— Sou a Sina! — disse eu, animada por alguns segundos até me lembrar da situação em que estamos.
Claro, conversamos horas atrás sobre nos encontrar para colocar o papo em dia, mas agora ele está se comportando como se nunca tivesse me visto depois que mudamos nossos caminhos.
— A mesma Sina que conheci quando era criança? — perguntou dançando seus olhos sobre meu rosto como se eu fosse um tipo de cálculo matemático muito complicado.
— Sim. — respondo dando um sorriso passando uma das minhas mãos atrás do pescoço.
O jeito que ele fala comigo agora não é nenhum pouco parecido com a forma que trocamos mensagens, muito menos a voz esta no tom que usou comigo enquanto conversamos por ligação. Há algo muito errado na maneira como Natan se comporta perto de mim. É como se eu fosse a última pessoa que ele quisesse ver ou estar por perto.
— Você está meio esquisito, Natan. — digo com receio de que ele tenha fingido ser meu amigo durante todo esse tempo ou de ter descoberto o que sinto por ele.
Claro, sou muito previsível. É óbvio que Natan percebeu que estou apaixonada por ele.
— E-eu... — gaguejou ficando vermelho — Não sou o Natan, Sina. — disse cabisbaixo aparentando estar envergonhado.
Que palhaçada é essa?
— É claro que você é. — digo rindo do que ele fala. Nunca vi Natan mentir para tentar fazer uma piada. Na verdade ele nunca faz piadas legais, só rio porque me faz sentir que sou uma boba apaixonada.
— Felizmente não sou. — disse suspirando em seguida.
Só deve estar brincando com minha cara. Não é possível que Natan não seja esse rapaz, ele é idêntico na aparência física. E não há outra explicação para isso.
— Natan, pare de… — sou interrompido.
— Sr. Sina Deinert? — ouço alguém me chamar. A voz fielmente idêntica a da moça que me atendeu quando fiz o pedido dos cafés.
Viro-me em direção a entrada da cafeteria para confirmar o que imagino ser a dona da voz, e logo quando vejo-a, consigo enxergar uma pequena embalagem de suporte para os três copos de café. Vou até ela o mais rápido que posso para voltar a tempo de continuar a conversar com Natan. Mas quando finalmente estou com a embalagem tento achar o local onde vi Natan sendo espancado.
E ele não está mais lá.
Procuro desesperado por Natan entre as pessoas que caminham pelas calçadas, com um pedido mental de achar um cara de roupa escura perambulando por aí. Porém, quando tenho uma boa visão de um rapaz com jaqueta de couro correndo para o outro lado da rua, tomo a iniciativa de ir atrás dele.
Isso é completamente sem noção, mas não há outra alternativa para responder que palhaçada está acontecendo. Quero saber também o motivo de ter apanhado tanto, porque tenho medo que ele tenha entrado na vida errada.
Ainda desesperada, tentando andar rápido com minhas pernas pequenas, desvio de várias pessoas enquanto foco meus olhos no garoto de roupa escura e cabelo bagunçado.
Andei mais alguns metros para poder chegar perto dele o suficiente, então quando finalmente consegui:
— Natan. — o chamei colocando a mão desocupada em seu ombro puxando-o para que olhasse diretamente para mim.
— Natan? — repetiu o rapaz confuso me fitando assustado — Eu não sou o Natan. — disse paralisado.
E realmente não era. Desgraçado.
— Me desculpe, acho que me confundi. — disse me distanciando dele e depois curvando meu corpo e pedindo mais desculpa.
Agora só vejo o único jeito de saber o que aconteceu se me encontrar com o Natan amanhã a noite. E vou fazer isso, só preciso pensar em como não me irritar na hora que encontrá-lo. Se ele se fazer de sonso vou jogar toda a minha paixão por ele para a puta que pariu e falar um monte de merda.
Não sou palhaça não. Com esse pensamento frustrante, volto para casa puta da vida. Tomando meu segundo copo de café na força do ódio. Quando chego de frente a porta do meu apartamento respiro fundo antes de entrar e tirar minha roupa novamente, como mais cedo. Assim que as tiro, vou até o banheiro e deixou um caneco de café sobre a pia com intenção de evitar fazer um estrago quando ligar o chuveiro.
No momento que a água já está descendo dos minúsculos furos do chuveiro, me coloco sob ele sentindo o frio da vida de uma garota desempregada e oficialmente pobre. A água está tão gelada que demorei poucos minutos para terminar o banho. Corri desesperado para meu quarto, logo me jogando na cama somente de toalha.
Foi por essa vida que eu desejei ter, meu pai?
— Eita mundo velho sem porteira. — digo enfiando minha cara no travesseiro, que abafa todo som da minha voz.
Passo um bom tempo acordada de bunda para cima esperando o efeito do café passar, mas enquanto estava de olhos abertos e totalmente sem sono pensei sobre o que aconteceu perto da cafeteria. Porque tantas pessoas se revoltariam contra Natan a ponto de fazê-lo apanhar em um local público? Não faz o maior sentido.
Eu normalmente via agiotas ameaçarem pessoas desse mesmo jeito para que elas pagassem o que deviam. Mas nem sempre o resultado disso era fazer com que eles realmente pagassem, muitos perdiam parentes para que a dívida fosse fechada. E é assustador pensar que Natan possa estar envolvido nisso, porque ele é rico e pode muito bem pagar algo sem pedir dinheiro emprestado. Não é?
Meu pai amado, ele é rico. Como está envolvido com essas coisas? Será que é grave? Será que estou criando uma história fictícia sem sentido de novo assim como foi quando perdi minha caneta e pensei que meu pai tinha engolido e colocado para fora pelo cocô no jardim, mas quem fez isso foi o cachorro da minha prima que havia deixado para cuidarmos até ela voltar no trabalho?
— Eu estou viajando muito. Acho que é a cafeína. — digo colocando culpa em algo que possivelmente não tem.
Caio no sono quando o sol começa a nascer, depois de criar várias hipóteses sobre a vida de Natan que eu não sei se realmente está envolvido com mafiosos ou agiotas. Sou acordado de tarde com o celular tocando no chão com a tela virada para baixo. Demoro muito para despertar e atender a chamada, por isso quando vou verificar quem me ligou há duas ligações perdidas e uma delas é do Natan.
Pulo da cama quando vejo esta calamidade. Ele raramente me liga, meu deus. Da última vez foi para perguntar se eu queria ajuda para chegar em Seul. O que será dessa vez?
Calma, Sina. Só foi uma chamada não atendida.
Tento relaxar antes de surtar com a possibilidade de ter acontecido algo com ele, então quando finalmente tento ligar para ele meus dedos tremem e meu cu tranca.
— Ele não morreu depois de ter sido agredido. Não morreu. — digo para mim após lembrar do que infelizmente acabei vendo ontem — Agora ligo calma, muito calma. — falo respirando fundo enquanto coloco o dedo na opção de fazer chamada de voz.
— Sina? — ouço ele do outro lado da linha — Estava ocupada?
— Não. — digo rouco por ter acordado a pouco tempo.
— Você estava dormindo. — disse rindo em seguida — Daqui há algumas horas vamos sair. Posso te buscar? — perguntou.
— Pode. — respondo paralisada, sem saber o que fazer.
— Às sente lhe busco. — disse com voz sorridente me fazendo sentir a pior boiola do mundo.
— Sim. — concordo — Mas você não sabe onde é meu apartamento.
— Me passe o endereço por mensagem. — disso dando um longo silêncio depois até que conseguiu falar novamente — Até mais tarde.
Natan desliga antes que eu pudesse dizer alguma coisa. E iria dizer, mas não sei se isso seria respondido com veracidade por telefone. Por isso preciso vê-lo.
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don't tell her - adaptation noart.
Fanfic+ noart ||.❝ você precisa tornar uma decisão que vai partir o seu coração, mas vai trazer paz para a sua alma.❞ Sina tinha um amigo de infância, Natan, que tinha uma habilidade estranha de trocar de roupa muito rápido. Mas quando ambos cresceram, es...