Obscene: A Lonely Addiction

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    Não importava quantas vezes eu tenha tentado me abster dos seus lábios adocicados de veneno, o perigo que era ficar perto dele tornava tudo tão mais delicioso, que a minha pele flamejante pelo seu toque, arrepiava-me o corpo inteiro até que eu estivesse em sua cama, satisfazendo-me de seu gozo perolado.

    Eu estava prestes a morrer, estava convicto sobre isso. E certamente, não faria mais parte de seus planos sujos de sangue. E é por isso que sofro, que choro, que me lamento, pois não mais suporto saber que serei apenas mais um na pilha de cadáveres escondido onde (?), não sei.

    Sua pele branca e pálida, seus olhos ora esverdeados, ora vermelhos, seus caninos afiados, seus longos e duros dedos, suas unhas afiadas... Eu posso sentir seu hálito salgado contra a pele do meu pescoço, suas mãos empurrando minha cabeça no travesseiro branco banhado de um líquido escarlate. O meu líquido escarlate. Era um momento de honra ter seus dentes cravados em meu pescoço enquanto ele enchia meu corpo de porra. Este era seu talento especial e eu estava apaixonado por isso.

    Este era também um dos seus mistérios: a capacidade de me persuadir e me envolver na aura rubra de seu encantamento, de me enviar estímulos satânicos à metros de distância, de me fazer viajar milhas e milhas apenas para seu divertimento e a pior de todas: de me fazer ficar por mais tempo.

    Se você o visse, pele corada, olhos claros, longos cabelos pretos modelando seu rosto cativantemente feminino, você alegaria ser um homem comum. Mas quando era noite, uivando à luz da lua, de preferência à meia noite, quando todo o mal que nos cerca e a fétida lembrança da existência nos atormenta, é socando nossos corpos como uma dança mística que ele me transforma em Sol. E eu crepito na ponta dos seus dedos, mas não o queimo, ele quem me transforma em cinzas.

    Bruxo! Repugnante! Como ousa me deixar assim, completamente abandonado de suas sátiras sepulcrais e de sua falácia de filho da morte? Não resta em você nada humano, nem saudade? É na morte que fechamos o livro de nosso romance gótico?

    Tento me conectar com você, bebi seu sangue com prazer apenas para estar em prontidão de seus desejos sádicos, porém, jamais poderia ter imaginado que a maior dor que me proporcionaria era a de um amor perdido.

    Eu te odeio, mas por que estremeço ao lembrar de seus lábios vermelhos e inchados dizendo um eu te amo de uma violência tão calma que chegava a me fazer derreter em suspiros melancólicos, apenas pela ideia de não poder (mas querer) te pertencer pela eternidade?

    Arrependimento amargo é o de não ter enterrado, enquanto você dormia, a ponta da estaca em seu coração mortal de não-vivo, ignorando suas relutâncias de que vampiros nunca dormem e de que era à ti que minha mente pertencia. Após a dor de ter meu pulso em volta de sua esquelética mão, derramei minha cabeça em seu peito branco e macio, desculpando-me como um réu covarde em julgamento.

    Solitário, caminho através da noite ouvindo o chacoalhar de meus ossos debaixo da minha pele podre e fedida. E mesmo que as órbitas de meus olhos estejam arroxeadas, quase pretas e minha respiração esteja por um fio, eu chamo seu nome em seu santuário.

Gerard Arthur Way.

    Diante da cova límpida que esconde seu terno de madeira, caio. Eu não suporto mais pensar na morte, saber que existe uma não-vida em que estarei distante de todas as suas mentiras embaladas pelo seu sorriso de falso inocente. Seu indecente, sua superioridade e onisciência não terão piedade de mim? Está chovendo e eu sinto meu corpo sendo sugado pela terra preta do cemitério, você não vem me salvar? Eu te dei tudo que pude, me salve!

    Traga-me a vida outra vez com seu whiskey barato servindo de água benta. Ria de minha ressurreição e me traga prazer enquanto ainda tenho dor. Estou com saudades das nossas noites de puro e sujo amor, mas você não entende o que eu quero dizer. Caso contrário, eu não estaria longe de seus braços magros, mas fortes, que sempre me embalavam com um bebê.

Obscene: A Lonely Addiction [OneShot Frerard]Onde histórias criam vida. Descubra agora