PRÓLOGO

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Eles disseram que voltariam a tempo de nos dar boa noite, papai e mamãe sempre o faziam. Mas não hoje. 

Hoje eles não voltaram.

Eu estava prestes a perguntar para Eleonor, nossa babá e melhor amiga da minha mãe, quando eles chegariam mas fui interrompido pelo toque do telefone fixo. Eu observei Eleonor atender a chamada e não perdi quando seus olhos se arregalaram e encheram de lágrimas, percebi o olhar que ela lançou para mim e para minha irmãzinha, Lisa. Eu soube imediatamente que o telefonema se tratava de papai e mamãe.

Um pressentimento horrível assolou meu peito.

Eles nunca voltariam.

Olhei para Lisa e tive vontade de chorar, mas eu tinha que ser forte por ela. Uma mão repousou em meu ombro e percebi que Eleonor me olhava enquanto tentava segurar as lágrimas.

— Escutem, bebês. Eu preciso dizer algo para vocês. — Eleonor disse com a voz trêmula, enquanto chamava Lisa com um  aceno para se sentar ao meu lado no sofá.

Lisa estava alheia a tudo o que estava acontecendo, ela era muito pequena para entender as coisas por si. Lisa sorriu e veio se sentar ao meu lado, automaticamente passei meus braços ao seu redor e a abracei forte.

— Quando mamãe e papai vão chegar? — Lisa perguntou com sua voz doce e inocente. 

Não chore. Seja forte por ela.

Uma lágrima furtiva escorreu pelo rosto de Eleonor e ela a limpou rapidamente e desviou o olhar de nós. Eu estava certo.

Eles nunca voltariam.

Ah meu Deus. Eu não sei como fazer isso.— Eleonor lamentou para si mesma. Sua voz continha dor, mas não chegava perto do que eu estava sentindo. — Seus pais, eles… eles sofreram um acidente. — contou e assim que as palavras deixaram a sua sua boca as lágrimas que ela antes segurava caíram livremente pelo seu rosto, assim como minhas próprias lágrimas.

Eu não consigo.

Não consigo ser forte agora. Não depois de ouvir isso.

Eles nunca voltariam.

— Eles estão no hospital, tia? — Lisa perguntou com sua voz trêmula. Minha pequena irmãzinha me abraça mais forte e eu preciso me esforçar como nunca para não desmoronar.

Fecho meus olhos ainda em silêncio. Eu nunca estaria preparado para as próximas palavras de Eleonor.

Não, bebê. Seu papai e sua mamãe viraram estrelinha.

Depois disso Eleonor nos abraçou em silêncio –  afinal, nenhuma palavra seria capaz de aplacar a nossa dor. – enquanto chorávamos até que não houvesse mais lágrimas, até a exaustão nos consumisse.

(...)

DUAS SEMANA DEPOIS.

Estou sentado sozinho em um canto afastado das outras crianças. Faz duas semanas que uma tragédia arruinou minha família e a minha vida.

No dia seguinte do acidente, logo após o funeral uma mulher que dizia ser assistente social nos tirou de Eleonor, mesmo ela dizendo que cuidaria de Lisa e eu, a mulher nos explicou que as coisas funcionavam dessa maneira e que precisava nos levar com ela.

A mulher nos perguntou se tínhamos familiares que pudessem ficar com a nossa guarda, mas eu não sabia a resposta. Depois de procurar novamente por Eleonor, ela disse que não, não tínhamos familiares. Meu pai era filho único e meus avós estavam mortos e minha mãe não tinha contato com a família desde que era uma adolescente e saiu de casa. Não restava outra alternativa senão nos levar para um orfanato.

A pior parte é que não sei para onde levaram Lisa, eles nos separaram. Tiraram de mim a única família que me restava. A única coisa que ainda importava.

Mas eu a encontraria. Não importa quanto tempo passe eu encontraria minha irmãzinha. Eu viveria para isso.

Nas duas semanas que estou nesse lugar eu conheci um sentimento novo que nunca havia sentido antes. Eu comecei a odiar. Eu odeio esse lugar. Eu odeio estar longe de casa. E odeio que um acidente estúpido arruinou a minha vida.

Eu passei a odiar muitas coisas há duas semanas. O que eu não sabia era que estava prestes a conhecer a pior delas, a que eu odiaria pelo resto da minha vida.

Sei que esse sentimento é destrutivo, ainda mais para um garoto de oito anos, mas é inevitável.

— Hey, garoto bonito. O que está fazendo aqui sozinho? — Uma voz grave me tirou dos meus pensamentos. Olhei para o homem parado ao meu lado e eu o reconheci, ele era o zelador do orfanato.

E foi apartir desse dia que minha vida se tornou um verdadeiro inferno.

HAYDENOnde histórias criam vida. Descubra agora