Nathaniel Wycombe e Charlotte Bridgerton

391 21 6
                                    




Kent, 1844

Haviam poucas coisas que Charlotte Bridgerton valorizasse mais que a família. Quando tinha apenas onze anos, era comum que outras crianças a convidassem para suas festas de aniversário. Assim como, claro, a todos os seus outros primos da mesma faixa etária. Então, constantemente, um grupo de meninos com traços bem parecidos era visto aprontando nas mais diversas casas aristocráticas de Mayfair, para o terror de todos os pais. 

Normalmente, as envolvidas eram: Jane, Katherine, Agatha e, claro, Charlotte, como mais velha e mandante do grupo. Como era consideravelmente mais nova que seus irmãos mais velhos, e  bem mais velha que sua irmã mais nova, nenhum dos três lhe eram adequados para as brincadeiras que gostava de fazer. Então, só lhe restavam as primas, que a seguiam e veneravam como uma irmã mais velha, papel que ela sempre cumprira com muita satisfação. 

Logo, ao ver aquela detestável Ruby Cavender importunando Agatha, não pôde evitar se meter no assunto. 

- Senhoritas, poderiam me dizer sobre o que estão conversando? - com seu sorriso mais irônico possível, Charlotte ficou ao lado da prima, dando o braço a ela.

Ruby conhecia bem a Bridgerton, e ambas sabiam que não gostavam uma da outra. Debutaram na mesma época, e a Cavender sempre fizera questão de tentar denegrir a imagem de Charlotte, fazendo comentários maldosos e espalhando boatos falsos. Porém, Charlotte, com seu temperamento forte, soubera muito bem se defender, o que não era o caso de Agatha. A prima tinha uma personalidade gentil e calma, com muita dificuldade de conseguir agir de forma perversa com alguém, mesmo que seja para contra-atacar. Portanto, era bem comum que a prima se envolvesse no assunto, espantando a outra garota sempre que podia. 

- É um assunto particular. - Ruby lhe devolveu o sorriso irônico, abanando-se com um leque. Ergueu o queixo com superioridade, e fixou seus olhos azuis em Agatha, que ainda estava quieta e amuada. - não é, Srta. Bridgerton?

- Se esse assunto particular é uma ofensa à aparência de minha prima, sinto lhe dizer que também é um assunto meu. - a mais velha retrucou, soltando-se de Agatha e dando dois passos até a outra dama. Mantinha uma pose ameaçadora, como uma gata defendendo seus filhotes. - não me importava quando procurava incomodar-me, Srta. Cavender, mas incomodar a minha família já é outra história.

- O que lhe fez pensar que eu a estava importunando? - ela bufou. - eram apenas algumas dicas, que geralmente são pedidas de bom grado por outras debutantes. Está claro a todos que ela tem braços e bochechas grandes, estou apenas tentando ajudá-la a se livrar deste fardo. 

- Guarde suas dicas para você, porque não estamos interessadas! - a Bridgerton explodiu, ficando perigosamente perto de Ruby. Agatha, temerosa, andou até ela e segurou uma de suas mãos, pedindo que esquecesse aquilo, mas Charlotte nem mesmo a escutou.

- A senhorita está sendo rude e mal-educada! - a outra retrucou, com expressão de repulsa ao olhá-la. - os comentários feitos sobre a senhorita certamente fazem jus!

- Se refere aos comentários espalhados pela sua pessoa? Porque certamente não me importo com eles.

- A senhorita tem uma personalidade terrível. E você – ela olhou para Agatha com raiva. - está gorda. Com licença.

Quando a Cavender finalmente se virou, ofendida, Charlotte disse bem alto, para que sua voz ecoasse pelo corredor vazio da mansão: 

- Ainda que ela fosse gorda, pode facilmente emagrecer. E a senhorita, com este nariz enorme, apenas nascendo de novo!

~

Nathaniel Wycombe era o segundo filho do conde de Billington, sendo o único filho homem e o herdeiro, por direito, ao condado. Todos o chamavam de lorde Billington – um título de cortesia – mas diferente de seu pai, Nate tinha uma personalidade calma e muita vezes tímida, ainda que disfarçasse bem. Não era bem-visto um homem que tivesse dificuldade em se socializar, e sofrera muito com isso quando garoto, tendo sempre que ser defendido por seu primo, Lewis Kemble, de ser importunado por outros garotos. Lewis tinha dado tudo de si, mas infelizmente, sendo dois anos mais velho, era impossível que o protegesse dentro de sala, quando os outros meninos colocavam taxinhas em seu assento e beliscavam suas mãos quando o professor não estava olhando. 

O cravo vermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora