Tranquila

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-Lena! Lena! - ela deve ter arrumado uma forma nova para brincar. É de se esperar de uma criança de seis anos, mesmo considerando que ela é mais inteligente que as outras, não que seu seja arrogante pensando isso.

O verde presente nos pequenos botões se sobrepõem como uma mistura de tonalidades e se alternam as grandes e exuberantes magnólias que repousam na ponta de seus galhos. As cores, sequenciadas de forma parecida, mas ainda assim distintas, revelam-me a metodicidade presente na natureza.

O perfume delas, possível de sentir á porta da cozinha, se infiltra lentamente e no olfato e se junta com os das outras plantas, gerando ao mesmo tempo uma confusão de odores e uma ordem de cheiros, que permanecem como uma lembrança da serenidade daqui.

Irei terminar de regá-los antes de procurá-la. Só devo tomar cuidado para não molhar meu vestido. Não há sol para secá-lo caso molhe, e não gosto de ficar com uma aparência desleixada.

-Já vou, Bell! - digo a ela, onde quer que esteja. O vermelho fosco dos morangos e o rosa opaco das framboesas me fazem lembrar que também precisam ser regados para que recuperem sua tonalidade vermelho-sangue.

Vou começar a fornar o pão em pouco tempo. Não tardará até que as pessoas comecem a sair para comprar seu pão diário. Surpreendente, a aparência é importante para que comprem, tanto quanto o sabor.

Eles exigem primosidade tanto em relação ao pão quanto as frutas, separados ou não. A fermentação deve ser suficiente, assim como a maturidade das frutas.

Não entendo o porquê, mas os compradores aqui, sendo da cidade ou não, agem como degustadores de comida. Não é uma perspectiva muito animadora vender alimentos a eles, porém nos fazem querer melhorar o produto a cada dia.

O resultado da dualidade existente na cidade em relação á Sérvia são a grande quantidade e diversidade de produtos dispostos a compra e a venda, assim como na cultura geral da cidade.

Termino de regar o pomar após algum tempo, com o cheiro vivo da terra molhada se sobressaindo em meu olfato enquanto saio. Cheiro de vida. De esperança.

Reconheço que deveria ter organizado melhor o espaço. Acaba demorando muito para que se consiga regar todas as plantas aqui pelo espaço entre cada uma. Mas não houve muito a se fazer. Nem sabia sobre esse lugar até certo tempo. Mas consegui protegê-la durante todo o caminho.

-Bell! Onde você está? - perguntei, interessada em seu destino atual. Espero que não demore a responder. Sabe que me deixa preocupada quando isso acontece. Desde que ela não esteja no meu quarto ou no de nossos pais, minha indulgência não a alcançará.

Deve estar procurando alguma planta nova no jardim da frente. A coleção de sementes dela está aumentando. Não que eu ache uma perda de tempo, mas me seria melhor se ela as plantasse ao invés de apenas guardá-las.

-Estou na horta! - disse ela, desapercebida de sua inofensividade em caso de algum perigo. O único local que não gosto que ela fique. Passo pela velha porta da cozinha - acho que se o inverno não for um retrocesso às vendas, poderei comprar uma nova. Chegando ao segmentado corredor central - na parede branca, já escurecida pelo tempo, a umidade descama sua superfície como um carrasco. - Sigo à frente até a sala - pobremente decorada, ao menos até que se passem algumas primaveras - e viro à esquerda, chegando a área da horta - que não existia, ao menos, não quando chegamos. Acho que foram após alguns meses que consegui dinheiro o suficiente para deixá-la em um estado utilizável para que pudesse vender ervas e plantas diretamente da terra. Uma ideia simplória, devo admitir, no entanto, a audácia e esforço acabaram por fazer com que se tornasse algo rentável, com exceção a alguns invernos rigorosos. - Onde Bell se concentra ao tentar pegar uma rosa sem se cortar à margem de seus afiados espinhos. Ela poderia ter simplesmente me pedido para pegar e entregá-la. Seus braços esguios não sairiam cortados, devido a sua largura. Mas são muito curtos para conseguir pegar.

Cartas EsquecidasOnde histórias criam vida. Descubra agora