Prólogo

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   05 de fevereiro de 2015
8 A.M


"Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado."

-Caio Fernando Abreu

  As palavras que saíram de sua boca, como cacos de um espelho quebrado, ecoavam sobre minha mente em um loop incessante.

  Ele está indo embora.

  Forcei um sorriso amargo, tentando demonstrar que estava tudo bem, a distância nunca nos separaria, nossas almas estavam interligadas.

  Uma simples carícia em sua bochecha bastou, seus grandes e redondos olhos se encheram de lágrimas, e um forte e doloroso abraço uniu nossos corpos.

  - Pare de chorar Soobin-ssi, não é como se nunca mais fossemos nos ver. — Ele fungava forte, seu rosto estava entre a curva de meu pescoço, e suas lágrimas escorriam manchando minha camiseta.

Era nosso último abraço, ao menos por um longo tempo.

- M-me desculpe hyung, não pude fazer ela mudar de idéia. — O peso de sua voz me machucava, ver seu rosto vermelho como um morango e seus lábios  esmagados entre seus dentes, como uma tentativa falha de cessar seu choro, me faziam querer desmoronar.

Minha rosa estava se despedaçando em minha frente, mas eu não podia fazer nada.

- Ah, não seja assim! Já disse que irei te esperar todos os anos do mundo, se for necessário, até nas nossas próximas vidas.

  Em outras circunstâncias acharia seu enorme bico a coisa mais fofa do mundo, até me perderia em pensamentos de como seria se, acidentalmente, sentisse o gosto de seu gloss sabor cereja.

"- Minha boca é seca Junie-Hyung, se não passar ela descasca e fica horrível!!"

Por longos minutos — que mais pareciam horas — nos encaramos, como um gesto de conforto para nossos corações, um adeus silencioso, porém, tão triste quanto por oralidade.

Uma voz nos obrigou a desviar o olhar.

- Soobin, nós já vamos querido.

                            ♬ ♬ ♬

Descemos as escadas com as mãos entrelaçadas, o pequeno ao meu lado era praticamente arrastado por mim, suas lamúrias eram visíveis, nem sequer uma palavra era necessária, eu sentia.

O taxi esperava-o no portão da casa azul, do outro lado da rua, e a imagem da primeira vez que vi Soobin passou como um flash em minha mente.

  - quem é ele mãe? — perguntei a mulher de cabelos curtos e roupas sociais.

Era um garoto gordinho, com uma jardineira jeans e sapatos amarelos, que corria de um lado para o outro manuseando uma espada de plástico.

- Filho da nova vizinha, Ha Sooyoung. — observou pela janela, mas logo ajeitou seu óculos um tanto estranhos e voltou a ler seu livro.

Coisa de velha.

- ele é engraçado com essas bochechas vermelhas, parece um morango gigante! — ri da minha própria piada, sem a mínima graça.

Observei Soobin por dias e mais dias, até que perdesse suas bochechas e ganhasse um belo par de óculos redondos.

  Sempre na varanda, sempre em seu mundo, sempre feliz.

Soobin era uma criatura admirável, todas as tardes se sentava no gramado, abria uma HQ do homem aranha ou um mangá, e só se levantava quando sua mãe o chamava para tomar banho.

Um dia, eu quis entrar em seu mundo.

Atravessei a rua receoso, abri seu pequeno portão e fiz algo que nunca, nem em um milhão de vidas, pensaria em fazer.

Falei com ele.

- Oi pirralho. — um fracasso.

Parabéns Choi Yeonjun, você é patético.

- …eu não sou pirralho. — vi um grande bico se formar em seus lábios, seus olhos se encheram d'água e…

Ele estava chorando?

- Ei! ei! Não chore, eu estava brincando, você não é um pirralho! — o pequeno garoto chorava descontroladamente, ignorando minhas súplicas para que parasse, como se tivessem lhe tirado seu doce favorito.

- Eu não queria ter dito isso, é só qu-

Assim que dei um passo à frente, pisei no meu próprio cadarço desamarrado e caí diretamente com a boca no chão.

O choro parou.

E no lugar dele, a risada mais gostosa que já ouvi se fez presente.

- Sua mãe não te ensinou a amarrar os cadarços? —  pôs as mãos no rosto, cobrindo sua risada histérica enquanto praticamente rolava no gramado.

  Naquela tarde de verão, descobri que o amor é simples, resume-se em dois corações e um cadarço desamarrado.

- E se você se esquecer de mim Hyung? — seus olhos pesaram sobre mim.

- Nós nunca esquecemos o primeiro amor, ainda mais quando ele tem olhos tão grandes. Você nasceu para mim, tampinha.

 Você nasceu para mim, tampinha

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Até a próxima.

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