Quatro

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Beomgyu estava nervoso. Estava tão confuso. Como assim Yeonjun esteve desaparecido por cinco anos? Estava caminhando pelas ruas a todo vapor. Tinha muitas coisas para perguntar ao garoto de cabelos loiros.

Quando parou em frente ao portão, colocando a mão nas barras de ferro, levou um choque fraco. Empurrou o portão e seguiu para a entrada da casa. Bateu na porta com força. Foi aberta logo após duas batidas. Yeonjun estava parado do outro lado, com um sorriso fraco no rosto.

- Entre, por favor. - deu espaço para Beomgyu passar.

- Eu tenho algumas coisas para te perguntar. - comentou Beomgyu com a voz suave. Entrou e ficou de frente para Yeonjun, que fechava a porta.

- Pergunte, então. - Yeonjun ficou a menos de um metro de Beomgyu.

- Vou ser direto. - começou e olhou nos olhos do garoto. - Você era o garoto que estava desaparecido? Há cinco anos?

- Parece que você me descobriu. - abaixou a cabeça.

- Por que diabos você ficou aqui nessa casa por cinco anos, cara? Você tem algum problema? - a raiva tomou conta de Beomgyu. - Seus pais devem ter ficados preocupados por todo esse tempo.

- Eu sei. - a voz de Yeonjun falhou. Beomgyu se aproximou e levou a mão até o rosto de Yeonjun, que se esquivou bruscamente.

- Você já tem... - fez as contas. - Vinte anos agora. Se você não quer morar com seus pais, pelo menos avise que está bem e depois vai embora.

- Tem coisas que não podem ser trazidas à tona.

- Mas são seus pais. - Beomgyu tentou colocar a mão no ombro de Yeonjun, mas ele esquivou-se novamente. Não sabia se ficava triste por ele, ou se ficava com raiva.

- Beomgyu! - Yeonjun aumentou a voz e foi até a porta, abrindo-a. - Vá embora, por favor. Volte outro dia.

- Mas...

- Apenas vá! - ordenou. - E não conte para ninguém sobre mim. Caso contrário, você é um homem morto.

A última parte da frase assustou Beomgyu. O garoto pareceu falar sério. Apenas saiu da casa. Sem olhar para Yeonjun nem nada. Poderia voltar outro dia.

Depois de dois dias em agonia, Beomgyu não aguentou mais esperar. Depois do trabalho, foi direto para a casa de Yeonjun. Beomgyu era atrevido. E além disso, era curioso e insistente. Iria descobrir a todo custo o que estava acontecendo.

A porta da antiga casa estava entreaberta. Quando entrou, Beomgyu avistou Yeonjun parado no topo da escada do lado direito.

- Podemos conversar hoje? Se não quiser, tudo bem. Eu vou embora.

- Eu preciso te mostrar uma coisa. Irá esclarecer tudo que você quer saber. - falou cabisbaixo. Aquilo era algo realmente sério.

Beomgyu andou rapidamente até o topo da escada, ficando de frente para Yeonjun, que tinha os olhos tristonhos.

- Tenho que te avisar uma coisa. - Yeonjun engoliu a seco. - Talvez você queira sair correndo quando ver o que eu lhe mostrarei.

- Espero que não seja tão ruim assim. - a respiração de Beomgyu ficou ofegante. Aquilo pareceu ameaçador. Ficou pronto para qualquer coisa que viesse.

Yeonjun cruzou os braços e caminhou lentamente na frente de Beomgyu. Depois de alguns minutos ouvindo apenas o som do ranger da madeira do piso, pararam em frente à porta misteriosa. A áurea que saía daquela porta fazia Beomgyu querer entrar e analisar cada detalhe do cômodo. Algo o puxava. Era como um... Sentimento? Beomgyu sentia desespero vindo de trás daquela misteriosa porta.

Yeonjun abriu a porta lentamente e deixou que Beomgyu passasse, que o fez com grande agilidade.

O cômodo estaria num breu completo se não fosse pelo médio buraco na parede. Havia uma enorme cratera no meio do cômodo. Não havia nenhuma mobília nem nada. Apenas o buraco no chão.

- Por favor, cuide para não cair. - Yeonjun falou com a voz tristonha. - Mas o que você precisa saber, está ali.

Yeonjun apontou para a cratera. Beomgyu engoliu a seco e se aproximou a passos curtos. Ligou a lanterna do celular e parou na beirada do buraco. Estava bambo. Era algo arriscado, mas Beomgyu estava disposto a pagar esse preço.

Quando apontou para o fundo da cratera, sentiu seu estômago embrulhar. Havia um esqueleto deitado, com as mãos sobre o que seria o seu peito. Era como se tivesse morrido sem esperanças. A sensação de desespero estava cada vez mais forte.

- Isso... Isso é de verdade? - perguntou sem tirar os olhos do que antes havia sido um corpo.

- Esse sou eu. - a voz de Yeonjun penetrou os ouvidos de Beomgyu de forma ensurdecedora.

- Pare de me zoar. - Beomgyu se virou bruscamente e levou seu punho cerrado ao rosto de Yeonjun. Sua mão passou através do corpo do garoto. Beomgyu sentiu como se tivesse acertado o vento.

- Beomgyu. Eu estou morto. Eu sou um fantasma. - explicou Yeonjun.

- Eu só posso estar sonhando. - Beomgyu se afastou da cratera e sentou no chão.

- Eu posso provar que está acordado. - Yeonjun se abaixou e chegou perto do rosto de Beomgyu. Formou um bico com os lábios e uma névoa azulada saiu de dentro de sua boca.

Era como se estivesse em estado de coma. Estava no mesmo lugar que se recordava. Estava em pé, ao lado da porta.

Em alguns segundos, um garoto apareceu pela porta. Usava as mesmas roupas que Choi Yeonjun. Parecia Choi Yeonjun. Era exatamente como ele havia o conhecido.

Ele trazia uma lanterna consigo. Passou por Beomgyu sem ao menos o olhar. Beomgyu estava nas lembranças de Yeonjun.

O garoto se aproximou do buraco, analisando o que havia lá dentro. Ouviu-se um estrondo e ratos passaram correndo entre seus pés. Em segundos, o garoto, tentando segurar-se em qualquer coisa que encontrasse, caiu dentro do enorme buraco negro. Beomgyu ficou horrorizado. Correu para perto do buraco e enxergou o garoto lá no fundo, com os ossos das pernas expostos.

De repente, o momento começou a passar rápido. O garoto gritava e gritava. Mas ninguém apareceu. Quando tudo estava consumido pelo breu, Beomgyu viu que, a partir da luz que o garoto jogava em seu rosto, saía fumaça de dentro da sua boca. Ele estava com frio. Em alguns segundos, vida do garoto foi se esvaindo. Até que então, deitou a cabeça, colocou as mãos sobre o peito e fechou os olhos. O garoto havia morrido no frio da noite na enorme casa solitária.

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