wangxian - aceróla

WangXian - Morpho

O jovem tigre mastigava suas sementes abaixo de uma copa fechada de acerolas, recolhendo os frutos azedos entre os dentes e jogando seu caroço de volta no solo. Sozinho, outra vez, acompanhado somente do sol poente.

Não muito longe, entre os arbustos, um lobo de pelo negro estreitava um casal de coelhos, um branco e um preto, acasalados entre os próprios pelos. Atiçando a sede por diversão daquele lobo de espírito livre. Ele observava de cabeça deitada, cutucando os bumbuns peludos e seus pompons com um graveto. Ambos os coelhos, seriamente incomodados, ralhavam sem medo, irritadiços e chateados por terem seu momento íntimo interrompido.

O lobo sorria divertido e levado por um impulso, agarrou o coelho branco e enfiou o rosto na sua barriga, carinhosamente esfregando-o ali, feliz.

De fora, vendo um arbusto tão barulhento e inquieto, o tigre albino se sentiu acuado; "quem viria a uma parte tão afastada apenas para fazer tanto barulho?!", aquele era seu lugar de descanso, afinal.

Se levantou, puro e gracioso, de rosto fechado. Seus cabelos eram cor tinta e haviam duas orelhas felpudas no alto da sua cabeça. Quando se aproximou, observou por um tempo uma bela cauda escapando da cira: preta, com certos detalhes em cinza e branco. Sem esperar muito, ele simplesmente pisou, curioso e obstinado.

O lobo que se divertia até então ficou estático, rosnando levemente contra a barriga gordinha da sua vítima. Pensou um tanto antes de enfiar as belas criaturinhas peludas nas suas vestes e então se levantar do gramado, procurando a alma sem coração que havia pisado na sua bela cauda.

O tigre continuava parado, se assustando um pouco pelo tamanho daquele lobo, mas mantendo a impressão, lambendo casualmente entre as garras sujas de fruta. Por ser ainda tão novo sua transformação não era completa e seus hábitos não mudaram tanto naquela forma semi-humana. Não que ele quisesse mudar, apreciava o modo tradicional de viver.

— Oh! Um filhote de gusu! — O lobo exclamou, encantado por encontrar o pequeno. — O que você faz aqui, mn? não é muito novo para estar longe dos pais? — falou enquanto tocava as orelhas brancas do felino; em troca, recebendo quatro belos rastros de sangue nas costas da mão, ninguém nunca lhe havia machucado tão casualmente em tão pouco tempo. — Por que me arranhou?!

— Não me toque. — sua voz soou baixo e o tigre finalmente tirou o pé da cauda alheia. — Devolva.

— O quê? — ficou confuso no entanto, 'devolver' o quê, exatamente? — O que quer dizer?

— Meus coelhos. Devolva. — ele era um tigre, mas o lobo achou que soava como um robô.

— Eh? Mas nós fizemos amizade!! — dentro do seu robe os coelhos gritavam de toda a sua garganta por ajuda, se remexendo. Bolinhos de roupa pra lá e pra cá.

— Meu.

— Certo, certo. Eu vou te dar os seus coelhos, mas pra isso você precisa se desculpar por pisar na minha cauda! — exigiu de queixo erguido, uma cauda pisada é um orgulho ferido.

Silêncio...

— Então nada de coelhos pra você.

— Desculpe.

— Ah, você é tão obediente.

— Mn.

Rindo alto, arrancou as bolas de pelo do seu peito, entregando ao garoto. — Agora me diga seu nome, pequeno tigre.

Outra vez silêncio. WangJi fingia distração, verificando seus coelhos.

Aquele jovem era realmente complicado, não que o lobo se importasse muito, mas era estranhamente divertido mexer com o outro; com certeza viria mais vezes.

— Bem, se não vai dizer agora então eu volto amanhã e você me diz. O que acha?

— Não.

— Eu vou voltar de qualquer jeito, não sei por que pedi sua permissão. — e rio novamente.

— Lan WangJi.

— Prazer, Lan WangJi. Eu sou Wei WuXian...

...vamos ser amigos futuramente.