As memórias perdidas de Nancy North

PRÓLOGO

Tenho um livro para finalizar, o meu primeiro livro.

Ao contrário do que pensei quando decidi ser escritora, a minha primeira obra não se trata de uma ficção, de uma história criada e inventada por mim. Se trata da história de Nancy North. Uma ex-atriz de filmes adultos como ela preferia chamar.

Nancy sempre julgou que o nome dado a esse tipo de filme, aquela palavra que começa com a letra P, implicava várias questões.

Quando aceitei escrever o livro, Nancy propôs-me algumas condições, sendo elas:

1. Não usar a palavra que começa com a letra P. quando ela estiver falando sobre, mesmo que ela por acidente a diga. No demais, posso usar.

2. Não acrescentar nada que não foi dito por ela ou por terceiros só para deixar a história mais emocionante, ou menos chata. "Que se dane as pessoas, essa é a minha história." Palavras dela, não a minha.

3. Nunca julgá-la, mesmo que isso se torne difícil.

4. Jamais tratá-la como Sra. Nancy. Sempre e apenas Nancy.

5. SEMPRE acreditar nela e nos seus momentos de lucidez.

Ah, certo! Esqueci de falar a vocês que Nancy tinha 'alzheimer' e vivia num lar para idosos. Talvez vocês estejam curiosos para saber como conheci Nancy, como se idealizou a ideia de um livro sobre sua vida. Alguns de vocês podem estar se questionando como foi o processo da escrita do livro visto que a Sra. Nancy, oh! certo... Visto que Nancy tinha alzheimer. Posso adiantar à vocês que foi um processo difícil. Quando Nancy me falou que o título "filme pornô" implicava várias questões, eu imediatamente me questionei sobre quais questões seriam essas e no decorrer dos nossos encontros ela me pontuou cada uma e eu entendi a sua recusa.

Devo dizer que a sua história é uma montanha russa e okay, talvez isso seja clichê mas é o ditado que mais se aplica. A sua vida foi uma montanha russa. Nancy sofreu, lutou, perdeu, ganhou. Nancy morreu e sobreviveu.

Agora me pego pensando como finalizar sua história. Não quero decepcioná-la. Não posso! No processo de escrita deste livro eu acreditei que o mais difícil seria identificar seus momentos de lucidez, mas não, não mesmo. Finalizar sua história sem ela aqui para me guiar e me ajudar não está sendo nada fácil. Me apego em uma das últimas coisas que ela me disse.

"Acredite no seu potencial, acredite que você é capaz, porque você é. Não deixe que te destruam assim como fizeram comigo."

Eu não vou decepcioná-la.