01| New Life

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"Com cada pequeno desastre

Eu vou deixar as águas continuarem

A me levar para algum lugar real"


LUA

- Não basta sermos adotados, temos que ser adotados por uma família branca... - fico desanimada só de ver a família de comercial de margarina que nos espera sorrindo em frente a casa enorme.

- O vovô Carlos era branco, mas ele era legal - Samuca olha esperançoso para a família e isso me deixa com o coração nas mãos.

O avô que conseguimos nos últimos anos conseguiu conquista-lo e nos dar a falsa sensação de segurança antes de morrer e acabarmos novamente no sistema.

- Vocês estão prontos garotos? - a assistente social nos olha parecendo apavorada, provavelmente pensando que nossa demora dentro do carro podia passar uma má impressão para a nova família.

- Pode ser que dessa vez seja pra sempre mana.. - o meu irmãozinho sorri e sai do carro quando a assistente abre a porta nos apressando.

- Nada é pra sempre - murmuro.

O sol forte me deixa cega por um momento mas quando minha visão se estabiliza 8 sorrisos brancos poderiam ter me cegado novamente.

- Vocês... que bom que vocês chegaram - uma mulher da um passo em nossa direção - Não que vocês tenham demorado... vocês chegaram na hora exata... vocês são tão lindos.

A mulher que deve ser a mãe da família fala com os olhos cheios de lágrimas e já sei que esse dia vai ser um pé no saco.

- Anjo calma... - o homem tatuado fala segurando sua mão - Que tal todos nos entrarmos? Está um dia quente de mais para ficar aqui fora.

Só então eu olho para a casa atrás deles. Uma casa de gente rica, isso podia me deixar mais traquila tendo em vista que no abrigo alguns dias mal tinhamos o que comer, mas na minha experiência de vida ter dinheiro só faz as pessoas piores.

Nós provavelmente vamos ser o projeto de caridade dessa dondoca que convenceu o marido que seria ótimo para a imagem da família deles... típico.

Respiro fundo porque sei que por pior que seja aqui voltar para o abrigo seria muito perigoso agora.

Sinto minha mão ser apertada com força e lembro que estou fazendo isso pelo meu irmão. Eu posso sobreviver, mas eu não quero que ele precise sobreviver comigo, eu quero que o meu irmãozinho tenha o direito de viver uma boa vida.

- Vocês estão bem? 

Olho para frente e todos nos olham já próximos a porta da casa enquanto nós dois ficamos para trás.

- Estamos indo - digo e aperto firme a mão do Samuca.

- Ela parece legal dessa vez - ele sussurra.

- Unhum.

Tenho que admitir que o interior da casa me impressionou. Geralmente essas casas de rico parecem um mostruário de loja de móveis, mas essa tinha brinquedos espalhados pelo chão, alguns casacos jogados numa cadeira e algumas manchas de comida no sofá.

- Fiquem a vontade, você estão com fome? Querem comer algo? Beber algo? Se vocês quiserem algo...

- Mamãe, respira - um cara alto envolve os ombros da mulher.

Nocaute do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora