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Aida

   Em algum lugar na minha consciência sei que tudo não passa de um sonho, é um sonho, mas tudo parece tão real, os gritos e a voz do homem que achei amar a nossa familia.

  Ele está subindo as escadas e minha mãe grita mais uma vez por ajuda.

  Do quarto eu escuto os passos e a bota batendo na madeira. — Ele está vindo me pegar?. — penso. — A única coisa que passa em minha mente é que esse é meu fim, o nosso fim.

  Alguma coisa quebra na parte de baixo da casa, e não consigo ouvir mais nada. — Acabou!.

  Saio da cama e passo pela porta, vejo o vulto do homem de casaco preto descendo a escada e o sigo até a chegar nela.

  Na porta ele olha em minha direção antes de ir embora, seu rosto é de quem está com muito ódio para destruir todo o planeta. — É o meu pai, e ele está com muita raiva de mim por algum motivo.

  No fim da escada vejo o corpo de minha mãe, ela está caída e desacorada, o que me assusta. Corro de volta para o quarto e tranco a porta.

  Caminho de costa para traz me distanciando dela e encontro a parede, escorregando no chão. Sussurro muito baixo a mim mesma. — Acorda!.

  De repente estou no chão ao lado da minha cama mais uma vez como quase toda manhã. — De novo não. — Merda.

  Levanto cambaleando com as lembranças do sonho e os gritos da minha mãe me dizendo para correr.

  Corro até o espelho do banheiro. Ligo a torneira e jogo a água em meu rosto lavando as lágrimas do espanto.

  A imagem da garota no espelho me assusta, ela tem olheiras por falta de sono e parece exausta, a magreza e o cabelo despenteado a incomodam muito.

  — O que tá acontecendo com você?. — Digo pra meu reflexo no espelho. — Parece que acabou de sair de um filme de terror.

  O choro desce mais uma vez, bato com os braços na parede ao lado e escorrego nela sentando no chão gelado mais uma vez no dia.

   O relógio de parede marca 6:58 da manhã. Estou sentada na sala da minha casa com o telefone no ouvido enquanto Melory minha vizinha tenta me acalmar, ela é a pessoa que tem cuidado de mim desde de que minha vida mudou aos doze anos de idade.


  — Eu sei querida, tenta pensar em coisas boas enquanto você ainda estiver consciente. — ela diz.

  — É o que eu faço toda noite antes de durmi. — Engulo o choro. — penso nas vezes que ela me deu a primeira câmera, os passeios no Museu, tudo, tudo isso só me faz lembrar ainda mais o que ele fez pra mim, e pra minha mãe. Ela não levantou hoje nem para ir ao banheiro, Mel, eu não sei se consigo ver a minha mãe morrer a cada dia que passa mais, eu só quero morrer toda vez que ela não responde alguma pergunta minha. — Minha voz falha.

  — Oh querida eu não sei como posso ajudar você, eu sinto muito, muito mesmo Aida. — Sua voz é acolhedora, mas percebo que a essa altura ela também está chorando.

  — Me desculpa, eu não queria fazer você se sentir mal mel. — Digo rápido. — Eu já tô desligando, sinto muito.

PARA TODO SOFRIMENTO UM RECOMEÇOOnde histórias criam vida. Descubra agora