Inês Duarte e sua pouco convincente heterossexualidade

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Deus abençoe Santa Ágatha, suas praias, sua cultura e seu céu

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Deus abençoe Santa Ágatha, suas praias, sua cultura e seu céu. É isso que está escrito na tristemente feia bandeira da cidade, e acho que isso é o suficiente para entender um pouco da religiosidade eminente de quase todas as famílias naturais daqui. Minha família é baiana, de Salvador mesmo, e a razão de termos nos mudado permanece um mistério para mim e para meus pais, apesar deles se sentirem muito menos incomodados com isso do que eu.

Quando eu era pequena era ótimo, morávamos perto de uma igrejinha pintada de azul em meu tom favorito da cor e no fim da tarde grupos de gatos se reuniam no quintal de casa e passavam a noite inteira lá recebendo carinho e comida. Nessa época eu ainda não queria me transformar em um gato, poder ir e vir quando bem entender e ser mimada pelos vizinhos por minha genuína adorabilidade, não, nessa época eu queria ser gente, no máximo princesa, princesa bailarina e dona de uma confeitaria. Hoje em dia só princesa que me cairia bem.

"Inês, tem uma doida na ala dois fingindo ser um manequim, vai lá tirar ela vai"

Okay, o meu problema com Santa Ágatha reconhecidamente começou no dia em que conheci Virginia Apolinario. Primeiramente, o nome dela parece que saiu direto de um personagem de Jogos Vorazes e eu quero dizer isso do jeito mais ofensivo possível, porque sinceramente, me impressiona como nós normalizamos o nome Katniss. Katniss. E não tinha também aqueles irmãos lá que se chamavam Cashmere e Gloss? Caxemira e brilho labial. Segundamente, porque existem poucas coisas das quais realmente me orgulho nessa vida e uma delas é felizmente meu intelecto. Mas desde que uma pequena e insuportável Virginia de doze anos entrou no meu colégio com papaizinho pra pagar seu lugar como capitã do time de vôlei mesmo ela não sabendo nem dar um saque, ou capitã do clube de debate sendo que ela nunca responde nada, ou a "sorteada" para uma entrevista com as melhores faculdades do Nordeste por causa de suas notas que não eram metade das minhas, isso significa guerra.

...Uma guerra que ela sempre ganha. Igual hoje. Porque Virginia Apolinario sete anos depois continua sendo a tentação que Deus me trouxe diariamente testando minha habilidade de não exercer réu primário, e, minha chefe.

"Inês!" Gritou novamente, rosnando. Pés em cima da mesa, folheando uma revista, seria tão fácil pegar um dos abajures que vendem aqui e só... poof! Sem mais Virginia.  Mas não. Não porque eu preciso do dinheiro e porque eu sou um ser humano decente e porque tem câmeras aqui e eu não creio que meus anos assistindo Criminal Minds e CSI religiosamente tenham sido de muita ajuda no quesito como esconder um corpo, só em me deixar mais paranoica para no caso de se eu precisar esconder um corpo (nunca se sabe) viver em um medo eterno e profundo de que provavelmente vão o achar.

"Hm, com licença?"

"Shh!" A mulher respondeu, abruptamente balançada um de seus braços próxima a meu rosto, quase acertando-o. Não dava pra ver ela direito, só sabia que era baixa, mais baixa que eu o que é dizer muito, e um cabelo tão cheio e cacheado que escondia quase completamente sua forma "Não está vendo que tô me escondendo?"

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