Os Dias de Julgamento

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De pé ao lado de uma das muitas colunas de mármore entalhadas do Salão do Trono, Shisui Uchiha se perguntou se algum dia passaria a apreciar os Dias de Julgamento. Como Capitão da Guarda Élfica, era seu dever estar presente em todas as ocasiões, garantindo a proteção da família real e de seus descendentes. Porém, como jovem impetuoso que era, considerava aquela uma tarefa tediosa e interminável.

Ao menos uma vez na semana, era papel do Rei dos Elfos de Konoha intermediar os conflitos que surgiam nos mais diversos pontos do reino, ainda que estes tratassem apenas de uma ovelha roubada e um cercado destruído. As pessoas iam até o castelo e subiam a lendária escadaria e seus cem degraus em busca de justiça e a recebiam diretamente das mãos do soberano cuja palavra final era Lei e nada além dela poderia desfazer a decisão.

O Sol já estava quase a pino quando o jovem Capitão disfarçou um bocejo enfadado. Ele estava acordado desde o romper da aurora, conferindo todos os detalhes da segurança para aquele dia. E agora, se encontrava parado lá na mesmo posição por cinco horas seguidas. Seus ossos estalavam e ele agradeceu a brisa fresca que entrava pelas enormes portas duplas de carvalho, tocando gentilmente seu rosto com o frescor da primavera. A armadura interna era de couro flexível e confortável, mas as placas externas de metal sobrepostas no tronco, braços e pernas o faziam suar. Ele tocou o punho da espada pendurada em sua lateral em busca da segurança que a ação o transmitia e olhou em volta, para a fila que parecia não ter fim até o palanque alto onde os tronos moldados em prata e cravejados com diamantes estavam posicionados, investigando as expressões dos presentes e buscando por ameaças ocultas.

Não havia nada. Tudo estava tão monótono quanto estivera cinco minutos atrás.

Shisui deixou o olhar pesar sobre o Rei Madara Uchiha, em suas sedas escuras e rosto frio diante os pedidos, não havia nada ali que demonstrasse cansaço ou enfado. Ele precisava admitir que o monarca tinha uma postura bastante régia no momento, os olhos focados no rosto do homem curvado diante de si, o cabelo caindo nas laterais e ocultando as marcações da linhagem nos cantos de seus olhos, a boca apertada em uma linha firme e atenta. A imagem de um governante poderoso. Seus olhos passaram para o príncipe herdeiro, Itachi Uchiha, sentado ao seu lado cuja expressão era um espelho da que seu tio exibia. Com as costas retas e o rosto sereno não era de se surpreender que boa parte dos olhares femininos se dirigissem a ele — bem como alguns masculinos — entrecortados por risinhos e rostos vermelhos desviados.

O Capitão segurou a vontade de revirar os olhos e se concentrou em manter a postura e ignorar o fato que o herdeiro estava especialmente bonito aquele dia, em seu quimono cinza-claro bordado com fios de ouro, com os compridos cabelos negros como uma cortina ao redor do rosto de pele clara segurada no lugar pelo arco prateado em sua testa. Shisui não sabia se era algo relacionado a genética familiar ou apenas uma benção da Deusa de Três Faces, mas chegava a ser injusto que alguém pudesse ser tão bonito assim. Ele pensou, não pela primeira vez, na própria pele bronzeada e marcada por cicatrizes pelos longos anos de treinamento, os cachos revoltos cortados curtos, e em como suas orelhas eram apenas levemente pontudas e sem graça, que apenas o demarcavam como alguém comum e sem importância.

Shisui havia chegado ao castelo aos dez anos de idade, ainda abalado pela morte súbita da mãe e chocado com o peso do enorme segredo que ela por fim lhe confessara em seu leito de morte. Em seu último suspiro, a mãe lhe confidenciara quem era o seu progenitor que por tantos anos ela se recusava a mencionar. E qual não foi sua surpresa ao descobrir que seu pai era um dos generais da família real Uchiha, a qual desde o início dos tempos governava aquele reino.

Naquele dia em que os guardas fortemente armados apareceram em sua porta para levá-lo ao seu novo lar no palácio, tudo que ele pudera fazer além de segurar as lágrimas fora apertar firme o anel de ferro moldado na forma de um corvo em seu dedo — o único objeto que tinha para lembrar da mãe após perderem tudo no incêndio que havia destruído sua casa e tudo que possuíam com ela — e caminhar de cabeça baixa até o luxuoso palácio envolto pelo Rio Naka. Ele estava tremendo quando encontrou o pai pela primeira vez, mas jurou nunca mais o fazer ao ouvir o sussurro reverberante dos guardas como uma ladainha em seus ouvidos: "Mestiço, mestiço. Vergonha para a linhagem."

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⏰ Última atualização: Jul 04, 2020 ⏰

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