Fênix Sem Asas

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• Atenção: Este capítulo pode conter gatilho, se for sensível a esse conteúdo por favor não leia•

Como um anjo que rejeitou o lado da luz, ela foi jogada ao mais profundo abismo onde suas asas foram acorrentadas.

Não saberia dizer quando seus sorrisos viraram lágrimas, ou ao menos dizer quando sua pele branca tornou-se vermelha e cheia de cicatrizes. Ela estava em seu próprio inferno, onde a mesma era o próprio diabo.

Precisava-se de um padrão para entrar em um grupo, uma nova realidade, sendo que poderia criar a sua própria.

Para todos, ela era uma gorda nojenta, ou uma magra anoréxica. No fim tinham razão, quando criança era gorda e quando jovem, um esqueleto.

Eles não tinham razão alguma, minha criança.

As meninas mais encorpadas diziam-lhe para comer besteiras que ganharia corpo, mas ela o fazia e nada ocorria. Seria uma dose mais alta?

— Eu não posso desistir! Eu preciso disso, eu vou PROVAR PARA ELES que eu consigo SER IGUAL A ELES. -disse a jovem com lágrimas nos olhos.

A comida entrava com a função de lhe fazer "mulher", lhe proporcionar um belo corpo, dar o que eles queriam ver mas no fim, ela era só uma gorda imunda que entupindo de comida. Suas lágrimas assim como a dor tinham que sair, e saíram junto com a comida antes presente em seu estômago, porém agora, ela voltava a ser a garota anoréxica.

Eram dois extremos muito fortes:

comer tudo ou não comer nada.

Mas como agora a "moda do momento" era a de garotas magras e bem encorpadas, tinha que sacrificar sua sanidade e usar seu caos ao seu favor. Dois sutiãs para um seio mais farto, duas calças para pernas mais cheias, uma boa base junto do lápis de olho preto, batom rosa e máscara de cílios, para completar. Claro, tudo isso sem comer.

Mesmo sabendo que era arriscado e muito perigoso, ela buscou uma solução na internet, a dieta da bela adormecida. Consistia em só ter uma ou no máximo duas refeições, e para não sentir muita fome, dormir o restante do dia.

Funcionou, só não contava com desmaios e quedas de pressão ao decorrer do caminho. Ela perdeu muito peso, mas afinal, não era esse o molde a perfeição?

Nada supria algo muito importante, sua solidão, sua dor. Ela não sentia nada ou sentia tudo, era muito confuso e doloroso. Eram sempre dúvidas e nunca certezas, e se as houvesse, eram falsas. Ela caiu em algo que não acreditava, ela caiu em depressão profunda.

Omitir, não sentir, não deixar saber.

Ninguém poderia saber afinal, nem a mesma sabia. O único que sabia era que todas as noites como modo de se acalmar e da dor melhorar, teria de desenhar para seu braço enfim sangrar.

Era deplorável seu estado, parecia um drogado em busca de seu entorpecente para esquecer-se dos problemas. Sua mente era uma droga ao qual viciava-se em vê-la morrer a cada dia.

Sempre um surto, sempre um medo. Quando não era sua depressão era sua ansiedade a atormenta-la, estaria no inferno? Talvez o mesmo fosse menos pior.

Buscou ajuda por sua própria escolha e por sugestão da Avó Judyth, e foi ao consultório do Doutor Gabriel, que também era pastor. Foram várias sessões e a cada uma, uma melhora ou uma recaída, afinal, para subir teria de cair primeiro. Ela confiava nele, gostou dele e o viu como um bom amigo. Ele não lhe julgava, não lhe olhava estranho, apenas fazia questionamentos e perguntas que a mesma nunca tinha feito.

— Olhe essa imagem, temos uma menina olhando para uma grande janela que provavelmente é de um castelo ou uma torre em meio a uma mata. O que é isso dentre as folhas? -perguntou observando a garota.

— Fogo. -responde de imediato.

— E porque não poderia ser a luz? Um raio de sol que talvez batesse alí. -diz sugestivo.

Nesse momento ela observava como a sua "luz" significava dor, enquanto a dele, era esperança. Leu uma de suas histórias e disse até ter temas pesados envolvidos na mesma, mas mesmo assim gostou. Seria verdade? Ela gostava de pensar que sim.

Ela tinha bloqueios, via o que não era e acreditava que estavam sempre tentando fazê-la sentir-se bem. Era um círculo vicioso onde sua realidade não condizia com a dos demais.

E foi aí que ela pensou, porque não criar a minha realidade?

Era um mundo tão mágico, tão lindo e tão livre que ninguém tinha acesso, somente a garota de asas quebradas. Portas e janelas trancadas, cortina fechada, celular 100% carregado, fones de ouvido e volume no máximo. Era assim que entrava em seu mundo.

Ela fingia não dançar mas dançava muito, principalmente dança contemporânea, onde seu quarto era o palco e seus amiguinhos de pelúcia, a plateia. Sem julgamentos, sem rótulos, sem lágrimas, sem dor.

Com os olhos fechados a garota dançava ao som da música posta, ela podia sentir-se viva e principalmente, podia ser ela mesma, sem máscaras, e sem filtros.

Escrever também tornou-se um meio de fugir de sua realidade. Uma hora ela era uma louca presa em um hospício, e em outra um anjo em busca de suas asas.

Foi assim que sua primeira performance, Cisne Negro, e seu primeiro livro, Anjos Suicidas, saíram.

Mas a dor não fôra embora totalmente.

Dentro de tantos problemas, a jovem criou um certo medo de dormir. Sentia-se observada, podia ver vultos em seu quarto e jurava ouvir alguém batendo e sua porta na madrugada. Com isso, foi a um especialista onde começou seu tratamento com remédios.

Cloridrato de Trazodona, um antidepressivo que serve para casos de ansiedade e insônia.

Ajudou muito, o efeito era imediato, perfeito para seus demônios internos, mas mesmo assim, era muita dor, era tudo muito ao extremo, e em sua própria pele descontou a fúria de sua dor e a tristeza de suas lágrimas.

— Quando eu perco o controle coisas ruins acontecem...principalmente comigo. -diz em lágrimas para Judyth.

Sua Avó que era sua conselheira, via essa dor e pediu a Deus uma orientação, um anjo que pudesse livra-la desse tormento.

Deus a ouviu, mandaria alguém para lhe ajudar, só não disse que seria um demônio ao invés de um bom anjo.

Seus amigos ajudavam mas a dor não saía, sua família ajudava e não acaba, Deus lhe ouvia mas parecia nada acontecer.

Mal sabia ela que nesse caso, o amor não era seu antídoto mas sim, o ódio.

Nove meses no inferno para obter o paraíso, mas valeu a pena para a garota. Depois de ser pisoteada por seu ex-namorado Phinneas, ela começou a ver que seu amor próprio nasceu da dor, mas que não doeria para sempre ou melhor, nunca mais doeria.

Se livrar dele foi o melhor que fez, até seu pai com quem ela não lidava muito bem, ficou extremamente feliz, igual aos seus amigos e principalmente, a própria menina.

Ela agora se amava acima de tudo. Não se deixaria contentar com tão pouco, ela agora era feliz. Um verdadeiro anjo que recuperou suas asas perdidas, e que assim como a fênix, ressurgiu das próprias cinzas.

Olá roseslunaris, tudo bem com vocês? Bom, esse capítulo foi extremamente difícil para mim, eu chorei muito e diversas vezes o reescrevi, mas espero que possa estar do agrado de todos. Me desculpem o "atraso das atualizações", em breve virei aqui mesmo dizer o real motivo do meu afastamento de uma semaninha. Me perdoem se houver algum erro ortográfico, e se fiz alguém se sentir mal com esse capítulo, a intenção não é essa mas sim mostrar o quanto a nossa querida Emily se recuperou dos traumas do passado. E para finalizar, hoje é aniversário do meu irmão querido, então em sua homenagem, teremos mais uma atualização dessa história na terça-feira, tá bom meus anjos? Por hoje é só isso, nos vemos no próximo capítulo, beijos e borboletas🦋💙

Deus Ouviu Minhas LágrimasOnde histórias criam vida. Descubra agora