Capítulo 01

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Despertei assustada, como se tivesse voltado anos atrás. A luz do sol já começara à invadir o cômodo em que me encontrava, mas meus dias continuavam obscuros. Tive novamente pesadelos com aquele dia, ainda podia sentir como se fosse ontem. O desespero, medo e a dor me consumiam só de lembrar dos gritos e a da imagem daquele homem sorrindo antes de assassinar meu pai à sangue frio. Eu era assombrada pela voz de minha mãe em pequenos flashbacks.

Durante às batalhas eu estava dormindo, mas logo despertei ao ouvir gritos e coisas sendo quebradas por todo lado, fui até a janela e vi muitas casas pegando fogo e pessoas lutando por suas vidas, eram eles novamente. Ouvi a voz dos meus pais e pareciam estar acompanhados. Fui em direção à porta que estava entreaberta pra ver o que se passava.

- Aonde está sua coragem agora, Edward? - um homem desconhecido por mim, cuspia palavras enquanto mantia meu pai contra parede, sua voz me davam calafrios.

Ao me ver o mesmo olhou para mim e sorriu de um jeito perturbador, logo depois atravessou o peito dele com sua espada. Naquele momento foi como se meu mundo caísse, diversas lágrimas percorriam meu rosto e eu não sabia o que fazer. Minha mãe entrou no quarto rapidamente, trancou a porta e colocou inúmeras coisas na frente. Era perceptível o desespero estampado em sua face. Ela apontou a mão em direção à parede e um portal se abriu, em seguida se abaixou diante de mim e colocou em meu pescoço um pingente antigo da família.

- Me prometa nunca tirar o pingente, Erin. - falou com lágrimas nos olhos.

- Eu prometo. - sussurrei e a abracei fortemente.

- Eu te amo muito, mas agora você precisa fugir daqui. vai ficar tudo bem. - ela me deu um beijo na testa e do nada tudo escureceu.

Eu apareci numa pequena cidade coberta de neve, eu gritava pelo seu nome desesperada e em prantos. Desde então fui acolhida por uma família totalmente desconhecida por mim mas que aparentemente conheciam a minha mãe. Talvez eles já soubessem que isso ia acontecer e que eu teria de vir pra cá. E essa foi a última vez que eu os tinha visto, desde então carrego o pingente comigo como se fosse uma parte de mim, e realmente se tornara.

- Erin? - alguém bateu na porta e a abriu em seguida, me tirando dos meus devaneios.

- Oi, o que faz aqui a essa hora? - era Hollie, perguntei esfregando os olhos numa tentativa falha de me acostumar com a luminosidade que invadia o quarto.

- Como a gente chegou aqui ontem eu queria dar uma volta por aí e quis saber se você gostaria de vir comigo. - disse com um sorriso estampado.

Hollie era minha irmã, ou quase, filha dos meus pais adotivos. Desde minha chegada Hollie sempre fora uma pessoa maravilhosa e cuidadosa comigo, assim como Ashley e William, meus pais. Recentemente havíamos nos mudado, nunca compreendi direito essa necessidade por mudança que eles quase sempre tinham e sempre evitavam comentar sobre. Levantei rapidamente ao notar que ainda estava na cama presa aos pensamentos. Fui tomar um banho, sentir a água quente percorrer meu corpo me trazia a sensação de me sentir viva novamente. Ao sair me dirigi em direção ao guarda-roupa, nunca havia notado o fato de que era repleto de roupas pretas, a maioria. As vezes dava a impressão de estar num luto eterno, e de fato, porém as roupas não tinham nada a ver com isso.

Ao passar pela janela notei um barulho estranho, era um caminhão de mudança, avistei um garoto carregando umas caixas de um lado para o outro até que ele parou e olhou para cima. Nossos olhos se encontraram e isso trouxe uma sensação estranha, sai da janela e fui a procura de Hollie.

- Por que demorou tanto? - me fitou intrigada.

- Nada importante.

Sai e logo senti uma sensação estranha, como se estivesse sendo observada. Olhei para todos os lados em busca de algo que confirmasse minha paranóia, e lá estava ele. Nos olhava de relance, de um jeito nada discreto.

- Dylan Collins.

- O quê? - perguntei confusa.

- Não seja boba, o cara que você está trocando olhares, Dylan Collins. - sorriu maliciosamente, e continuou. - Não me diga que você está interessada nele?

- O quê? Não, eu não..

Ela me encarou novamente me deixando sem palavras, sabia que não adiantava insistir no assunto mas não negava que algo nele me chamava atenção, talvez o fato dele ser extremamente atraente tenha ajudado, mas não era o caso.

[...]

Chegamos ao centro da cidade, aqui era realmente muito lindo. Haviam pessoas para todos os lados andando apressadas, crianças se divertindo com seus pais. Sorri, mas aquilo me despertava sentimentos ruins, então pressionei Hollie para que saíssemos de lá. Depois de passar em alguns lugares no caminho de casa acabamos indo parar num lugar totalmente inesperado, era uma espécie de floresta.

- Você vai mesmo querer entrar nisso aí? - perguntou-me quase recuando.

- Por que não? - ri da sua cara de assustada.

Aquele lugar me dava medo, acho que não era só eu que sentia mas não parecia daquelas que eram repleta de árvores e animais perigosos. Era espaçoso e parecia uma trilha que levava a algum lugar. Continuamos andando e eu continuava intrigada e me perguntando por quais motivos existiria uma floresta numa cidade? Avistei uma casa aparentemente velha, fui em direção da mesma e Hollie me olhou estranho e com uma expressão aflita.

- Acho melhor a gente não ir, já deveríamos ter voltado. - ela falou olhando ao redor e colocando a mão em seu cabelo, sua linguagem corporal não negava.

- Você está estranha desde que saímos, tá rolando alguma coisa? - indaguei.

Hollie não era assim, parecia saber exatamente onde estávamos ou talvez o motivos pelos quais não deveríamos estar ali. Ela continuou me olhando sem saber o que falar e então balançou a cabeça em sinal de negação. Continuei em direção a casa, até ouvir uns barulhos que me inspiravam insegurança.

- Você ouviu isso? - minha pergunta foi lançada ao ar, não obtive resposta. Olhei para trás e não encontrei Hollie.

- Hollie? - gritei andando de um lado para o outro. Essa não, só o que me faltava.

Não acredito que ela me deixou aqui sozinha. Continuava chamando pelo seu nome com esperança de que aquilo fosse só mais uma de suas brincadeiras, mas acabei chamando a atenção de outra coisa, um lobo que imediatamente me derrubou no chão ao pular em cima de mim. Comecei a gritar mas seu olhar me intimidou e algo não estava certo, por incrível que pareça ele não me machucou, apenas ficou me olhando nos olhos.

Em seguida uivou, ele estava chamando outros lobos que com certeza estavam por aqui. Não demorou pra que começasse a ouvir outros uivos, entrei em desespero tentando tirar ele de cima de mim mas de nada adiantou. Por que ele ainda não me atacou? O encarei, o que diabos estava acontecendo ali? Ele olhou pra meu pingente e depois fez uma cara de assustado, foi como se de repente se sentisse ameaçado e saiu correndo. Foi aí que eu me dei conta, eu conhecia aquele olhar.

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