Capítulo I - Adelsö

43 1 0
                                    

A chuva batia nos telhados metálicos lá fora, entre o canto de alguns pássaros que insistiam em deixar o vento frio levar seus chamados até os sete cantos do mundo. Algumas das gotas dos céus alvejavam diretamente num pedaço do telhado da garagem que estava meio solto - fazia um barulho mais agudo que os outros. Ficava bem do lado do banheiro, então dava pra ouvir bem.
Algumas bolhas agitam a superfície da água da banheira. No fundo, um rapaz prendendo a respiração.

Ele então sobe, colocando-se sentado. Respirava fundo. Põe os cabelos loiros para trás, tirando-os do rosto. Boa forma de finalmente acordar, nesse dia frio. A água morna era sedutora, nesse exato momento pensava que jamais conseguiria se levantar de lá. Precisava se esquentar, não se sentia bem quando chovia demais. Era sensível, por assim dizer, ao frio. Ri com o pensamento. Morava do lado de um lago, amava nadar. O problema não era se molhar. O problema era o clima, que quando esfria faz o corpo querer hibernar. Gostava de dias quentes, quase infernais. Gostava de queimar em pura energia. Finalmente sai da água.

Coloca suas roupas enquanto escova os dentes. Nada além do usual. Camiseta, jeans. Ia para a aula, no fim das contas. Ao terminar, passa rápido no quarto, colocando sua velha e grossa camisa vermelha de botão - que um dia foi de seu pai - e a mochila de couro nas costas, com todo seu equipamento dentro. Equipamento de pesca. Assim que saísse daquele inferno, pretendia pedalar até Svinsundet e se aproveitar dos pobres peixinhos que ficavam agitados na chuva. Era o plano perfeito. Tobias talvez fosse. Iria insistir. Vamos Tobias, ele diria, ou você vai perder as maiores trutas da estação. Sorri com a ideia. Desce rápido as escadas, enquanto o cheiro de café entra por suas narinas. Não estava com fome, mas passa na cozinha.
Era um cômodo pequeno, apesar da casa ser maior que o usual entre as outras casas dos ranchos da região. Tinha louça acumulada na pia, e cheiro de cigarro pairava no ar. Na porta da geladeira, algum tipo de recado, provavelmente deixado pelo seu pai. Os balcões desarrumados indicavam um café da manhã recém preparado. Além de tudo, via as costas de seu pai na frente do fogão. Cheiro de presunto grelhado, barulho de gordura na frigideira. De repente, sente fome. Deixa a mochila cair do lado da cadeira, que logo é ocupada.
- Pai - Cumprimenta, anunciando que estava no cômodo.
- Bom dia, Erik - Ele olha por cima dos ombros, dando um sorriso gentil, que é retribuído pelo garoto. Joakim era uma versão sua mais velha, beirando os 40 anos. Cabelos loiros, olhos escuros com rugas de riso nos cantinhos. Barba um pouco por fazer. Oclinhos pousados na ponta do nariz, pois preferia olhar por cima das lentes, mesmo sendo míope. Ajuda a concentrar, ele diz.
- Presunto?
- Por favor! - Sua barriga roncava.
Já terminava de colocar umas boas fatias de queijo dentro do que em breve seria um bom sanduíche.
- Cuidado com a panela - Erik se afasta um pouco pro lado direito, deixando seu pai se aproximar e, com um garfo, colocar as duas fatias de presunto no prato.
- Obrigado, pai - Segue arrumando o sanduíche - Isak tá em casa?
- Teve que sair mais cedo. Recebeu uma ligação e foi correndo pro Loop.
Faz um som baixo de compreensão, enquanto devora o pão em suas mãos. Seu pai, Isak, andava ocupado. Sempre no trabalho. Mal se lembrava da última vez que tinha o visto descansar em casa. Mal se lembrava a última vez que tinham passado tempo juntos.
- Quer uma carona pra escola? - Ele colocava uma fatia de presunto, que tinha descansado num prato ao lado do fogão, na boca. Volta a olhar para Erik -Tá chovendo, eu te levo.
Gostava da ideia.
- Pode ser... Dá pra levar a bike?
- Sempre dá... Olha..- Checa o relógio - Estamos um pouco atrasados. Vou colocando a bicicleta no carro, tá?"
Desencosta-se da bancada e anda a passos largos até fora da cozinha. Dá pra ouvir ele colocando uma capa de chuva e calçando as botas. A porta se abre e fecha.

Nem estavam tão atrasados assim. Talvez tivesse exagerado no tempo de banho, mas nada demais. Termina o sanduíche e deixa o prato na pia. Ia deixar assim mesmo, mas vendo a pequena pilha de louça acumulada, acaba lavando rapidamente. Lava um ou outro copo - coisa rápida - antes de se calçar e pegar sua capa de chuva.

Contos da Cidade Das Torres - Livro I - Caos Dos Filmes De TerrorOnde histórias criam vida. Descubra agora