IV - Capitólio

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Quando entrei no aero me deparei com algo já esperado, era fantástico. Haviam poltronas macias de couro alinhadas em filas e com mesas que tinham comidas que pareciam ser um jantar para os novos integrantes das castas. Me sentei ao lado de uma dos quatro azuis que estavam nos acompanhando durante a viagem. Após alguns minutos, ouço uma voz dizendo para permanecermos em nossos assentos com cintos afivelados. Sinto medo nesse momento, pois nunca havia deixado o chão, depois do baque da aceleração do aero sei que a decolagem foi feita e que deixei o solo do meu antigo lar. Estou completamente exausta o que afasta minha fome, foi um dia tão longo e cansativo, tive que correr para não me atrasar mas mesmo assim me atrasei e depois tive que esperar por horas e ainda fiz mais testes. Encosto minha cabeça na poltrona e fecho meus olhos para descansar por um  momento e acabo dormindo. Durante o sono sonho com o lugar no qual havia ido durante meu teste, vejo aquela torre gigantesca que não sei como se chama. Acordo não sabendo direito por quanto tempo dormi mas quando acordei vi todos os novatos levantados de seus assentos, muito provavelmente já chegamos em nosso destino. Ligeiramente, tiro meu cinto e me ponho em pé o que é um erro pois logo me sinto tonta e volto a me sentar. Espero me sentir estável novamente e me levanto, agora pronta pra sair do aero e ver pela primeira vez minha nova morada. Quando meus olhos percorrem pelo exterior do aero me sinto encantada, são tantas luzes na minha frente que me deixam ligeiramente cega. De onde estou, que provavelmente é o Aeroporto do capitólio, da pra ver toda a extensão da cidade que era absurdamente grande, ouço alguns novatos falando que tem diversos prédios desocupados porque antes do afundamento ali existiam muito mais moradores. Desço as escadas e já estou no território da maior Província da república. Vinix, a coordenadora dos testes, chama a atenção de todos com um levante em sua voz dizendo: -Preciso da atenção de vocês. Todos se viram para ela e a aguardam continuar -Como vocês sabem, por alguns meses estarão na fase de treinamento onde aprenderão a dominar suas habilidades para melhor suprir a república. Vocês ficarão alojados nos complexos, que são espaços de socialização entre membros de castas. Durante o café da manhã ao amanhecer, vocês serão apresentados a sociedade. Agora vocês serão conduzidos pelas esferas. Outras informações serão dadas pelos instrutores que estarão aguardando vocês nos complexos.
Ela termina de falar e eu olho para o meu lado, avistando um tipo de aéreo que ela chamou de esfera. É um veículo que eu nunca havia visto, quase completamente esférico com exceção em sua base que parecia ter alguns propulsores. Era extremamente tecnológico, comparada as vans que usam para levar os brancos para os institutos. Alguns azuis chamam os novatos para entrarem nas esferas e eu começo a caminhar ate uma delas, vejo que Carolina esta indo em direção à mesma esfera que eu, não consigo controlar o sorriso por pensar que não estarei só. Para entrar na esfera temos que subir por pequenas e estreitas escadas que parecem estar flutuando, quase tropeço em uma pois o espaçamento ao meu ver é inadequado. Me coloco dentro daquele transporte e vejo Carol ja sentada, caminho para me sentar ao lado dela naquele espaço com assentos que  formam um círculo. Carolina, como sempre, estava desatenta. Assim, quando me sento a chamo: -Carol?
Ela me olha de forma animada e diz:           
- Lucyyyy, achei que não veria você até chegarmos lá.
Nesse momento o aero parte, saindo do chão e sinto o baque do aero; então respondo pra ela: -Não deu pra te responder enquanto estávamos esperando para entrar no aero, mas eles disseram que eu sou amarela.
Carolina assume um rosto confuso e diz: -Não sabia que existiam amarelos, devem ser raros.  O que vocês fazem?
Então eu penso um pouco pois nem eu entendo direito o que faço e digo: -A coordenadora dos testes disse que é algo relacionado a liberar energia e tal.
Ela parece estar animada e diz: -Então você provavelmente vai trabalhar em alguma usina, não me parece ruim esse trabalho.
Penso em mim trabalhando produzindo energia pro resto da vida e digo: -É mesmo, não parece tãão ruim. E você, pertence a qual casta?
Seus olhos brilham e ela diz:- Sou uma roxa,  posso fazer várias coisas legais com o meu corpo, olha isso.
Então ela, balança a mão em um movimento completamente estranho e me mostra seus dedos que agora haviam se transformado em lindas rosas roxas que estavam desabrochando, ela movimenta a mão, e pétalas começam a flutuar. Nesse momento fico completamente maravilhada com a demonstração. De repente uma vermelha com feição grossa olha para a mão de Carol e diz: -Habilidades devem ser reservadas para a conclusão de suas tarefas novata.
Carol que tem a pele clara se cora ao ser alertada por aquela vermelha, e esconde a mão com a qual tinha feito a rosa e as pétalas que estavam flutuando apenas somem.
Eu me viro pra ela e sussurro: -Achei incrível.
Ela olha pra mim e ri sussurrando de volta: -Obrigada!
Sinto meu estômago roncar, já que não comi nada desde ontem quando tive minha última refeição acompanhada de Natalie. O sentimento de fome é tomado por uma questão: Será que Nat sentirá minha falta?O que ela deve estar pensando agora?
Não acho respostas para minha perguntas que simplesmente somem de minha mente ao mesmo tempo que um dos 4 azuis diz: -Chegamos! A coordenadora dos testes passará mais informações para vocês. Agora podem descer!
Então me levanto, e caminho até sair daquela esfera. Olho para todos os lados e vejo um portão gigantesco que forma um muro ao redor de todos os complexos. Em cima de cada um dos complexos tem diversas bandeiras de Vazbrasa estendidas por toda parte. Mas o que realmente me chama atenção são as bandeiras das castas que são da mesma cor de cada uma que representam. Procuro uma bandeira amarela e não há nenhuma. Carolina aparece do meu lado e diz: -Onde você vai ficar? Não parece ter um prédio pra você.
Eu olho com expressão confusa e digo: -Não sei, deve que vão me colocar em algum dormitório diferente já que só tem eu de amarela.
Carolina diz de forma debochada: -Vão quebrar esse padrão arquitetônico de bandeiras e prédios e te colocar em algum quartinho? Acho que não, não parece com toda a "classe" dos Grandes.
Eu apenas rio dela.
Agora que todos haviam desembarcado, os instrutores haviam chegado. E também haviam chegado mais novatos, provavelmente de outros cantos de nosso país. Cada um dos instrutores era de uma das castas, todos vestidos como deveriam ser; a instrutora roxa estava com roupas divertidas referentes ao teatro, o azul com um terno justo que demonstrava respeito; um marrom com roupas mais casuais e que pareciam protegidas já que eles mexem com colheita e plantações. Todos como deveriam ser, mas não havia nenhum amarelo; e isso me deixa confusa já que eu tenho que ter alguém pra me dizer o que fazer agora. Os instrutores tomam em suas mãos um vidro como o do meu aplicador do teste e começam a fazer a chamada de novatos que deveriam se posicionar em fila a frente de seus instrutores. Minutos se passam e todos foram chamados, só eu resto naquele espaço que agora consigo olhar melhor. Era uma plataforma de pouso que ficava no centro de um circulo gigante que formava uma praça na qual tinha suas extremidades delimitadas pelos complexos. Sem esperar, ouço meu nome ser chamado e vejo Vinix, a coordenadora da minha faceta de testes. Ela vira para mim com uma feição matadora e diz debochadamente: -Até agora a pouco eu era coordenadora de testes e queria ser promovida pra um cargo melhor e agora fui designada para ser sua instrutora já que não existem mais amarelos.
Me sinto surpresa, não esperava ver Vinix tão cedo. Mas uso de toda arrogância e digo: -Não pensava que eles usariam azuis telepatas para serem babás.
Ela me olha com uma feição raivosa e diz: -Não teste minha paciência mocinha, eu posso piorar muito sua estadia no complexo.
Eu engulo seco a sua ameaça e digo: -Não vou. Mas e agora? Pra onde vou?
Vinix aponta pra um prédio um pouco mais afastado, sem bandeiras e aparentemente vazio e diz: -No começo de Vazbrasa, quando ainda existiam amarelos em treinamento, eles viviam lá.
Vinix então começa a andar em direção ao prédio e vira para mim e diz: Porquê esta parada? Vamos logo!
Eu atino para o que tenho que fazer agora e a sigo.
Todos os prédios do complexo são muito próximos, e pelo que notei um pouco mais afastado tem o campus onde estudarei. Quando chego a porta do meu complexo, olho para uma das paredes que é muito alta, com certeza deveria ter mais de oito metros. Nessa parede, havia um símbolo feito de algum tipo de pedra amarela em formato de orbitais que eu havia visto em alguma aula no Instituto branco, que se chamava átomo. Vinix percebe que eu estou olhando para o símbolo e me fala: -Esse é o antigo símbolo da sua casta, quando ainda eram chamados de nucleares. E ela continua dizendo: -Temos que fazer algumas reformas em alguns locais do prédio, a cobertura não deve estar em seu melhor estado e provavelmente há algum problema em mais algum lugar. Porém é aqui que você vai ficar, trarei alguns cinzas para consertar problemas. Os quartos dos novatos ficam no 1º andar, você pode ficar com o primeiro quarto.
Eu respondo calmamente: -Essas reformas podem ser feitas depois, agora eu preciso comer algo e descansar.
Ela olha para mim e diz: - Você não comeu no aero?
Eu digo lembrando da minha bobeira: -Não, estava muito cansada.
Ela tira uma barrinha do bolso de seu terninho e me oferece: -Coma nas horas que servirem, o campus esta fechado, como tudo aqui e você não vai poder sair pra comer algo. Mas essa barra vai te manter até amanhã.
Eu pego a barra e digo: -Obrigada!
Ela só assente e continua: -Então é só isso, suba até o primeiro andar e pegue o primeiro quarto que é o seu. Tem tudo que você vai precisar lá, roupas, sapatos, toalhas e outros; Irei subir para o apartamento do instrutor.
Ela então entra em um elevador e eu fico me perguntando se é confiável, já que de acordo com ela muitas coisas precisam de reforma.
Eu olho ao meu redor e subo as escadas, percebo que esta tudo limpo e penso que tiveram trabalho nisso, já que me descobriram hoje e já tem muitas coisas prontas para mim. Há um lustre gigantesco no mesmo formato que o símbolo da casta amarela no meio da sala de entrada. Uma coisa que percebi no pouco tempo que tive contato com os grandes é que tudo para eles tem que ser esplendido, tudo tem que demonstrar como são poderosos, e isso me deixa desconfortável. Chegando no 1º andar, vejo uma porta que tem o numero um e a abro, ao entrar vejo um quarto maior do que o meu antigo. No quarto tem uma cama grande, um armário embutido na parede totalmente branco mas que percebo que é de madeira, tem alguns nichos nas paredes e em cima de uma mesinha tem algumas roupas e toalhas. Olho para o lado e vejo a porta do banheiro, quando entro percebo que ele é muito parecido com o do ITB, muito glamouroso. Nesse momento eu sinto que preciso de um banho e apenas retiro o meu uniforme branco e desprendo meu cabelo, vendo no espelho meu corpo que é simplesmente "normal". Meus cabelos estão baguncados por terem ficado presos em coque o dia inteiro, mas não me importo com isso; já meu rosto aparenta estar cansado e minha pele escura tem marcas de cansaço. Entro no box e ligo o chuveiro, quando a água toca em mim sinto que está muito quente e corro para mudar,porém não entendo aqueles botões e vou testando um a um até encontrar uma temperatura que me agrade. Após minha pele quase torrar no banho, saio e me enxugo com a toalha que já estava no quarto. Visto uma roupa que já estava ali também, era um pijama formado por uma camiseta de manga longa branca com detalhes amarelos e um short curto com detalhes amarelos. Depois de me vestir, me jogo na cama para descansar desse dia que foi extremamente longo. Olho ao meu redor, para dar mais uma analisada no quarto e vejo que em cima da mesa havia uma plaquinha como a dos instrutores. Me levanto e vou até ela para olhar, quando a toco materializasse um holograma de uma pessoa que eu nunca havia visto é começa a dizer: -Olá, sou sua assistente e irei te informar seus horários, alertar sobre problemas, fornecer notícias e outras coisas. Para ativar utilize controle de voz.
Me assusto com isso mas quero saber o que terei que fazer amanhã, então falo apenas: -Qual é o horário para amanhã?
O pequeno holograma me responde dizendo:- Café da manhã às 08:00.
Inicio das aulas de história da casta amarela às 09:00.
Início das aulas introdutórias a ordem às 12:00.
Almoço às 13:00.
Início das aulas sobre produção de energia e suas aplicações 15:00.
Treino prático de habilidade 16:00.
Jantar as 19:00.
Informações sobre espaços usados para os treinos serão dadas posteriormente pelo instrutor.
Logo que o holograma termina penso que amanhã será um dia lotado e não me sinto confiante nesse treino prático no qual terei que testar minhas habilidades. Fato é que ao contrário da Carol não sei o que posso fazer com meus poderes, não sei como fazer e espero que Vinix me ajude a conseguir ser boa nisso. Só deixo aquele holograma para trás e volto a me deitar, estou exausta e faminta. Nesse momento me lembro da barra que Vinix me deu e corro para pega-la que estava no bolso da calça que eu usava; que no momento estava jogada no chão. Pego a barra e a abro, e já dou uma mordida, tem um sabor estranho e então olho de que é feita essa barra. Está escrito na embalagem que é uma proteína de pato. Nunca havia comido pato na minha vida, apesar do sabor ser estranho saciou parcialmente minha fome. Depois de comer, só me jogo de novo na cama decidida que dessa vez irei dormir, e me lembro dos olhos de Natalie, e entendo que eu nunca vou esquecer quem ela foi na minha vida. Apesar que agora, vivendo no capitólio eu nunca mais poderei ver ela; nesse momento uma lágrima solitária desce pelo meu rosto e encontra abrigo no edredom da cama. Cansada demais para pensar no resto, deixo a exaustão me levar e assim pego no sono.

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⏰ Última atualização: Jun 29, 2020 ⏰

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