Capítulo III: Protocolo

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A luz forte que surgiu de repente no quarto, fez Sasuke despertar incomodado. Mesmo com os olhos fechados, ele pôde notar os vidros fumê deixarem a luz forte entrar pelo cômodo sem receberem sua permissão.

Um resmungo saiu de sua garganta tentando cobrir os olhos com o edredom felpudo.

-Sasuke, está na hora de se levantar. -Aquela voz, mas suave do que se lembrava, fez o gênio sentar-se na cama em um pulo.

A imagem de sua Sakura parada na beirada da cama o encarando com ternura deixou uma dor profunda em seu coração. Lembrou-se então da noite anterior, quando finalmente havia dado vida ao projeto que gastou tanto tempo se dedicando. O projeto sangue azul. Lembrando-se também, de que aquela não era sua Sakura. 

Suspirou derrotado. Sentia saudade de rosada e de seu humor ruim em manhãs quentes como aquela. Sentia-se assim todos os dias nos últimos seis longos anos.

-Como conseguiu autorização para ativar a iluminação do ambiente? -O Uchiha perguntou sério sentindo sua garganta doer recordando-se de que quase todos os sistemas da mansão eram ativados por sua voz.

-Eu me conectei ao sistema de voz da casa. -O Android respondeu simplista.

-Você hackeou minha secretária? -Sasuke esboçou um sorriso desacreditado.

-Não Sasuke, eu apenas me conectei à ela. -Ela respondeu com o cenho franzido, fazendo o seu inventor balançar a cabeça em negação.

-Bom dia, Senhor Uchiha. -A voz robótica foi soada nos alto falantes do quarto. A sua secretária/assistente/governanta era uma das poucas companhias com quem o homem trocava algumas palavras nos últimos anos. -A temperatura de hoje é de 36° com provável tempestade daqui à 12 horas, às seis da tarde.

-Obrigada, Lótus. Quais são meus compromissos para hoje? -Sasuke perguntava enquanto se dirija para a enorme porta à esquerda na intenção de escovar os dentes.

-Sua agenda foi reformulada. -Lótus anunciou alguns segundos depois.

-Foi o quê? -O Uchiha pôs a cabeça para fora do banheiro com a escova azul presa entre os dentes enquanto encarando o Android de cabelos róseos que arrumava sua cama.

-Reformulada. Sinônimo de redefinir.  -A rosada repetiu de forma simples outra vez.

-Por que fez isso? Eu não te dei esse comando.

-Sinto muito Sasuke, mas sua saúde está precária! Tomei a liberdade de mudar seu estilo de vida antes que seu tempo de vida seja reduzido pela metade. -O Android estava parado em frente a porta entreaberta olhando Sasuke secar o rosto com uma toalha escura.

-Tomou a liberdade... -O homem alto e pálido passou as mãos pelos cabelos escuros e bagunçados, desvencilhado do robô de 1,65 parado em sua frente. -Não faça mais essas coisas antes de me consultar ou de um comando meu, entendido?

-Claro, Sasuke. -O robô deixou o rosto monótono para expor um sorriso fechado seguindo o dono escada à baixo.

Inteligência Artificial pode ser perigoso. Ainda mais quando você coloca os traços de uma médica em um robô com acesso ilimitado à rede. Sasuke pensou estar em perigo, até porque sua noiva era sim muito controladora, especialmente sobre sua saúde, e o Uchiha pode negar arduamente, mas ninguém acreditaria caso ele dissesse que não sentiu saudade disso.

O robossista nunca pensou que teria aquele figura atrás de si que lembrava tanto sua ex-noiva. O cheiro, principalmente. Talvez fosse as roupas que ela usava que foram retiradas do closet que pertencia a sua amada, intocado há muitos anos. Por conta do RX30, o pequenino robô de limpeza, as coisas de Sakura estiveram sempre limpas.

Olhou de relance a figura que caminhava com um olhar inexpressivo. As piscadas longas e o peito sem mover. Uma copia perfeita, pensou, da realidade. Mas não era real.

Ao chegarem na cozinha, Sasuke foi direto à cafeteira posicionando uma caneca ali e ligando a maquina, mas o resultado foi apenas um barulho seco. O Uchiha braquejou abrindo o eletrodoméstico para verificar se havia pó ali, constatando que não. Xingou quando abriu o armário e viu que também não havia nenhum pacote por lá. 

-O pó de café acabou. -Aquela voz disse o óbvio para Sasuke.

-Não me diga... -O moreno sentou-se na bancada da cozinha sentindo a cabeça latejar como sempre.

Sua saúde não estava das melhores e tinha total noção disso, principalmente porque Itachi não o deixava esquecer. Mas desde que perdera Sakura, não se incomodava com a saúde, especialmente com a mental.

-Certo, eu não digo. -A rosada respondeu enquanto trazia consigo uma bandeja. -Mas não se preocupe sobre o café, Sasuke, eu preparei uma refeição rica em vitaminas e ferro como seu corpo necessita.

Uchiha retirou a mão dos olhos encarando aquele prato com ovos mexidos, bacon, salada de fruta e um enorme copo com suco de laranja. Não gostava de suco de laranja, principalmente se estivesse doce demais.

-Constatei que seu corpo está com escassez de hemoglobina. Mais um pouco e desenvolverá um caso grave de anemia. Além disso, é apenas um dos muitos problemas que você apresenta. -O robô ditava todas aquelas palavras como uma profissional. -Contudo, com essa rotina, se recuperará mais depressa.

-Quando foi que aprendeu a cozinhar, se não te programei para isso? -Não estava surpreso com os termos científicos que o robô falava, até porque foi ele mesmo que adicionou esses traços à ela. Mas se surpreendeu com toda aquela comida bem preparada em sua frente, Sakura era uma péssima cozinheira.

-Há quatro horas. -O sintético andou até o fogão, tirando do forno um bolo recém assado o qual o cheiro invadiu toda a mansão. -Eu assisti TV.

Sasuke não se surpreendeu. O prodígio da tecnologia havia conseguido criar uma Inteligência Artificial, não só mais uma, mas sim uma AGI, a primeira no mundo! Definitivamente isso era um tabu, apenas a ideia de mencionar isso em voz alta geraria uma adversidade em incontáveis níveis, principalmente se essa ideia fosse à público. Por isso, Sasuke era tido como tão reservado e discreto, já gerou muitos problemas apenas em expor suas opiniões.

Os humanos temem as máquinas, pois, ao contrário dos humanos, elas são perfeitas. 

De repente Sasuke se pegou admirando o que criara. Da mesma forma como fazia quando Sakura estava viva... Gostava de ficar observando-a dormir ou então de olhar ela concentrada fazendo as unhas. Ou quando ela amarrava o cabelo quando levava algum jogo deles a sério demais. Ou quando saia do banho com os cabelos molhados, mesmo que parecia que alguém matou o Patrick Estrela em seu banheiro.

Voltou a realidade com aquela imensidão de tristeza que o atingia a maior parte do dia. Aquela que nunca ia embora e que o atormentava sempre. Aquela que o impedia de dormir ou que nunca o deixava levantar da cama. Ou aquela que não permitia outras pessoas pronunciar o nome de sua falecida amada sem que aquilo causasse uma enorme dor a qual ele disfarçavam com um falso ódio.

O Uchiha escutou uma batida na porta e franziu o cenho automaticamente. Não era comum receber visitas, muito menos na porta da frente sem que sua presença fosse anunciada e autorizada.

Olhou então para os auto falantes da cozinha, esperando que Lótus se pronunciasse dizendo que ouve uma falha em seus sistemas e que aquilo não ocorreria novamente. Porém, isso não aconteceu.

As batidas na porta insistiram e agora Sasuke expunha um semblante irritado.

-É o Doutor Itachi Uchiha, seu irmão. -A rosada anunciou ao decifrar a expressão confusa de seu inventor. Esse lhe lançou um olhar quase indignado, muito surpreso.

-C-como...? Quer saber, não me diga. Só quero entender o por quê de tê-lo o deixado entrar sem antes me perguntar, Sakura?! -Os olhos de Sasuke se sobressaíram ao notar que havia pronunciado aquele nome. Não só por ter pronunciado, como também por ter utilizado com o robô.

-Ele esteve presente ontem das dez horas da noite às duas horas da manhã de hoje. -A voz respondeu alguns segundos depois de uma forma calma ainda cortando algumas fatias do bolo de uma maneira bem meticulosa.

O Uchiha bufou deixando seu café da manhã inacabado e indo até a porta cujas batidas ainda insistiam.

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⏰ Última atualização: Feb 22, 2022 ⏰

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