Nocaute do coração

10| Primeira luta

"무궁화 꽃이 피었습니다"

LUA

- Eu acho que vou desistir... - suspiro olhando a luta que antecede a minha.

- Nada disso - a Amora nem me olha enquanto cuida do supercílio aberto do Tiago, ele se recusou a ir no médico antes de ver minha luta - Mamãe teve o maior trabalho fazendo o seu cabelo e as camisetas da sua torcida.

- Aquela garota vai acabar comigo... - passo as mãos no rosto tentando não hiperventilar.

- O que de pior pode acontecer? - Tiago pergunta e o olho.

- Bom... eu posso acabar como você, toda quebrada.

- E com uma vitória - Amora aponta - Não esqueça que ele ganhou a luta.

- Obrigado por lembrar - ele sorri para ela e seus dentes vermelhos com sangue reviram meu estomago.

- Eu acho que sua gengiva se feriu.. - ela parece não se importar com o sangue quando abre a boca do Tiago e depois de uma investigação usa gazes para estancar e limpar o sangue.

- Eu acho que vou vomitar...

- Não - Tiago me olha sério mas sua fala está embolada por causa da gaze que a Amora colocou em sua boca - Voucê quer ilso bua, não uai dexistir abora.

- O que?

- Você quis isso, agora vá lá e chute a bunda daquela garota! - Amora "traduz" - Ela nem é tão forte... só é bizarra e assustadora.

Olho novamente para a minha adversária, mal posso acreditar que ela é uma adolescente porque seu corpo definido parece de uma fisioculturista. Ela vai passar como um trator por mim.

- Mana! - me viro e vejo o Samuca correndo em minha direção - Eu trouxe o senhor felpudo pra você... eu sei que você é grande e não tem medo, mas mam.. a Sophia disse que o senhor Felpudo não come só o nosso medo, ele também dá sorte.

Os olhinhos brilhantes do meu irmão drenam qualquer dúvida.

- Eu acho que um abraço vai me dar ainda mais sorte que o senhor coelho - digo.

- Eu posso te dar um abraço! - seus braços curtos se prendem no meu pescoço fazendo eu me inclinar.

- Você é a minha sorte Samuca, eu só preciso de você - deixo meu coração falar.

Sinto uma mão no meu ombro.

- Chegou a hora Lua - me solto do abraço do meu irmão e olho para o Aranha confirmando.

Respiro fundo e me levanto.

Eu não consigo escutar nada que o cara com o microfone fala, mas subo no ringue quando o Aranha bate levemente nas minhas costas. Tudo ao meu redor parece um borrão, e não consigo ficar parada, começo a mudar meu peso de um pé para outro.

Quando a outra garota sobe ela é só isso, a outra garota que eu preciso vencer. Escuto minha família gritar meu nome mas logo tudo é silêncio pra mim quando me concentro.

O sino toca e a adrenalina toma conta de mim. Parto para cima acertando sua barriga com toda a minha força.

Imediatamente sinto a dor começar a irradiar da minha mão mas não me importo, só olho para a garota esperando ve-la dobrada de dor.

Nem tenho tempo de processar o sorriso dela quando sinto um impacto forte no meu rosto e caio pra trás.

Parece que todos os sons voltam ao mesmo tempo e me sinto tonta, não consigo levantar quando escuto a contagem.

Nocaute.

Sorrio, eu sofri meu primeiro nocaute.

Começo a gargalhar.

Logo uma mão aparece na minha frente e a pego sem exitar.

- Qual a sensação do primeiro nocaute? - o Aranha sorri, ele sabe o que estou sentindo.

- Incrível.

Sei que ele me entende.

- Aproveite a sensação filha, pode apostar que só é assim na primeira vez, depois é uma merda.

- Vai ser a última vez - digo.

- Tenho certeza que sim - ele responde sério.

Saio do ringue e logo a Amora se aproxima.

- Você tá bem? - pergunta segurando meus ombros.

- Tô ótima.

Consigo me desvencilhar dela mas logo uma pequena multidão se aproxima querendo saber se estou bem.

- Deixa eu ver.. - a Sophia consegue afastar as crianças e chega até mim - Aquela filha da puta quebrou o nariz da Lua - ela fala enquanto me examina.

- MAMÃE!

Todos a olham espantados pela escolha das palavras, até porque a Sophia é a capitã anti-palavrão.

- Eu tenho direito de xingar quando mexem com meus filhos... - ela diz finalmente soltando meu rosto - Eu vou levar a Lua no hospital para colocar o nariz dela no lugar.

- Eu vou junto, o Tiago precisa de um curativo de verdade ou vai ficar com uma cicatriz horrível. Vou chama-lo... - Amora nem espera a resposta da mãe antes de sair.

- As crianças.. - Sophia os olha.

- Eu levo os piralhos pra casa... - o Max fala com uma cara inexpressiva - O Lipe vai ter que ficar e resolver as coisas da academia.

- Obrigada filho, tem comida na geladeira ou vocês podem pedir uma pizza... - ela começa a dar instruções para as crianças e o Samuca se agarra na minha perna.

- Tá doendo muito Lua? - ele diz com os olhinhos cheios de lágrimas.

- Não querido - me abaixo para que ele consiga olhar nos meus olhos.

- Eu fiquei assustado - ele sussurra.

- Não precisa se assustar pequeno, eu me diverti e tô bem. O doutor só vai colocar meu nariz no lugar como naquele episódio do Bob esponja.

- Então você não vai ficar sem nariz? 

- Ela não vai ficar sem nariz - o Max fala antes que eu possa responder e também se abaixa olhando para o meu irmão - Mamãe vai cuidar dela, leva-la para o hospital... você confia na mamãe, certo?

Samuel confirma com a cabeça imediatamente.

- Então entregue o Felpudo pra ela que ele e mamãe cuidarão do resto, vamos pedir pizza e assistir desenho, o que você acha?

Ele parece pensar antes de se virar para mim colocar o coelho na minha mão e segurar a mão do Max.

- Podemos ir - meu irmão fala me deixando boquiaberta.

Infelizmente o Samuel não conseguiu me anestesiar o suficiente e quando o médico coloca meu nariz no lugar... dói como um filha da put.

+ + + + +

Eu espero que ninguém espere que o Max seja um grande babaca... ele é meu bebê gente.