Autor: Sergio Viula
Contato: sviula@hotmail.com
NO MEIO DA VIR-ILHA
Sempre fascinado pelos segredos do corpo humano, especialmente pelas diferenças e semelhanças entre macho e fêmea, Antônio Eros devorava tudo o que versava sobre o corpo: de livros de medicina a revistas de nudez feminina e masculina.
Carregando em seu próprio nome a paradoxal disciplina dos santos e o libertador poder do amor, o homem de 35 anos já havia se relacionado com muitas mulheres. Nunca havia se deitado com homem, mas nutria especial curiosidade pelo hermafroditismo. Embora nunca tivesse visto um hermafrodita pessoalmente, Antônio já lera um pouco de tudo sobre esse “fenômeno”. Teoricamente, entendia bastante sobre as dinâmicas biológicas que geram o sistema urogenital e que, motivadas por razões genéticas ou hormonais, dão origem às pessoas que acumulam características dos dois sexos. Ponderava se esse não seria o humano perfeito. Afinal, sendo macho e fêmea ao mesmo tempo poderia ser o que desejasse, com quem quisesse.
Era janeiro, mês de férias para a maioria das pessoas, inclusive para Antônio. E como ansiasse viver mais algum amor de verão, o destemido senhor Eros embarcou num cruzeiro cuja rota incluía algumas belas ilhas das Antilhas. Tudo acertado, Antônio se atirou numa jornada que deveria durar quinze inesquecíveis dias. O que o desprendido viajante nem imaginava é que encontraria muito mais do que apenas o luxo do navio, algumas das mais belas mulheres disponíveis, ou as belezas naturais das ilhas do roteiro.
Antônio subiu a bordo, tomou um drinque e foi para a cabine. No dia seguinte, desfrutou da piscina, do bar, da boate. Conheceu mulheres fascinantes e dispostas a viver um romance de verão ou simplesmente curtir uma transa de uma noite só. Três dias depois, o navio aporta na primeira ilha do roteiro. Antônio decide dar uma volta para conhecer as belezas locais. Foi sozinho. Já tivera sua cota de companhia e aventuras sexuais nos três dias a bordo.
Chegando a uma praia deserta e circundada por lindos coqueiros, o explorador de última hora decidiu descansar um pouco. Não sabe quanto tempo dormiu. Tudo o que sabe é que, ao acordar, o navio do cruzeiro já havia partido. Apavorado diante da perspectiva de ficar sozinho naquela ilha por muito tempo até que outro navio por ali aportasse e o resgatasse, Antônio decidiu explorar a ilha e organizar um pequeno acampamento com o material que encontrasse pelo caminho. Ele precisaria de comida e água potável. Provavelmente, precisaria fazer uma fogueira para manter-se aquecido durante a noite e protegido contra qualquer possível animal nativo interessado em carne fresca – no caso, a dele!
Depois de relativamente organizado, ele decidiu dormir. No dia seguinte faria uma longa caminhada pela ilha a ver se encontrava alguém que pudesse ajuda-lo ou algum lugar mais adequado para se proteger ou sinalizar, caso algum navio se aproximasse daquela terra quase esquecida.
No dia seguinte, já refeito pelo sono, Antônio caminhou alguns quilômetros ilha adentro. Uma construção parcialmente camuflada por densa vegetação, provavelmente nunca encontrada antes, uma vez que instalada nessa parte remota da ilha, chamou sua atenção. Era uma fortaleza que parecia ser, ao mesmo tempo, um zoológico humano e um laboratório científico. O ambiente tinha a aparência asséptica dos laboratórios e ao mesmo tempo continha restos já deteriorados de amostras de embriões e fetos em recipientes de vidro transparente que sugeriam uma exposição quase macabra de espécies indefinidas. Havia anotações com representações de cadeias de DNA, processos de divisão celular, estudos hormonais sobre níveis de testosterona, estrogênio e progesterona – o que tornava a tese de que se tratava de uma experiência genética ainda mais convincente.