Cinco

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Beomgyu retomou a consciência. Viu Yeonjun próximo ao seu rosto. Sentiu seu pescoço arder. Aquele garoto estava muito perto dele. Beomgyu nunca havia ficado tão perto de alguém assim. Virou o rosto.

- Esse que você viu, era eu. - falou com a voz doce.

- Então você é um fantasma mesmo. - Beomgyu não sabia o que dizer. Nunca havia acreditado em fantasmas. E, de repente, estava falando com um.

- Agora você vai embora, não vai? - Yeonjun se afastou e ficou ele costas para Beomgyu.

- E se eu te disser que não? - Beomgyu levantou e se aproximou do garoto fantasma.

- Você vai ficar? - os olhos de Yeonjun se encheram de brilho.

- Por mais que eu esteja me borrando de medo, e achando que sou louco, é interessante. Digo. - Beomgyu estava feliz e assustado ao mesmo tempo. Estava se embaralhando em suas palavras. - Eu acho que vai divertido eu ter um amigo fantasma.

- Você não está brincando, não é? Faz cinco anos que não falo com ninguém e que não faço amigos. Eu era totalmente solitário aqui. Agora tenho você.

Beomgyu sorriu involuntariamente. Seu rosto estava quente. Seu coração estava pulsando forte.

- É melhor você ir agora. Está tarde, né? - Yeonjun deixou de falar formalmente e passou a falar como um jovem. - Você vai voltar amanhã? E depois de amanhã? E depois?

- Sim. Eu vou. - Beomgyu sorriu ainda mais. Yeonjun, apesar de ter seus vinte anos, parecia como uma criança.

- Tudo bem. Até amanhã! - acenou enquanto Beomgyu saía do quarto.

- Até amanhã.

E assim passaram-se semanas. Passaram-se até meses. Beomgyu ia todos os dias visitar Choi Yeonjun. Todos os dias com alguma curiosidade nova. Sempre perguntando como era fantasma. Se fantasmas sentiam fome. Se fantasmas voavam...

Todos os dias, apesar de estar morto, Yeonjun se enchia de esperanças. Achou que poderia se tornar o garoto feliz que era antes. E Beomgyu, quando se deu de conta, já estava totalmente atraído pelo garoto fantasma. Cada dia que se passava, seus sentimentos ficavam mais forte, e Yeonjun sentia o mesmo. Era como se, mesmo não estando no mesmo mundo, estivessem conectados. Era como a lenda Akai Ito. Choi Beomgyu e Choi Yeonjun estavam predestinados a se conhecerem.

Durante todo o tempo que passaram juntos, os dois arrumaram praticamente toda a casa. Ela já não parecia mais tão assustadoramente abandonada.

- Eu ainda não entendo como você consegue tocar nas coisas mas não consegue me tocar. - perguntou Beomgyu, ofegante depois de tanto trabalho árduo.

- Eu também não. Apesar de terem passado cinco anos, eu não sei nem metade do que é ser um fantasma. - deu de ombros.

- Você nunca saiu dessa casa?

- Nunca. Você só pode ficar no lugar em que morreu. Então não posso sair para fora do portão.

- Que tédio. - Beomgyu fez bico. - Fantasmas não vão para outro lugar?

- Só quiserem. Se o fantasma não estiver pronto para ir para outro lugar, ele não vai. Eu, por exemplo, queria continuar mais um tempo aqui, junto com os vivos. Todos os dias eu ia até o portão e ouvia as pessoas rindo. Sentia saudades disso.

- Agora você tem a mim. - Beomgyu sorriu.

- Sabe, Yeonjun. Eu quero sentir seus toques. Sentir seu cheiro. Sentir você. - Beomgyu sussurrou ficando de frente para Yeonjun. Os dois estavam na sala de estar.

- Eu quero o mesmo. Mas eu sou um fantasma. Não posso te tocar. - Yeonjun estava confuso.

- Não agora. Mas e se...

- Nem pensar! Você não vai se matar só para ficar comigo! - Yeonjun bateu na mesa.

- Yeonjun, é minha escolha. E é o que eu quero. - Beomgyu estava tão sério que Yeonjun se arrepiou.

- Mas e seus pais? E a aquela sua amiga Lexie? Eles vão ficar desolados sem você!

- Eu sei. Mas... Eles vão superar. Eu já escrevi uma carta. Deixei em casa e deixei a porta destrancada. Eles irão vê-la.

- Beomgyu... - Yeonjun deixou uma lágrima cair.

- Eu não sabia que fantasmas tinham sentimentos. - sorriu deixando uma lágrima cair também. - Bem. Eu não aguento mais esperar por você. Vamos.

Beomgyu pegou sua mochila e subiu até a escada que levava ao quarto com o enorme buraco. Se colocou de costas para a cratera e olhou Yeonjun, que tinha os olhos arregalados e úmidos.

- Eu ainda não acredito que você vai fazer isso. - falou com pesar.

- Eu vou. - tirou uma pistola de dentro da sua mochila. Yeonjun arregalou mais ainda os olhos. Correu até Beomgyu.

- Eu estou indo, Yeonjun. - apontou a arma para a cabeça, suspirou e atirou. Havia apertado os olhos. Não ouviu nada. Sentiu algo o segurar pela cintura. Quando abriu os olhos, viu Yeonjun o segurando, com um enorme sorriso entre lágrimas.

- Te peguei. - disse puxando Beomgyu, que estava prestes a cair no buraco.

- Eu estou confuso. O que aconteceu? - olhou para o buraco e viu seu corpo ao lado dos ossos de Yeonjun. Estava debruçado, com a arma na mão.

- Eu segurei seu espírito. Apenas isso. - Yeonjun sorriu ainda mais.

- Eu gosto de você, Yeonjun. - colou sua cintura na de Yeonjun e aproximou seu rosto do dele. - Na verdade, eu te amo.

Yeonjun colou seus lábios nos de Beomgyu. Finalmente podia sentir seu gosto, seu cheiro, seu toque. Os lábios macios de Beomgyu faziam Yeonjun querer mais. Seu peito, pela primeira vez em anos, se encheu de calor.

- Eu acho que nós estávamos conectados esse tempo todo. - disse Yeonjun. - Eu também te amo, Beomgyu. - o puxou para um abraço apertado.

Yeonjun e Beomgyu nasceram um para o outro. Nada iria os impedir de se amarem. Nem mesmo a morte. Agora, os dois tinham uma longa jornada pela frente.

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