Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação
do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade
a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de
"Guia de Pai Antonio".
No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos
etc. vinham em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus. Médiuns, cuja
manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas
qualidades excepcionais.
A partir daí, o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o
esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Além de Pai Antônio, tinha
como auxiliar o Caboclo orixá Malé, entidade com grande experiência no desmanche de trabalhos
de baixa magia.
Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para fundar
sete tendas para a propagação da Umbanda. As agremiações ganharam os seguintes nomes:
Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia; Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição; Tenda
Espírita Santa Bárbara; Tenda Espírita São Pedro; Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São
Jorge; e Tenda Espírita São Gerônimo. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de
10.000 tendas a partir das mencionadas.
Embora não seguindo a carreira militar para a qual se preparava, pois sua missão mediúnica
não o permitiu, Zélio Fernandino de Moraes nunca fez da religião sua profissão. Trabalhava para
o sustento de sua família e diversas vezes contribuiu financeiramente para manter os templos que
o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para
os tratamentos espirituais, que segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitara ajuda
monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a
ele.
Ministros, industriais, e militares que recorriam ao poder mediúnico de Zélio para a cura de
parentes enfermos e os vendo recuperados, procuravam retribuir o benefício através de presentes,
ou preenchendo cheques vultosos. "_Não os aceite. Devolva-os!", ordenava sempre o Caboclo.
A respeito do uso do termo espírita e de nomes de santos católicos nas tendas fundadas, o
mesmo teve como causa o fato de naquela época não se poder registrar o nome Umbanda, e
quanto aos nomes de santos, era uma maneira de estabelecer um ponto de referência para fiéis da
religião católica que procuravam os préstimos da Umbanda. O ritual estabelecido pelo Caboclo
das Sete Encruzilhadas era bem simples, com cânticos baixos e harmoniosos, vestimenta branca,
proibição de sacrifícios de animais. Dispensou os atabaques e as palmas. Capacetes, espadas,
cocares, vestimentas de cor, rendas e lamês não seriam aceitos. As guias usadas são apenas as que
determinam a entidade que se manifesta. Os banhos de ervas, os amacis, a concentração nos
ambientes vibratórios da natureza, a par do ensinamento doutrinário, na base do Evangelho,
constituiriam os principais elementos de preparação do médium.
O ritual sempre foi simples. Nunca foi permitido sacrifícios de animais. Não utilizavam
atabaques ou qualquer outros objetos e adereços. Os atabaques começaram a ser usados com o
passar do tempo por algumas das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a
Tenda Nossa Senhora da Piedade não utiliza em seu ritual até hoje.
Após 55 anos de atividades à frente da Tenda Nossa Senhora da Piedade (1º templo de
Umbanda), Zélio entregou a direção dos trabalhos as suas filhas Zélia e Zilméa, continuando, ao
lado de sua esposa Isabel, médium do Caboclo Roxo, a trabalhar na Cabana de Pai Antônio, em
Boca do Mato, distrito de Cachoeiras de Macacu – RJ, dedicando a maior parte das horas de seu
dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e de todos os que o procuravam.