CAPÍTULO 1: O CERVO QUE VEIO DO ESPAÇO

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Sozinho.

Eu estava sozinho no momento em que as luzes desceram do céu e caíram bem no meio da floresta, pintando o céu noturno em verde florescente.

Eu sabia que aquilo não era algo comum. No fundo da minha mente eu desconfiava que aquilo não era nem algo humano. Tudo era estranho demais. Não só as luzes e o clarão, mas o efeito que aquilo causou na cidade posteriormente. As pessoas pareciam confusas demais, preocupadas demais e algumas até nem ligando. E eu não sabia qual eu me encaixava. Talvez em todos. Hora preocupado, hora confuso e hora nem ligando.

Mas tudo aquilo já havia começado na manhã daquele dia. Muitas horas antes das luzes caírem do céu.

Aquela manhã havia começado bem. O que pra mim era algo bizarramente estranho. Logo quando eu levantei da cama, vesti minha roupa e desci as escadas da minha casa, meu coração pareceu saltar do peito quando na primeira vez em semanas eu senti cheiro de café sendo passado na cozinha, com a minha avó cantarolando uma música antiga do Roberto Carlos e minha mãe rindo junto com meus irmãos que corriam pela casa alegres.

Aquilo era felicidade? Uau. Era final de junho e aquela cena pela manhã já havia acabado com a imagem triste e deprimente daquele mês na minha mente. Ou talvez não.

– Como? – perguntei boquiaberto quando coloquei os pés na cozinha e vi o bule de café soltando fumaça e enchendo o ambiente com aquele cheiro que me trazia tantas sensações.

– Nosso vizinho trouxe uma cesta básica pra gente! – minha avó respondeu sorrindo. – Nem precisamos pedir.

– Nossa! Isso é muito bom! – peguei um copo de vidro na mesa e fui correndo até o bule quase dando pulinhos de alegria. – Finalmente cafeína!

– Já vou começar a fazer o almoço. – comentou minha avó. – Mas o vizinho também trouxe pão, caso esteja com pressa pra escola.

– Certo. Eu almoço lá mesmo. – Respondi após tomar metade do copo de café. – Já está na hora de ir.

– Só não se atrase pra janta, porque o vizinho vai vir jantar com a gente hoje. E a sua mãe vai sair com ele amanhã. – Assim que minha avó terminou a frase eu engasguei com o café.

– O QUE? – Gritei, respirando bem fundo e voltando a gritar. – Tá explicado então!

– Não! Não começa! – minha mãe se levantou do sofá e veio na minha direção me apontando o dedo indicador. – Você vai ficar com a boca calada! Porra mãe, a senhora também não controla a sua língua!

– Ficar com a boca calada vendo a minha mãe se prostituir por comida? – gritei com ela. Recebendo um tapa na cara em resposta.

– A culpa disso tudo estar acontecendo é sua! Então fica com a boca calada, seu merda! – Sandra agarrou o meu pescoço, arranhando a minha pele com suas unhas e fazendo eu me controlar para não cuspir na sua cara naquele momento.

Assim que ela me soltou eu saí da cozinha correndo, subi as escadas e quando cheguei no topo coloquei a minha raiva pra fora com um grito:

– VOCÊ NÃO É A MINHA MÃE!

Não, aquilo que eu vi quando desci as escadas não era felicidade. Era apenas um momento menos triste que logo se dissolveu.

Entrei no meu quarto, batendo a porta e me sentando na frente dela. Abracei os joelhos e fiquei naquele estado, me controlando pra não chorar e sentindo os meus pulmões falharem.

Tudo bem, confesso que a manhã não havia realmente começado bem. No fundo eu estava feliz, mas não por mim e sim pelos meus irmãos que agora tinham o que comer, por mais que eu desaprovasse totalmente o meio em que aquela comida havia sido conquistada. Então esse foi o meu início do dia. Um peso sendo retirado das minhas costas e mais motivos para fazer me repensar toda a minha vida. Mas foda-se. Eu não me importava com nada. A prova disso foi o que eu decidi fazer em seguida.

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⏰ Última atualização: Sep 10, 2020 ⏰

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