Eternal Summer

❝Hum, Raphael❞

  Acordei com o meu despertador às 7:30 da manhã. Não tinha paciência nenhuma de me levantar e ir para a escola, uma parte de mim estava entusiasmada, outra receosa e outra anciosa. É sempre assim, todos os anos.

   Num pulo, pus-me de pé, abri o roupeiro e procurei algo para vestir: o maior desafio das 7:30 da manhã. Vasculhei-o de uma ponta à outra e decidi usar umas skinny jeans pretas, um blusão branco com um 'tigre de bengala a rugir' que sempre achei super fofo, pus um colar com o símbolo do infinito e as minhas all star azuis escuras, claro. Um clássico. Sentia-me bem fofa por isso deixei o cabelo solto, escovei-o e apressei-me para as escadas que davam ao corredor aberto com a sala de entrada. De repente deparo-me com Raphael sentado no sofá a ver TV! Parei e olhei melhor para certeficar-me que era ele e eu não estava a sonhar.

   - Hum? - murmurei enquanto mirava-o confusa. - Oh! O quê, ham?

   - Ash? Ashie? Ashie! - disse ele correndo para mim de braços abertos com um grande sorriso na cara.

   O Raphael é o meu primo. Ele mora noutra cidade longe daqui por isso quase nunca estamos juntos. Às vezes discutimos muito mas somos tipo melhores amigos. Ele tem 17 anos e eu tenho 15, mas damos-nos muito bem. Ah e ele é tipo super fantástico, ele é lindo, tem uns olhos verdes encantadores e um cabelo moreno, é alto e é magro. Anciei:

   - Raphael? O que fazes aqui?! Espera, estás cá há muito tempo? - estava surpreendida porque não o via há meses e adoro-o, mas o que fazia ele cá em minha casa? - Espera, não me chames de "Ash" nem "Ashie", chama-me Ashtrid, chama-me pelo meu nome!

   - Pronto, pronto, calma, estou a ver que a madame continua resmungona como sempre... - ele riu-se num ar gozão - Oh, eu cheguei cá ontem à noite mas como estavas a dormir não te acordei, a tua mãe não te avisou que eu vinha para aqui? Ela disse que eu podia ficar cá enquanto estivesse nas aulas e volto para casa durante as férias.

   - O quêeeee? - gritei - Ela não me disse nada! Como é possível? Espera lá, se estás nas aulas cá tu...

   - Siiiim! Eu estou na tua escola! Acertei? - ele interrompeu-me com aquela cara "topas?"

   - Ahhh! Não acredito! - abracei-o, estava tão feliz!, nem podia acreditar que o Raphael ia morar na minha casa e ia estudar na minha escola! Isto era de mais, eu poderia finalmente estar dias inteiros com ele eu não podia crer! Acalmei-me, mas rapidamente intervi - Olha, temos aulas agora às 8:30, já comeste?

   - Já, eu já estou pronto. Fazemos assim: tomas o pequeno almoço, despachas-te e vamos juntos para a escola. Aí vemos as turmas, vamos buscar os cartões, um horário extra sempre dá um jeitinho, não é verdade?, levantamos as cadernetas, tudinho, okay?! - ele sabia que eu estava nervosa, então puxou-me para junto dele, as nossas barrigas coloram-se, ele deu-me um abraço beijou-me a testa - Sei que estás nervosa... Consolada a minha menina? 

   - Consoladíssima! - sorri-lhe e diriji-me para a cozinha, para tomar o pequeno almoço.

   Peguei numa tigela, tirei o cereais, deitei o leite lá e peguei numa colher. Aproveitei e perguntei ao Raphael, estava a indireitar o sofá que estava todo revirado, imagino como ele dormiu ali, tive a quem sair!

   - Os meus pais?

   - Saíram. A tua mãe ainda apanhou-me e disse que tinha de ir tratar de uns assuntos e quanto ao teu pai não sei - respondeu-me imediatamente colocando o cotovelo em cima da mesa.

   - Hum, deve ter ido trabalhar. Ele às vezes entra mais cedo... - enfiei outra colher de cereais na boca - Até admira a minha mãe não me ter dito nada...

   - Não sei, em fim, estás pronta? - perguntou-me, levantando-se.

   - Quase, vou levar os dentes e já vamos.

   Levantei as minhas coisas da mesa e fui direita à casa de banho, fui lavar os dentes. Lembrei-me que nem o Raphael sabia do meu problema. Mais ninguém sabia, mas acho que ele tem uma leve ideia do meu outro lado.

   Parei e pensei o que estava a fazer. Retornei.

   - Vamos! - exclamei num tom fofinho, saindo da casa de banho.

    A nossa escola (sim, agora é a nossa escola) ficava a cinco quarteirões da minha casa, então pusemos-nos a caminho, eram 8 horas e ainda tínhamos tempo.

   - Olha, posso fazer-te uma pergunta? - coloquei as mãos atrás das costas, anciosa.

   - Claro Ashie! Tudo o que quiseres! - ele pôs os braços atrás da cabeça num ar descontraído.

   - Não me chames de Ashie! - dei-lhe um leve empurrão.

   - Sim Dona Senhora Ashtrid, com certeza! Vai fazer o lance da pergunta já ou quando chegarmos ao final das aulas? - irónico, doce irónico Raphael. 

  Ia dizer o que quer que fosse, quando chegamos a uma rua que tinha um cruzamento mais largo. Olhei para o lado, três rapazes aproximavam-se na minha direção como uns loucos: um deles vinha a correr, o do meio vinha num skate e o outro estava de bicicleta. Perguntava-me o que é que faziam àquela velocidade, não conseguia parar de fixá-los, vê-los a aproximarem-se, esqueci as pessoas que me rodeavam, os barulhos dos automóveis à volta e todos os ruídos, esqueci o Raphael e não parava de pensar se eles iam cair para cima de mim ou não. Foram os três segundos mais longos da minha vida, mas o impacto daquela velocidade a que iam os três rapazes durou apenas uma fração de segundo, um deles bateu em mim. Deixei de ouvir o meu nome entre suspiros e o meu corpo apenas rendeu-se a cair no chão.