Hurt...

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— Ah, porra! – um gemido alto de dor ecoa pela casa como um trovão estridente. A voz já conhecida por meus ouvidos demonstrava demasiada angústia a cada grunhido que soltava. O barulho vinha do meu quarto e eu não sabia o que fazer em uma situação como essa.

Fazem dois dias que estou mantido como vítima dentro do meu apartamento. Não falei muito com o tal Jeon, aliás, que tipo de assunto eu teria para conversar com um assassino que pode tirar minha vida a qualquer momento se der na telha?

Jungkook falsificou um atestado médico e me obrigou a mentir para o meu trabalho e faculdade dizendo que preciso ficar em repouso pelos próximos três meses. Na minha linha de raciocínio, se eu fizer tudo o que o Jeon pedir durante os próximos meses mantido em cativeiro, terei mais chances de ficar vivo. E se ele apenas pediu três meses para que eu não o atrapalhasse em sua investigação com minha rotina no trabalho e na faculdade, quer dizer que esse será o período em que ele ficará aqui até achar outro lugar mais seguro para se refugiar.

— Argh! Puta merda! – escuto-o grunhir e pondero sobre o que seria o certo a se fazer naquele momento. Ignorei minha mente me avisando que eu estava caminhando para minha morte. Andei até o fim do corredor onde meu quarto se localizava. Suspirei fundo, tremendo em antecipação por conta do medo que sentia. Receoso, bati timidamente na porta e logo os gemidos se findaram.

“E se eu tiver entendido errado e ele estiver transando? Puta que pariu. Eu posso ser morto por ter empatado a foda de um assassino!”

Me arrependi depois da ficha ter caído. Tentei me desculpar por ter atrapalhado algo e sair correndo dali, porém, não consegui me safar.

— Entre, Taehyung – as palavras saíram de forma sôfrega, mesmo que ele ainda estivesse usando um tom firme e autoritário comigo.

Entrei lentamente com receio de ver algo ilícito naquele cômodo que eu tanto amava e agora sentia um pouco de repulsa. Encostei a porta com cuidado e me inclinei com uma submissa saudação. Permaneci com a cabeça baixa por um tempo enquanto o silêncio se fazia presente entre nós.

— Do que você precisa? – perguntou para mim. Ergui a cabeça confuso e por um momento apenas o encarei em choque.

Seu rosto estava com machucados feios e cortes que pareciam ser profundos. Escorria sangue pelos seus braços, pescoço e abdômen. O estado em que o Jeon se encontrava era deprimente e não pensei duas vezes em deixar meu instinto médico agir primeiro que eu.

Não o respondi de imediato. Me aproximei afobado do criado mudo que ficava perto da cama e tirei de lá o meu kit de primeiros socorros. Peguei algumas toalhas para limpar o excesso de sangue que escorria pelo corpo de outrem.

Sem pedir qualquer tipo de aprovação, comecei a cuidar dos ferimentos abertos em seu braço. Eu escutava Jungkook grunhir de dor perto do meu ouvido e isso me deixava fadigado. Como ele havia se machucado daquele jeito de uma hora para outra? Será que alguém achou ele e o ameaçou?

Vários pensamentos passavam pela minha cabeça e eu tentava achar alguma resposta sozinho. Cuidei dos machucados dos braços do Jeon, após higienizá-los bem passei a cuidar do corte fundo em seu abdômen. Em alguns momentos eu sentia que estava sendo observado por ele. Tentei não ligar muito para isso porque, não tinha como ele não me observar. Eu estava na frente dele praticamente, então não fazia sentido eu me preocupar com esse tipo de coisa agora. Enxuguei todo o sangue que havia escorrido por sua barriga e enfaixei o local assim que acabei de dar os pontos e passar remédio.

Engoli em seco ao que comecei a limpar seu rosto. Não tinha reparado nos detalhes meigos que o Jeon tinha. Sobrancelhas grossas e expressivas. Olhos redondos e pupilas negras intensas como um buraco negro. Bochechas levemente avantajadas que faziam contraste com o maxilar marcado e sexy. Seus lábios pareciam ser macios por terem aparência tão delicada, tendo o lábio inferior mais cheio que o superior. Jeon Jungkook era um homem lindo e eu não podia negar isso.

Desviei meu olhar de sua boca ao que vi um sorriso ladino surgir ali. Um arrepio de adrenalina passou pelo meu corpo todo. Ele sabia que tinha conseguido mexer com um pedaço do meu âmago e isso me deixou um pouco intrigado.

Seus fios negros caiam em sua testa, encharcando-se de suor e sangue. Penteei sua franja para trás sentindo um pouco a textura do seu cabelo. Novamente senti seus olhos grudados em cada movimento que eu fazia. Aquilo estava sendo mais intenso do que era pra ser.

Finalizei os pontos e a higienização nos cortes. Passei remédio para cicatrizar os cortes que não precisavam de pontos. Passei pomada em todas as marcas roxas que marcavam o rosto adorável em minha frente. Tirei o sangue que escorria pela sua face e pescoço e, enfim, pude ficar calmo. Me lembrei do que me fora perguntado assim que entrei no quarto e tratei de lhe responder logo.

— Sr. Jeon, eu não preciso de nada – respodi calmamente enquanto acabava de guardar o kit de primeiros socorros e arrumava as toalhas para serem lavadas. — Vim aqui ver se você estava bem... – andei até o guarda-roupa e peguei uma roupa confortável e limpa para ele. Acho que serviriam em Jungkook. Sempre costumo usar roupas maiores e mais largas, ele tem mais músculos que eu, mas acho que vai servir perfeitamente em seu corpo. — Recomendo você tomar banho daqui uns 15 minutos. É o tempo que precisa esperar para o remédio e as pomadas fazerem efeito. – Coloquei a roupa em cima do criado mudo e me afastei de si. Ainda com um pouco de medo, não hesitei em sorrir leve. — Espero que melhore logo, Sr. Jeon.

Ele assentiu sem esboçar nenhuma expressão. Me curvei em despedida e me retirei do quarto com o coração acelerado e a mente confusa.

Mas pelo menos, no final, eu não empatei foda de ninguém.

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⏰ Última atualização: Jun 27, 2020 ⏰

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