Salem, 1692.POV Camila
Medo era o que circulava em minhas veias, as ardentes chamas consumiam o corpo frágil da mulher em minha frente, seus gritos ainda eram presentes, a multidão enfurecida abaixo do trono, meu pai, como um bom rei, vibrava a cada expressão de dor vinda da prisioneira; sádicos, era isso que eram. Seus crimes foram classificados como bruxaria. Era de costume capturar mulheres não condizentes com os padrões, qualquer que fosse sua heresia, eram jogadas ao fogareiro em praças públicas. Seus cabelos já tomados pela brasa eram de um marrom claro, quase mel, seus olhos que encaravam um povo enfurecido tinham a cor do mar, lembro-me bem de repara-los quando encontraram os meus por breves segundos antes das chamas lhe tocarem a pele, foram brilhantes até o último suspiro. Sua pele era clara e suas vestes indicavam que era apenas uma camponesa que teve a infelicidade de cair nas mãos erradas, mais uma vida estava sendo tirada por puro capricho de uma lei de homens que eram covardes o suficiente para não desafiar a igreja, essas serviam apenas para que o masculino fosse enaltecido, deixando completamente o feminino a mercê de suas vontades, acreditavam ser os únicos com poder o suficiente de representar Deus no reino, se achavam os próprios deuses de poder incalculável. Sempre fui cristã, desde criança meu pai me ensinou os dogmas da igreja e a frequentávamos todas as quartas e domingos, mas ali havia algo que eu não conseguia entender, questionamentos como “O que era uma bruxa?”. “Quais suas características?”. “Por que é considerada uma aberração?”. “São sempre mulheres?”. Nunca obtive respostas. Meus olhos corriam por todos os rostos ali presentes, gravava feições e gestos nos quais poderia facilmente me lembrar, ali, em meio a tantos, encontrei uma figura feminina que logo me chamara à atenção, não esboçava reação nenhuma para a atrocidade cometida em sua frente, observava de longe todo aquele caos instaurado, seus cabelos eram longos e pretos, sua pele branca como a neve e se pudesse enxergar bem, seus olhos também tinham a cor do mar, trajava um espartilho da cor vermelho sangue que lhe apertava o busto suavemente, suas longas saias eram da cor preta que traziam um ar obscuro a sua presença, sua capa também preta lhe cobria metade do cabelo e rosto. Nossos olhares se conectaram e tão rápido quanto o choque, fora sua saída do local. Levantei-me de meu trono inventando uma desculpa qualquer para meu pai, que nesse momento estava mais interessado em acompanhar todos os passos daquela execução, saí em passadas disparadas em direção à mulher de capa preta, algo em suas atitudes havia me despertado um interesse súbito de saber quem era e o porquê saíra tão rápido ao perceber ser notada, sua atitude me era suspeita, não para que envolvesse a guarda, mas que me levasse a segui-la até onde conseguisse. Corri o mais rápido que pude para vê-la virar a esquina em passadas tão rápidas que não fui capaz de acompanhar, com a respiração ofegante me dei por vencida, ainda saberia quem era a mulher de olhos verdes que fugira mais rápido de mim do que o diabo foge da cruz.
Me distanciei da praça onde acontecia aquela algazarra, meus pensamentos confusos estavam me torturando, odiava ficar sem respostas, em meu íntimo desejava que aquela mulher pudesse voltar e me explicar o magnetismo que prendia meus pensamentos em si sem que eu pudesse realmente entender. Decidi que voltaria ao castelo, meus devaneios e meu corpo ansiavam um banho quente. Adentrei as grossas portas de madeira rústica que compunham o ambiente, a sensação de lar que me preenchia se dava pela arquitetura; os assoalhos de madeira maciça, as grandes esculturas e pinturas de artistas regionais que nos presenteavam; a grande lareira sempre acesa no inverno, a enorme coleção de livros de meu pai, esta que sempre me trouxe muita curiosidade sobre o que continha, nunca pude ao menos saber quais obras a compunha, sempre cheio de segredos de estado. Subi até meus aposentos, o suave cheiro de café que exalava me deixava extasiada, sempre fui uma pessoa reservada, meu quarto era onde me sentia segura, ali não havia traições, não havia sangue e muito menos guerra, desde bem nova meu pai me preparavam para assumir o grande trono, que honestamente não tinha vontade nenhuma. A banheira na temperatura ideal me era convidativa, a exorbitante coleção de sais de banho ao lado compunham todo o cenário propício para que me perdesse em pensamentos.
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The Witch Of Salem
FantezieSalem, 1692 Camila se vê dividida entre seu reino e seu amor, ela estaria disposta a lutar por suas convicções ou aceitar o seu destino que lhe fora imposto? Havia se apaixonado por Lauren, a bruxa condenada pela prática de heresia, esse amor poderi...