Liberdade

53 6 8
                                    

Eu sabia que ele chegaria a qualquer momento, mas não pude deixar de me sentir nervoso. Depois que descobriram sobre nós, todas as tentativas de nos vermos haviam falhado e eu tinha medo de esta ser mais uma falha. Escondi meu corpo atrás da árvore e, mesmo sentindo frio, evitei acender uma fogueira para me aquecer para não chamar atenção com fumaça. 

Tentei pensar em todos os abraços que ganharia dele e que me esquentariam. Em todos os beijos que cobririam meus lábios com calor e carinho. Em seu cheiro que dominaria meu ser e me faria esquecer de todas as dificuldades que enfrentamos desde que julgaram nosso amor um pecado. Ele era o meu sol. A brasa que mantinha meu sangue quente.

Ouvi passos e me abaixei, espiando por entre as alta raízes e vendo meu amor se aproximar, parecendo perdido na floresta escura. Agarrei minha trouxa e caminhei até ele, que me enxergou e suspirou em alívio. Seus braços me cercaram, a sensação de lar que eu tanto sentira falta finalmente estava de volta.

Ele estava ali, comigo, depois de tanto tempo. Senti que poderia chorar apenas por perceber seu respirar batendo em meu pescoço e o seu cheiro de lírio tomando conta do ar. Seus dedos entraram em meu cabelo e eu apenas fechei os olhos, aproveitando cada toque. 

Ele me prometeu uma vida inteira de amor e liberdade. Sussurrou no meu ouvido o quando me amava e o quanto sentira minha falta. Beijou em meu pescoço tantas juras de felicidade, cantou para mim todas as maravilhas que me faria conhecer com sua língua e com sua alma. Que ele dizia ser eternamente minha, parte de mim. E me pediu para irmos embora, o quanto antes. 

Eu quis lhe responder que sim. Que segurar sua mão e atravessar aquela floresta até que chegássemos na luz ao fim das árvores, onde o sol que raiaria pela manhã exporia o tamanho do amor que eu sentia por ele. Quis viver com ele a bela eternidade em prazer que morava em seus olhos.

Mas a flecha que atravessava meu coração não deixara. Eu quase não sentia a dor, não a física. No entanto, observar em sua expressão o desespero crescer e perceber ele apenas em abraçar ao invés de fugir doeu mais que mil flechadas. Eu ouvia os cavalos se aproximando, trazendo homens dispostos a arrancar o meu amor de mim. Ele também ouvia, seus olhos enchendo de lágrimas ao me deitar no chão repletos de folhas úmidas me trazer para ainda mais perto. 

Sua mão tocara minhas costas, alcançando o corpo da flecha que agora era parte de mim. Ele me pedia perdão e explicava que não conseguiria seguir sem que estivéssemos juntos. Pedia perdão pela dor que me causaria e por empurrar ainda mais a flecha através de mim, até que atravessasse seu próprio peito, perfurando seu coração e nos ligando num abraço que eu nunca desejei, mas que queria que durasse para sempre.

Imagens lotaram meus olhos, estranhas e familiares, mostrando meu lindo sol vestindo todas as culturas que eu não conhecia, em todas as estações que o mundo abrigava. Ele era o meu amor em tantas vidas e me aqueceu em todas elas, assim como me aquecia agora, seu belo sorriso manchado de sangue. A alma que me esperaria e me completaria por todo tempo sem fim. E naquela vida, suspiramos juntos uma última vez.

Yoongi sentia os tapas em seu rosto e o asfalto quente sob as costas. Seus olhos abriam aos poucos, o sol ferindo através das pálpebras e machucando com sua luz absurda. Mas não mais que o aperto em seu peito. Era forte e compressor, como se quisesse marcar os delírios de Yoongi em sua carne para que ele não esquecesse. Por um instante, não conseguia responder Namjoon, que o sacudia e estapeava suas bochechas.

— Eu sabia que essa viagem era uma péssima ideia. Yoongi, consegue me ouvir? – chamou o amigo – Alguém chama uma ambulância, por favor!

— Eu estou bem – respondeu, já sentindo a consciência voltar – Foi só uma queda de pressão. 

De Lírios [Yoonseok]Onde histórias criam vida. Descubra agora