Aqueles olhos castanhos

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Sentei-me ao lado da banheira, as minhas pernas estavam fracas demais depois de ouvir aquela horrível mensagem. Como era possível que alguém soubesse o que meu pai tinha feito? Eu tinha chegado a tão pouco tempo, quase ninguém se tinha cruzado comigo, e muito menos sabiam o meu nome. Tentei-me acalmar, respirar profundamente e pensar com mais clareza. Algumas das pessoas da minha antigua cidade, sabiam para onde me iria mudar, talvez isto fosse apenas uma brincadeira de mau gosto, pois as pessoas eram cruéis demais . Mesmo sem saber a verdade sempre ouviram a versão dos meios de comunicação e estes mentiram. Eu lembro como se fosse ontem,quando se soube toda a verdade sobre meu pai. Nesse dia a minha mãe e eu tínhamos saído para comprar algumas coisas, quando estávamos no parquímetro uma série de pessoas se aproximaram  e começaram a insultar e desprezar-nos, a minha mãe não disse nada, apenas guardou as compras na mala e entrou dentro do carro. Quando se sentou no banco não aguentou mais a pressão pousou a cabeça no volante do carro e começou a chorar desconsoladamente. Foi aí que entendi que quando a maioria das pessoas acreditam que fizeste algo horrível mesmo não sendo assim , te desprezam, te humilham, algumas até chegam a desejar a tua morte. Ninguém se importa se o que se diz sobre ti é verdade ou não, e muito menos se preocupam pelos teus sentimentos. É nesse instante que percebes que estás num beco sem saída, sozinho, que nada nem ninguém estará lá para te ajudar a levantar ou para te socorrer, porque as palavras de uns tem mais poder que as verdades de outros.
Levantei me do chão, vesti o pijama e fui para o meu quarto, ao entrar no quarto dirigi-me a janela para fechar as cortinas pois a minha janela está virada para as casas da frente. Quando ia fechar a cortina olhei para fora e vi uns olhos castanhos fixados na minha janela, cruzamos os olhares apenas por uns segundos, era um rapaz com os olhos castanhos escuros e de repente ele fechou a cortina. Porque estaria olhando a estás horas pela janela do seu quarto? O que estaria procurando? Mas a pergunta que mais passava na minha cabeça era, porque olharia para a minha janela se nunca o vi nem sequer sei quem é? Foi ele que me mandou aquela mensagem, e estaria olhando para ver se eu estaria acordada e tinha ouvido o que ele mandou?
Não sei como tinha adormecido nem a que horas, desde o momento que me deitei na cama as mesmas perguntas passavam pela minha cabeça uma e outra vez.
Hoje era o primeiro dia que as aulas começariam de forma oficial, finalmente conheceria meus professores e colegas de aula. Peguei uma peça de fruta e fui esperar o autocarro. Quando subi ao autocarro sentei me ao lado da janela pois gostava de observar os sítios pelos que passava para conhecer melhor esta cidade.
- Olá, não sabia que moravas tão perto de mim, não te tinha visto antes. Também não pego muito o autocarro normalmente traz me o meu namorado.
Aquela voz era me familiar, mas não conseguia recordar de  quem era por isso desviei os olhos da janela e olhei para lado e la estava ela Sofia.
- Oi, sim moro a 5 minutos de aqui, mudei-me a pouco tempo por isso não me tinhas visto.
- Uau que bom, estás a gostar?
- Sim, é bastante bonito.
Desejava com todas as minhas forças que ela não me perguntasse o motivo de eu ter me mudado para aqui. Pela minha alegria ela não me perguntou nada.
Tenho de confessar que tinha uma má imagem da Sofia, passamos o  todo juntas e foi bastante divertido, ajudou-me a não passar o dia sozinha porque ainda não conhecia ninguém e agradeço imenso ela ter me acompanhado.
- O meu namorado vem me buscar agora, iremos a um bar que faz o melhor café da cidade, tens de vir connosco provar
Queria mesmo ir , assim conheceria novos sítios e também pessoas novas mas não queria incomoda-los, por isso rejeitei a proposta.
- Andá-la, será divertido anima-te, e depois ele leva-nos a casa, morámos todos perto.
- Ta bom, vamos então!
Um carro preto esperava- nos do outro lado da rua, Sofia  caminhava rápido a minha frente  em direção ao carro. Quando lá chegou, saiu do carro um rapaz alto com roupa preta que imediatamente a abraçou, eu fui me aproximando lentamente, não queria estragar aquele momento.
Ao notar a minha presença se separaram, eu estava olhar para o chão, sentia-me um pouco incomoda vendo como eles se beijavam. Num intento de ser simpática cumprimentei-o, para não parecer antipática olhei para ele, e aqueles olhos castanhos fizeram o meu coroação congelar, eram os mesmos olhos penetrantes que ontem à noite me observaram desde o outro lado da rua, aqueles olhos que me fizeram perder horas de sono. Ele também me reconheceu estava igual de nervoso que eu,   naquele silêncio incomodo ouviu-se como ele fazia o esforço e engolia em seco.
- Está e a Isabel, ele é o Tomás meu namorado
Nenhum de nós conseguiu dizer absolutamente nada, apenas acenamos com a cabeça.
-  Bom, agora que já se conhecem vamos lá beber aquele delicioso café.
Eu sabia que não era certo fazer isso, mas a partir de agora tinha de me apegar mais a Sofia e passar mais tempo com ela se queria descobrir quem era o Tomás e se ele sabia o  segredo da minha família. Não estava disposta a destruir a minha vida novamente por algo que não fiz, estava disposta a manter este segredo custe o que custar.

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⏰ Última atualização: Jun 21, 2020 ⏰

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