Manual de relacionamentos de Camz Rios

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Preciso te explicar uma coisa, nunca foi minha intenção me apaixonar por meninas, simplesmente aconteceu

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Preciso te explicar uma coisa, nunca foi minha intenção me apaixonar por meninas, simplesmente aconteceu. Sabe aqueles vídeos fofinhos que você manda no grupo da família no Whatsapp ou ao menos recebe de uns tios, de uma bebê provando doce pela primeira vez, arregalando os olhos, e agarrando com tudo como quem diz "como você ousa ter escondido isso de mim durante todo minha (reconhecidamente curta) vida"? Foi tipo isso. A diferença é que meu chocolate se chama Alexa, a morena do filme Barbie e o Castelo de Diamantes, e bem, pode-se dizer que meu vídeo descoberta-de-uma-paixão não será distribuído nem mencionado em nenhum grupo de família em nenhum momento próximo. Ou distante.

E a perda é verdadeiramente deles, quer dizer, um desperdício ter uma pessoa tão intensamente multi-talentosa em sua família e não poder se aproveitar disso. Dentre essas indiscutíveis qualidades estão: Poder identificar uma sáfica sem perguntá-la se a mesma escuta Hayley Kiyoko ou Girl in Red, citar o título de qualquer música do ANAVITÓRIA tendo escutado apenas por alguns segundos e saber sempre a medida exata de tempo da fina linha onde uma torrada ultrapassa "levemente tostada" para "cinzas". As primeiras podem não ser exatamente vitais para os membros da minha família mas a última é com certeza conveniente.

Brincadeira, eu também toco violão. Por algum motivo, muito possivelmente filmes de romance da Disney com algum dos Jonas Brothers, uma versão minha de oito anos chegou à conclusão de que o motivo pelo qual eu não conseguia fazer com que nenhuma garota se apaixonasse loucamente por mim não tinha nada haver com o fato de eu ter oito anos, bochechas maiores do que a cara, voz muito próxima de qualquer dublagem de Alvin e os Esquilos e, de novo, oito anos e sim porque eu não era artística o suficiente. Problema resolvido, só demorou meia década para tomar efeito, e digamos que minha estética só passou a ser reconhecida depois de mudar meu estilo drasticamente para uma versão mal desenvolvida do Harry Styles na era Fine Line e uns anéis de coco apertados demais pro meu dedo, mas ei, sacrifícios.

Pois bem, o problema não começou com a minha família (apesar de que vários transtornos psicológicos sim mas não estamos entrando nesse mérito) nem com algum grande trauma de rejeição da minha infância (se bem que quando Marcela Da Flor roubou meu primeiro beijo no quinto ano e depois nunca mais olhou pra minha cara eu me senti bem traumatizada sim), mas sim com Estela Schröder. A primeira regra do manual de relacionamentos de Camz Rios é curta e simples: Se você não consegue pronunciar o sobrenome da menina, cai fora. Sendo um, porque é cientificamente comprovado que pessoas de sobrenome alemão são mais propensas a te iludir (ou todas que conheci só coincidentemente eram geminianas) e dois, porque não dá pra flertar naquela vibe Draco Malfoy de usar o sobrenome da pessoa no fim de uma frase tendenciosa.

Enfim, Estela Schröder tinha três principais atributos: Uma paixão insaciável em pintar seu cabelo de todas as cores do arco íris e as que o faltam, o favorito dela era o rosa, o meu era o azul, um nariz grego que deixava meus dedos impacientes saltitando até que pudesse desenhá-la detalhe por detalhe, e escrevia como se suas entranhas explodiriam se não transformasse sua existência em poema. E claro era ótimo ler que sou mais bonita que os lilases de Monet e blah blah blah girassóis blah blah blah linha vermelha do destino blah blah blah explosão de estrelas no céu, até que um dia eu virei reticências, quase suficiente, a culpa dela por não saber me amar? O dos lilases e estrelas no céu eram sobre mim. O dos girassóis e da alma gêmea eram sobre uma tal de Jasmine. Jasmine. Não bastava ela roubar minha futura esposa e me deixar a um fio de mandar a sororidade feminina pro inferno, também tinha que estragar o nome da minha princesa da Disney favorita.

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