AMOR PRA RECOMEÇAR - LIZIERO

15

Depois do ocorrido na cabine um clima estranho havia se instalado entre mim e o jogador, o que me levou a mandar uma mensagem o chamando pra conversar. 

Já estava no meu apartamento, e havíamos combinado que a conversa aconteceria aqui.
Então me apressei em dar uma breve organizada na casa - já ouviram falar da expressão "limpar apenas onde o padre passa"? Pois foi exatamente o que eu fiz. Limpando apenas onde era visível aos olhos. Tomei uma ducha rápida, e estava terminando de me vestir quando interfonaram da portaria anunciando a chegada do jogador, liberei o mesmo e corri pra terminar de pentear meu cabelo.

Esperei Liziero na porta ainda com uma escova de cabelo nas mãos, o mesmo esboçou um meio sorriso ao me ver. Nos cumprimentamos pela segunda vez naquele dia com um abraço, o desconforto de ambos era palpável, mas lhe dei passagem e o mesmo adentrou meu pequeno apartamento.

- Você já jantou? - perguntei quebrando o silencio incomodo que existia entre nós, enquanto o mesmo ocupava o local vago ao meu lado no sofá, ainda a uma certa distancia - Vou pedir algo pra comermos então. O que você gosta de comer?

- Pode ser uma pizza. Acho que é um clássico - disse, soltando uma risada anasalada em seguida e eu concordei. Usando o celular em minhas mãos pra fazer o pedido

- Então, acho que temos coisas pra resolver enquanto a comida chega - digo colocando o celular na mesinha de centro, passando a encarar o homem a minha frente - Eu realmente não quero que fique esse desconforto entre nós, sei que conheço você a pouco tempo e essa é só a segunda vez que nos vemos pessoalmente, mas eu gosto muito da sua companhia. E não é por ser o Igor Liziero, jogador do São Paulo, mas sim pela pessoa a qual conheci além disso. O amigo, o cara divertido que conheci meses atrás pelas conversas virtuais - disparei a falar - Então o que quer que esteja acontecendo, eu espero que a gente consiga resolver, eu não quero pensar em ter que me afastar de você, mas se for o que achar melhor só quero que me avise logo.

- O que? - ele me olhou confuso - Eu não quero que se afaste. Meu Deus! Eu nem quero pensar nessa possibilidade, você tomou um espaço na minha vida muito grande, isso envolve meu circulo de amizade também. E eu concordo com o que você diz sobre nossa relação ir além de eu ser o jogador que você admirava pela televisão. Já passou disso faz tempo - ele falava olhando nos meus olhos - Porém é só a segunda vez que te vejo e já sinto muitas coisas. E é exatamente isso o que me assusta - ele fez uma pausa, parecendo buscar as melhores palavras a serem ditas - O Reinier veio falar comigo... - fez uma nova pausa, e eu não sabia muito bem o que esperar do que vinha depois - Bem, ele disse que você não achava que seria possível um interesse além de amizade vindo de mim - mais uma pausa, e dessa vez ele coçou a nuca em sinal de nervosismo - Pra falar a verdade, nem eu!

- Está tudo bem! Não sei se ficou claro, mas eu gosto de ser sua amiga Lizi, e se seu medo é que eu venha a confundir as coisas, pod... - ele me interrompeu

- Eu não quis dizer isso. Eu não terminei o que pretendia dizer, só tô procurando as palavras certas pra usar - ele se explicou

- Certo, pode relaxar quando a isso. Não precisa ter medo de me magoar, eu sei muito bem onde tô me metendo

- Arrisco dizer que não sabe, não. Na verdade, eu tentei buscar as melhores palavras, mas você tá entendendo tudo errado - deu um breve suspiro antes de continuar - O que eu tava querendo dizer é que também não achei que fosse possível se interessar por alguém apenas por troca de mensagens, mas que impressionantemente foi o que aconteceu - não consegui segurar minha surpresa - Desde a primeira vez que te vi algo aqui dentro se desconfigurou, e eu tentava me manter racional, já tendo em vista toda a complexidade que envolvia isso. Além da logística de onde moramos, ainda tem o lance com o menino que te levou a me mandar as mensagens. Que apesar de você não ter comentado mais nada sobre ele, algo aqui dentro ainda me diz que ele tá na jogada - ouvia cada palavra ainda incrédula e tentando processar tudo, ele continuou - Mas você deve tá pensando que sou muito emocionado, e que sequer nos beijamos pra eu já está pensando em tudo isso. Em minha defesa eu não acho que beijar você facilitariam as coisas aqui dentro - apontou para o próprio peito - E o que me assusta é que isso nunca me ocorreu antes, em outras situações eu não hesitaria em te beijar naquele primeiro dia na praia. Acredite, não foi por falta de vontade, tudo o que eu mais queria era ter feito aquilo, mas precisava que você soubesse de tudo isso antes.