Juncos

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Sabe aquele momento em que você mais gostaria de apagar de sua vida? Que fizesse sumir de sua mente, ou que você simplesmente pudesse trancafiá-lo em um canto escuro de seu subconsciente e nunca mais ter o prazer, ou desprazer de se deparar com ele? Mas ao mesmo tempo, se você extirpar esse momento de sua vida, de suas memórias, você estaria riscando grande parte da realização de um sonho que tanto batalhou para alcançar?

O momento ao qual eu me refiro, se diz respeito a uma única pessoa, mas precisamente quando esta fez a minha admiração se tornar algo que, exatamente, não sei bem como denominar. Inveja? Amor? Adoração? Sinceramente, não sei ao certo. Só sei que todas às vezes que meus olhos pousavam sobre ele, eu me sentia absurdamente inferior.

Eu nunca conseguiria alcançá-lo. Ele era surpreendentemente superior a mim em tantos aspectos, que só de pensar em numerá-los, meu peito se comprime.

Suas palavras são sempre firmes, determinadas, seu jeito sério, atos firmes, uma postura que intimida. E apesar de tudo isso e mais um pouco, entre os amigos ele é a pessoa mais incrível que eu já conheci.

Chego a compará-lo a um barco, grande e imponente. Aproveitando a brisa do mar e se deixando navegar perfeitamente, enfrentando águas escuras e ondas enfurecidas. Eu, perto dele, era meramente uma pequena embarcação, que se via muitas e muitas vezes incapaz de acompanhá-lo.

É assim que me sinto. É assim que me vejo desde do dia que descobri que a tão dita admiração que eu sentia por ele, evoluíra para desejo, e posteriormente para amor. E esse amor me fez enumerar tantas outras coisas nele que apenas nos distanciavam mais e mais; me impedindo até mesmo de contar a ele sobre os meus sentimentos.

E isso já se perdurava por tanto tempo... Simplesmente eu não conseguia reverter isso. Não conseguia deixar de colocá-lo em um nível superior. E a cada palavra de adoração que ouvia os outros direcionando a ele, mesmo que meu rosto abrigasse um sorriso marmorizado, meu peito se contorcia. Eu não conseguia determinar o porquê, mas de uma coisa eu tinha a mais cruel das certezas... Eu era um maldito masoquista.

“Hey, Pequeno, o que foi, você está tão distante... Estou te chamando já tem um tempo!”.

Tenho que piscar algumas vezes para voltar à dura realidade, logo encarando à minha frente olhos escuros a me fitar de forma curiosa, e somente uma palavra martela em minha mente... Pequeno...

Ah se ele soubesse que era justamente assim que eu me sentia em relação a ele... Tão pequeno, tão inferior...

“Nada não, Tora-kun, estava apenas com o pensamento longe, mas continue o que você estava dizendo, por favor...”. E em meu rosto, um sorriso já ensaiado brotava em meus lábios, enquanto travava uma batalha interna para segurar a imensa vontade de chorar que me invadia.

Nós dois éramos juncos, e mesmo que navegássemos nas mesmas águas, eu nunca conseguiria alcançá-lo!

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