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"Eu só quero uma arma pra atirar
Uma lâmina pra cortar
Ou alguém pra conversar
A sacada é muito alta
Por favor, alguém me ajuda
Eu não quero me jogar"
Preciso conversar - Hiosaki

Este foi meu primeiro primeiro dia após meu suicídio. Vocês devem pensar que eu errei a frase,que tem palavra sobrando,mas não, é exatamente isso que eu quis escrever.
Aos 13 anos,depois de ingerir uma dose cavalar de remédios controlados ,eu Cristialine morri pela primeira vez. Calmem no decorrer do capitulo e do livro eu vou explicar tudo,o que eu posso garantir é que foram necessários 4 suicídios pra que enfim eu morresse por completo. Mas enfim, voltamos ao meu primeiro primeiro dia após meu suicídio.
Eu fisicamente não morri naquele dia, óbvio que não seria tão facil, nada na minha vida era facil não era minha morte que seria não é mesmo. Eu não sei explicar muito bem pra vocês como eu fui encontrada,quem me encontrou e tals,eu lembro de pequenas coisas,como minha mãe me fazendo ficar acordada,os copos de leites que me obrigaram a tomar,as ameaças de que eu apanharia quando estivesse sóbria, a dor no peito e o fato de que eu não tinha controle sobre o meu corpo, os apagões, a tristeza ao entender que eu continuaria vivendo dia após dia aquele mesmo inferno,  e a constatação de que eu não seria levada a um hospital e que eu teria que ficar sóbria sozinha. É isso ai,eu me entupi de remédios controlados na esperança de morrer,e minha mãe se preocupou em como ela diria as pessoas que teve que levar sua filha ao hospital por tentativa de suicídio,sem achar uma solução ela então preferiu não levar,afinal eu só estava drogada. Claro que ela não conseguiu esconder de todos,algumas pessoas próximas souberam,eu não sei como mas souberam. Depois que o efeito passou eu me arrependi,me senti culpada,me senti grata por não ter acontecido o pior. Senti a vontade de desabafar,eu queria que alguém chegasse em mim e me perguntasse o porque eu tomei aquela atitude, eu queria poder contar que não aguentava mais. Não aguentava a pressão de cuidar da casa e dos irmãos desde os 6 anos de idade. Não aguentava o padrasto que nos últimos meses só saia de casa pra beber. Não aguentava ter que ajudar a  esconder esse fato da minha mãe porque toda vez que ela descobria que ele tinha bebido sobrava pra mim. Não aguentava minha mãe jogando na minha cara toda vez que a pensão atrasava que meu pai nunca quis que eu nascesse. Não aguentava ser a única da turma que sofria bulling por ter o corpo de uma mulher,aos 12 anos eu ja tinha mais peito e bunda que a maioria das professoras, tinha 1,70 metros,e como jogava futebol as coxas definidas. O que fez com que as garotas do colégio se juntassem pra me bater e infernizar minha vida todos os dias. Eu nunca tinha ficado com ninguém mas era conhecida na escola como a nerd vagabunda. E isso ninguém além de meus opressores e eu sabiam,e eu queria muito que alguém me dissesse que eu era linda assim e que eu não precisava odiar meu corpo e me esconder em roupas masculinas por causa dessas garotas,mas isso não aconteceu.
Eu não aguentava mais me sentir sozinha no meio de tanta gente.
Eu não aguentava principalmente,acordar no meio da noite depois de mais um pesadelo,e me sentir o pior ser humano do mundo,a pessoa mais suja e desprezível que poderia existir. Era isso que passava em minha cabeça naquela época. Eu simplesmente não aguentava mais isso tudo, eu queria mais do que tudo que alguém me ouvisse,que alguém me ajudasse,mas isso não aconteceu. Os que souberam do ocorrido lidaram como um caso típico de adolescente querendo chamar atenção. Eu ganhei um tapa na cara e um castigo e a vida de todos seguiu normalmente. Quando eu digo todos eu não me incluo no pacote. Por que a verdade é que naquele dia minha vida começou a mudar. Naquele dia 1/4 da Cristialine morreu. Naquele fatídico dia de luto interno,nasceu também um mini ser,pequeno em tamanho até então,mas gigante no barulho. Naquele primeiro dia após o suicídio de uma parte da Cristialine,o mundo conheceu a Lindsay,ela ainda era pequena,timida e só tinha 1/4 da força que tem hoje,mas ela chegou fazendo um estrago bonito de se ver. E é dela que falaremos no próximo capítulo.

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⏰ Última atualização: Dec 09, 2021 ⏰

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O dia após meu suicídio.Onde histórias criam vida. Descubra agora