Resoluta

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Frase Introdutória:

"O pior medo não é aquele que te faz gritar, mas o que sua voz não consegue descrever."

Anna Höllenterf

A arma prateada reluz sobre a iluminação da lâmpada acima dela, como se estivesse pronta para deixar sua marca tanto nos olhos quanto no corpo de alguém. Seu detentor, apressado e impaciente, a utiliza como ameaça sem imaginar que o maior perigo para ele pode estar justamente por trás.

Kalim está assustada, obviamente. Mas por algum motivo, Anna não sente pânico real nela. Os seus olhos castanhos não estão exprimindo medo. Pelo contrário, tudo o que se torna possível ver existente neles é clemência.

Ela está se perguntando se Kalim precisa mesmo dela. Mas percebe que a resposta para essa pergunta não deve ser retirada de sua posição. Não faz mais diferença. É improvável que Kalim saia viva dessa situação, estando acostumada ou não com assaltos.

Por que cada assalto é isso. Uma chance de morte. Nesse lugar, também é uma forma de injustiça, julgando pela falta de câmeras aqui - que impediriam a identificação do suspeito - e a fariam ser apenas mais uma parte das estatísticas de latrocínio sérvias.

Ela também não pode sair daqui. Anna conseguiu entrar aqui apenas com o espaço suficiente na porta de vidro para entrar e incapacitá-lo - se der certo, caso contrário a morte lhe espera -, e a esse ponto, a porta já está fechada atrás dela.

Se tentar voltar, ou ele tem mais tempo para escutar o som dos seus passos e lhe dar um tiro na cabeça quando abrir aquela porta, ou vai virar e dar um tiro na posição em que está mesmo.

Imagino como deve ser morrer. Repetindo: morrer. Não o que ocorre depois. Deve ser uma dor horrível - caso ocorra comigo nessa situação -, a entrada da bala pela carne, a passagem dela pelo trajeto de disparo, o tecido sendo rasgado, as veias e artérias se rompendo pela velocidade em que a bala as atravessa, o ferimento de saída - se houver, na melhor das hipóteses - enquanto se sente tudo isso ao mesmo tempo, com a consciência ainda ativa - disse ela, falando internamente com seus pensamentos.

O sofrimento por ainda estar viva e ter que esperar para perder a consciência e morrer, parece ruim, com certeza. Me leva a pensar se eu me sentiria quente nos buracos de entrada e saída da bala, pelo sangue estar jorrando nesses locais.

Será que a temperatura se manteria por quanto tempo?- pensou ela, com sua inclinação científica á resultados. - Por que me interesso nos resultados entre morrer em um chão frio, sentindo uma dor insuportável, enquanto ainda tenho que sentir a pressão das mãos de alguém - se houver alguém vivo - nos ferimentos, só aumentando a dor, acho que só não gritaria pela reação de choque pelo tiro.

E isso tudo para depois morrer. Se fosse para morrer dessa mesma forma, preferiria morrer sentindo ao menos morna no meu local de partida, nem que o calor viesse do meu sangue escorrendo, perdendo a consciência antes que a dor viesse, dormindo antes de morrer.

Uma morte reconfortante na minha opinião. Gostaria de dizer que não posso morrer por que ainda tem pessoas que ficariam felizes em me ver um outro dia, mas isso não é verdade. Ninguém se importa se eu chegaria em casa viva ou não.

Nem minha própria mãe. Por que o que ela tem não é superproteção, não é medo de que eu vá embora, é por que ela temia que a única pessoa que vivia uma vida mais miserável do que a dela simplesmente saísse de seu campo de visão.

A relação que tínhamos foi permanentemente destruída. E não importa quantas desculpas ela dê, isso não retira o fato de que ela foi uma péssima mãe. Mesmo que ela diga: Você não pode entender como eu fiquei após a morte de seu pai!, eu não vou ligar.

Cartas EsquecidasOnde histórias criam vida. Descubra agora