações, e também estava lutando pra não lembrar de nada triste, nada que me fizesse infeliz naquele momento, mas eu não era tão forte assim!

Mesmo depois de ver um dragão saindo do chão, e ver o reboco da minha parede se mechendo, ver meu próprio rosto se desmontando aos pedaços, eu não consegui afastar os meu tormentos. E foi aí que a minha primeira lembrança infeliz veio; -lembrei-me de minha infância, lembrei de uma mulher.

- Aquela mulher era mal.
pensei comigo mesmo. Eu não gostava de ter que me relacionar com ela, mas quem sou pra dizer não, eu era apenas uma criança.

- Eu comecei a me contorcer, e o ar ficou pesado, como se o oxigênio tivesse sumido do meu apartamento. Talvez só estivesse "Desesperado"
- droga, pensa em alguma coisa boa seu merda!
Eu desviei meu pensamento, eu não conseguiria dormir, mesmo que eu quisesse.

- Mãe?
- você taí?
- eu não te odeio, mãe, eu tenho sequelas, você me deu a minha ansiedade, me deu minha depressão, mas eu não te odeio. - Eu não sei o o porquê estava falando aquilo, não havia ninguém comigo!
mas eu estava chorando, parece que a lsd não é tão divertida assim.

- Mãe, por quê?
- Eu era só uma criança, você não precisava fazer aquilo, não precisava me torturar, não precisava me bater, eu não tenho culpa se você ficou doente (eu estava chorando muito e a esse ponto, uma crise já estava me tomando).

A minha campainha tocou, eu quase não chego a porta, quase não consegui atender
Mas consegui, tirei o ferrolho da porta e abri o trinco.

- Oi, Elane, o que tá fazendo aqui?
Me perguntei se era só mais uma alucinação da minha cabeça, ou se minha amiga estava mesmo na minha porta!

Ela quase nunca saia de casa, e eu só a via na faculdade. Perguntei o que trazia ela a minha casa.
- Como você está, Nicolas?
- Eu estou bem, um pouco fora de si! Mas bem, eu acho (Nunca fui de dizer pra ninguém que estou mal mesmo quando estou).

- Nicolas, você está tremendo, e seus olhos estão inchados e vermelhos, você estava chorando?
- Não quero falar.
Ela simplesmente me abraçou, e perguntou se podia fazer alguma coisa por mim.

- Preciso dos meus remédio, mas não consegui pegá-los, o armário parece que ficou mais alto, quase não consegui abrir a porta! É, talvez eu não esteja no meu melhor estado...

- Se acalma, tem certeza que é uma boa tomar antidepressivo sobre efeito dessa droga?
- Eu não sei, mas a pouco eu esqueci como respirar, o ar tava tão pesado (eu ri) meu peito doía, e eu estou muito angustiado, muito angustiado, não consigo parar de sentir! Eu só preciso fazer parar.

Elane estava chorando, não entendi bem o porquê, mas aquilo me fez a pessoa mais infeliz do mundo.

- Eu te falei, falei pra não ficar muito próxima a mim, te disse que machuco as pessoas, mesmo sem querer, e eu te fiz chorar!

- Eu quero te ajudar, Nicolas, mas não sei como, sei que tá sofrendo, me desculpa!
Ela pegou meus remédios, os deu em minhas mãos, me trouxe água, e eu os tomei, não sabia o que poderia acontecer a partir dali!
Ela sentou no sofá, e disse pra que eu apoiasse a cabeça em sua perna.
Eu não sentia mais nada.

O ar parece que tinha voltado, e meu corpo estava tão pesado que chegava a ser relaxante
- Elane, eu me sinto estranho, mas me sinto bem por está com você. Obrigado, por ser minha amiga!

Minha visão começou a ficar escura, e estava tudo borrado, talvez tivesse que ser assim, mas independente do que acontecesse depois disso, eu estava feliz por não está sozinho!
E infeliz por saber que meus amigos chorariam por mim. Isso me torna a pessoa mais infeliz do mundo!

Ps: Não esqueça...
Eu preciso de você!

Autor: Italo Gomes