Capítulo 2

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5 de abril de 2038,01:43

Encontrei esse diário á poucos dias,dentro de um baú velho cheio de coisas da Julie.Eu dei uma olhada e vi que eu tinha escrito sobre o trágico dia de sua morte.Decidi que quero escrever aqui sobre como está minha vida agora,depois de longos 22 anos de sofrimento.Se acaso alguém o encontrar,por favor deixe bem guardado.Tratam-se de lembranças muito sofridas que não merecem vir á público.Eu  não sei como será minha vida daqui para frente,mas quero contar o que aconteceu esse tempo todo desde a morte de Julie.

No ano do acidente,tudo ficou mais difícil para mim.Não conseguia mais arrumar emprego e consequentemente tive que largar a faculdade.As dívidas acumulavam,vendi meu carro e mais algumas coisas,e mal sobrava dinheiro para comprar comida.Entrei em uma depressão.Meus pais me ajudavam com que podiam.Ás vezes com algum dinheiro,outras vezes com um pouco de mantimentos.Eles queriam que eu voltasse para sua casa,mas eu queria ficar aqui,onde as memórias da minha esposa ainda se mantinham.Suas roupas,suas fotos,sapatos,bijouterias... ainda ficaram guardadas.Ainda existem dias que eu simplesmente me deito,e fico pensando em como eu poderia ter impedido ela de sair com nosso carro.Eu não deveria ter deixado aquilo acontecer.Sou o culpado por ela estar morta,mas as pessoas próximas a mim,dizem que não sou.Mesmo assim,isso não muda meu jeito de pensar sobre o monstro que eu sou.Só causo mal às pessoas.
Então comecei a frequentar bares e tabacarias para tentar esquecer as coisas que me atormentavam.Me diverti bastante por algumas noites, conheci muitas mulheres e fiquei com elas,mas não conseguia namorar uma por muito tempo.Passou um período  e comecei a beber com frequência,era quase todo dia.Arrumei brigas nos bares,fui parar em hospitais,amanheci em boates,vomitei em calçadas...Tudo era muito complicado.
Um amigo meu vendo minha situação,veio a me indicar um emprego em uma escola que ele era inspetor.Aceitei para trabalhar como faxineiro,mesmo o salário sendo baixo.Eu tentei parar um pouco com a bebida,pois agora trabalhava em um lugar educacional com crianças de 6 á 12 anos.Algumas eram simpáticas e vinham falar comigo,já outras debochavam da minha aparência.Era até legal,porque na maior parte do tempo eu observava as crianças brincando e isso me fazia imaginar os filhos que eu e Julie teríamos no futuro.Meu emprego lá não durou muito tempo,pois um dia eu tive uma recaída e cheguei  alcoolizado.Aconteceu que um grupo de moleques sujaram a parede do banheiro com canetas permanentes que eu tinha acabado de limpar.Segurei no braço de um deles com tanta força,que ou outros correram para pedir ajuda.Logo depois,fui chamado  na diretoria como um aluno que comete travessura.Perceberam que eu estava bêbado e no dia seguinte me notificaram a demissão.
Depois desse episódio,reconheci o quanto perturbado o álcool estava me deixando : literalmente no fundo do poço.Por recomendação do médico, comecei a frequentar reuniões de alcoólicos anônimos da minha cidade.Até aqui, já fiz bastante progresso e estou tentando não ter uma recaída.

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